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Larissa Almeida
Publicado em 30 de outubro de 2023 às 19:19
Na ladeira que dá acesso ao Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, um pequeno engarrafamento de veículos, na tarde desta segunda-feira (30), anunciava previamente a grande quantidade de pessoas que estavam reunidas para dizer o último adeus a cantora e pastora Sara de Freitas Souza Mariano, 35 anos, que foi encontrada morta e carbonizada na tarde da última sexta-feira (27), à beira da BA 093, na altura de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. >
Sob gritos por justiça, orações e aplausos, familiares, amigos e conhecidos carregaram o caixão com o corpo de Sara até o local do seu sepultamento. Antes, o velório mobilizou e emocionou todos os presentes, que expressaram revolta e tristeza pela morte da pastora, e pediram pela condenação do marido e produtor Ederlan Mariano, que confessou à Polícia Civil ter sido o mandante do crime que vitimou a esposa.>
Vinda do Maranhão para fazer o reconhecimento do corpo da filha na manhã desta segunda-feira, Dolores Correia foi amparada a todo tempo pela família. Sem se separar do caixão até o momento do sepultamento, ela deixou que suas últimas palavras diante dele fossem direcionadas ao céu e, só depois, à multidão ao seu redor.>
"Só está aqui o corpo, eu sei, mas eu creio que ela estava [aqui]. Eu não tenho mais nenhum argumento para falar. Eu só tenho a dizer que Deus está com todos nós, nos dando força. Se não fosse Deus, eu não estaria aqui, meus irmãos. Eu estou muito triste", declarou.>
Em Salvador desde domingo (29), quando chegou do Ceará, Soraia Correia, irmã de Sara, estava tão abalada que chegou a desmaiar no cemitério, segundo relato de amigos. À reportagem, ela também entoou os pedidos por justiça. "A justiça vai ser feita e a justiça de Deus já está sendo feita. Nós vamos conseguir fazer justiça pela minha irmã. Meu desejo agora é ter minha sobrinha do meu lado com a minha mãe", afirmou.>
A filha de Sara e Ederlan, de 11 anos, está sob guarda dos avós paternos. Segundo Dolores Correia, já houve tentativa de contato com eles no intuito de negociar a tutela da menina, mas sem sucesso. A família de Sara também tentou levar a criança para se despedir da mãe, mas não conseguiu liberação dos avós. >
Desolada com a situação, Dolores disse que vai lutar pela guarda da neta e guiá-la pelo caminho religioso, como a mãe. "Se a minha neta estiver nas minhas mãos, ela vai ser criada com Jesus Cristo. Ela vai ser uma grande missionária do Senhor. Era minha expectativa que ela estivesse nessa despedida, mas a mãe daquele malfeitor, que é outra malfeitora, não deixou", ressaltou.>
Além da família, amigos e membros de igrejas evangélicas prestaram homenagens a Sara. Pastora na igreja que ela frequentava na Estrada das Barreiras, há cerca de sete anos, Luciene Silva, 56 anos, lembrou com carinho da amiga que fez na vida religiosa. >
"Ela lançou o CD dela lá na nossa igreja. Ela gostava muito de cantar, era muito feliz, se dava bem e conversava com todo mundo, sempre muito alegre. O carinho que ela tinha pela filha dela era enorme. Era muito querida. Recebi a morte dela e fiquei muito triste, até agora estou sem acreditar", disse.>
Outras mulheres de igrejas evangélicas aproveitaram a oportunidade para levar cartazes pedindo o fim da violência doméstica contra a mulher e enfatizando a necessidade de o assunto ser levado às igrejas. "A morte dela veio em outubro, mês em que existe uma campanha voltada para o cuidado da mulher. Isso não é ao acaso. É para mostrar que esse assunto precisa ser levado para as igrejas. Ela teve ajuda de muita gente para sair dessa relação, mas acreditava que o marido ia mudar. Ela orou, mas o monstro que existia nele falou mais alto. A gente, enquanto mulher, não pode aceitar isso", protestou uma das integrantes da igreja frequentada por Sara, que preferiu não revelar sua identidade.>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela >