Cerca de 15 mil pessoas foram picadas por animais peçonhentos na Bahia

Feira de Santana, Irecê e Vitória da Conquista lideram a lista das cidades com mais ocorrências

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 19 de julho de 2024 às 07:00

Centro de referência recebeu 11 mil ligações no ano passado Crédito: Shutterstock

Ainda estamos em julho, e 14.927 pessoas já foram picadas por animais peçonhentos na Bahia. Em 2023, foram 31.774 casos. Os escorpiões lideram a lista, sendo seguidos por ataques de serpentes, abelhas e aranhas. Feira de Santana, Irecê e Vitória da Conquista são os municípios que mais registraram ocorrências este ano. Especialistas recomendam buscar ajuda o mais rápido possível.

Toda vez que alguém é picado por um animal peçonhento e corre para uma unidade de saúde, se nesse local não tiver um profissional especializado, ele vai entrar em contato com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA). A unidade orienta médicos, enfermeiros e a população em geral a como proceder em casos de envenenamento. O serviço funciona 24h, através do telefone 0800 284 4343. No ano passado, foram 11 mil ligações. Os dados deste ano ainda não foram divulgados.

O diretor da unidade, Jucelino Nery, explica que queimadas, desmatamento, falta de saneamento básico e mudanças climáticas influenciam em qual animal peçonhento mais pica pessoas. Isso porque o uso de agrotóxicos é um fator que tem provocado o deslocamento dessas populações do habitat natural para as cidades.

"Existe uma série de mitos e que muitas vezes contribui para o agravamento do envenenamento, o paciente pode acabar se intoxicando ou facilitando a ocorrência da infecção. No caso de serpentes, por exemplo, as pessoas ainda acham que deve amarrar o local da picada, fazer corte ou chupar. Nada disso é recomendável. O local deve ser lavado com água e sabão, apoiar em uma almofada e buscar o mais rápido uma unidade de saúde", explicou.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), foram 10.504 ataques de escorpiões este ano, seguindo por serpentes (1.844 casos), abelhas (1.055 casos) e aranhas (605 casos) em 2024. 

O Ciatox também acompanha a investigação das ocorrências, como a de Morro de São Paulo, na semana passada. Um turista morreu depois de ser picado por um animal ainda não identificado.

O especialista explicou que, quando o paciente não sabe informar qual animal ou inseto provocou a picada, os profissionais de saúde analisam o quadro clínico e fazem exames para identificar a causa do problema. Atualmente, 232 unidades de saúde têm soros específicos para tratar envenenamento na Bahia. A distribuição leva em consideração as especificidades de cada região. Na Chapada Diamantina, por exemplo, não é mantido soro de Surucucu, porque é uma serpente da Mata Atlântica.

"Existem animais que têm um quadro clínico bem característico. No caso das Cascavéis e das cobras Corais as vítimas apresentam queda das pálpebras e a musculatura da face fica flácida. Já a Jararaca provoca edema e dor muito intensa. Quanto maior o tempo, maior a gravidade. Além disso, as informações que o paciente traz também são importantes", explicou Nery.

Contexto

Entre outubro e março, o número de picadas de animais peçonhentos aumenta, porque o calor deixa os bichos mais ativos, as chuvas de verão provocam o deslocamento deles e o período de férias intensifica a circulação de pessoas. Os escorpiões são os principais vilões, porque se reproduzem mais rápido que serpentes e aranhas e conseguem se adaptar mais facilmente ao ambiente doméstico. 

A ajudante de cozinha Isabel Nunes, 41 anos, passou por esse sufoco. "Estava visitando uns parentes no interior e tinha um escorpião no canto da parede. Eu só percebi quando senti a picada. Foi uma agonia retada. Fomos correndo para o hospital e por sorte a gente chegou rápido, tinha a medicação, mas eu precisei ficar em observação", contou.

O município de Feira de Santana, no centro-norte do estado, é o que mais registrou pessoas com picadas de animais peçonhentos na Bahia. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), foram 424 ocorrências este ano, a maioria, 316 casos, foram vítimas de escorpiões. Na sequência aparecem aranhas (27 pacientes), serpentes (26) e abelhas (16). Houve também 31 situações em que o animal responsável pela picada não foi identificado.

A lista das cidades com maior número de ocorrências tem um empate na segunda posição, porque Irecê, no centro-norte, e Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, registraram 333 casos cada uma. Depois dos escorpiões, em Irecê os animais peçonhentos com mais registro de picadas foram as abelhas (84), enquanto em Vitória da Conquista são as serpentes (15) que preocupam mais.

O Ciatox é o terceiro centro de referência do país e o primeiro do Nordeste a entrar em operação. Ele foi criado há 44 anos como um setor dentro do Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador, mas desde 1999 é uma área independente. O Centro fica no segundo andar do prédio anexo e 50 profissionais atuam orientando a população e outros profissionais de saúde a como lidar com casos toxicológicos, seja por picada de animais e insetos, seja por ingestão de produtos químicos ou medicamentos.

Confira as picadas mais comuns em 2024:

⦁ Escorpião - 10.504 acidentes

⦁ Serpentes - 1.844 acidentes

⦁ Abelhas - 1.055 acidentes

⦁ Aranhas - 605 acidentes

⦁ Lagarta - 118 acidentes

*Fonte: Sesab/Divep/CIATox/Sinan, com dados de 2024.

Veja os municípios com maior número de ocorrências:

⦁ Feira de Santana (424 casos)

⦁ Irecê (333 casos)

⦁ Vitória da Conquista (333 casos)

⦁ Jequié (224 casos)

⦁ Camaçari (188 casos)

⦁ Santo Estevão (184 casos)

⦁ Euclides da Cunha (163 casos)

⦁ Seabra (152 casos)

⦁ Polões (146 casos)

⦁ Barreiras (134 casos)

⦁ Jaguaquara (133 casos)

⦁ Macaúbas (130 casos)

*Fonte: Sesab/Divep/CIATox/Sinan, com dados de 2024.