Centro e Liberdade têm a maior concentração de pessoas em situação de rua de Salvador

Mais de 700 pessoas dormem regularmente nessas áreas, aponta Censo das Pessoas em Situação de Rua de Salvador

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  • Larissa Almeida

Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 07:00

Pessoas em situação de rua recebendo doações das Obras Sociais Irmã Dulce, no Centro Histórico Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

As regiões do Centro e Liberdade têm a maior concentração de pessoas em situação de rua de Salvador, segundo o Censo das Pessoas em Situação de Rua de Salvador, divulgado na manhã de segunda-feira (8). No mapa do estudo, a maior incidência de pessoas que dormem nas ruas é indicada no Centro e Barris, que contam com 589 sem-teto regulares todas as noites. Na Liberdade, esse número representa 84 pessoas.

De acordo com Lucas Vezedek, técnico em atividades educacionais do Projeto Axé – iniciativa que, junto com a Prefeitura, realizou o Censo –, a população em situação de rua de Salvador está distribuída por todo seu território, mas se concentra com maior incidência sobre locais históricos.

“A concentração é no Centro Histórico e nessas partes da cidade que são historicamente conhecidas por um comércio e pela questão política. Tudo isso vai estar relacionado sempre com alguns precedentes históricos de ocupação desses bairros, que abriga pobres de baixa renda e que estão expostos a risco. O principal motivo de ida é procurar sustento, visto que é uma população que tem uma série de negação de direitos e que vão procurar trabalhos relacionados ao mercado turístico”, explica.

Esse é o caso de Elane Silva Santos, 33 anos, que está há aproximadamente dois anos vivendo nas ruas do Centro Histórico. Ela conta que, por não ter renda e casa própria, decidiu ganhar a vida da forma que encontrou. “Minha família não tem condição de alimentação e nem de convívio. A casa é deles, não é minha, então não dá para viver lá. Estou na rua em busca de dignidade que não venha deles. Estou no abrigo agora [...], sei ler, escrever e fazer conta. Vou lutar por um emprego, porque atualmente eu só peço ajuda”, afirma.

Para a cientista social Maria de Fátima Cardoso, professora da Unijorge e pesquisadora colaboradora do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (Lassos/Ufba), a busca pelas áreas centrais ocorre porque há maior facilidade em obter alimento e ser notado, já que mais pessoas passam por ali.

“O bairro da Liberdade e o Centro de Salvador são territórios com concentração comercial enormes e assim atraem muitas pessoas. Também nestas áreas centrais as organizações da sociedade civil, grupos religiosos e voluntários formam o que chamo, a princípio de ‘solidariedade humanitária’ e inciativas do poder público. Esses grupos oferecem alimentos, agasalhos e outros elementos básicos que ajudam na sobrevivência”, pontua.

Outro fator importante, que influencia a escolha destes locais, é a segurança. “Isso quer dizer que as áreas são mais vigiadas, do ponto de vista da segurança pública, e a própria concentração de muitas pessoas na mesma situação acaba favorecendo um vigiar coletivo e colaborativo que se origina de dentro do próprio grupo”, complementa a especialista.

Ademário Costa, cientista Social e coordenador de Relações Institucionais do Movimento Negro Unificado (MNU), acrescenta que, assim como há concentração do Centro e Liberdade na maior parte do ano, há um movimento de descentralização dessas regiões durante datas importantes. “Do mesmo jeito em datas específicas como Natal, Semana Santa ou Dia das Crianças, ocorre a migração dessas pessoas e famílias para bairros de classe média e alta em busca desse mesmo sustento através de doações e esmolas”, finaliza.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo