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Coco verde: conheça o projeto de aproveitamento da casca na economia circular

Iniciativa de empresa alemã deve extrair celulose e nanocelulose de fibras do coco verde baiano

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 30 de maio de 2024 às 07:30

Danilo Hansen Guimarães, consultor da Green Coco Europe. Crédito: Ricardo Prado

Um projeto que utiliza a fibra presente na casca do coco verde como matéria-prima e/ou compósito para a criação de novos produtos tem a Bahia como destino de expansão. Com foco na economia circular, a iniciativa foi desenvolvida pela Green Coco Europe, empresa alemã que é especializada na produção de água e leite de coco, mas tem como objetivo o aproveitamento máximo da fruta. Durante o Encontro Mundial de Fibras Naturais, no fim da manhã desta quarta-feira (29), o projeto foi apresentado por Danilo Hansen Guimarães, consultor da Green Coco Europe.

“A gente não quer ficar só restrito a água e leite. É muito legal e interessante, mas entendemos que dá para extrair produtos de valor agregado da fibra, que já tem várias utilizações, como tecelagem, fabricação de tapete, manta, roupa. E toda fibra tem uma coisa em comum, que é a sua natureza clínica, seus constituintes estruturados, que é basicamente a celulose, m-celulose e lignina. Cada um desses tem valor, mas estamos focando agora na celulose”, conta ele.

O interesse na celulose se dá por conta da sua microestrutura, por meio da qual é possível extrair a nanocelulose, composto químico que, quando associado ao polímero, tem como característica a capacidade de deixá-lo mais forte e resistente. Assim, a nanocelulose encontrada na fibra do coco verde pode ser útil para as indústrias que fazem uso do plástico, que vai desde a têxtil até a automobilística, mas também para o meio ambiente, que vai sofrer menos caso haja um possível descarte do objeto na natureza.

“Por exemplo, uma cadeira de plástico é feita de um polímero que se chama polipropileno. O polipropileno puro consegue ser moldado no formato de uma cadeira, mas essa ela não vai aguentar o peso de uma pessoa. É preciso inserir alguma coisa nesse plástico para que essa cadeira fique mais resistente, então normalmente inserimos cal. O problema é que a cal é pesada e não faz bem à natureza. Quando inserimos a celulose, temos o mesmo efeito prático e, se por acaso esse plástico for jogado na natureza, a nanocelulose serve como meio para os agentes degradantes atacarem com mais eficiência esse plástico e degradar ele com maior rapidez”, explica Danilo Hansen.

Segundo ele, a empresa alemã tem como objetivo o escalonamento da produção de nanocelulose a nível industrial e, para isso, pretende contar com a casca do coco baiano para impulsionar a economia circular local. “Estava conversando com o parceiro de um grupo do Literal Norte e ele estava mostrando as montanhas de coco que existem lá, porque as pessoas produzem água e não fazem nada com o restante do coco, jogam em um aterro. O coco tem um terço de casca, um terço de água e um terço da fibra. Então, estão jogando fora mais da metade do produto. A economia circular vem com a deia de utilizar tudo que é possível na fibra”, ressalta.

Uma vez que a casca do coco atualmente configura custo para quem produz, com esse novo uso proposto pode haver a transformação do que era lixo em lucro. De acordo com o consultor da Green Coco Europe, é possível fazer com os resíduos do fruto gerem uma receita seis vezes maior do que o seu produto principal atual e impacte positivamente a renda dos produtores.

“Se você agrega valor a fibra que era considerada um lixo, obviamente isso vai impactar diretamente o produtor, que é o agricultor familiar. Então, eu tenho certeza de que a partir do momento que a fibra tiver um valor maior do que ela tem hoje em dia, vai ter muito mais agricultores familiares interessados em produtos de coco”, projeta.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro