Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Esther Morais
Publicado em 30 de janeiro de 2025 às 10:17
Criado no século 18, um cemitério de escravizados que desapareceu do mapa em Salvador pode ter sido redescoberto. A suspeita é que o local esteja abaixo da área onde atualmente funciona o estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré. O terreno é pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que se reuniu com o Ministério Público da Bahia (MP-BA) na quarta-feira (29) para discutir tratativas que permitam a realização de uma pesquisa arqueológica na área. >
Na ocasião, ficou decidido que a irmandade católica dará resposta acerca do aceite do termo de cooperação proposto pelo órgão público até 24 de fevereiro. Segundo as pesquisas da doutoranda em Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Silvana Olivieri, o cemitério funcionou por aproximadamente 150 anos e era administrado inicialmente pela Câmara Municipal e depois pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. O local teria sido utilizado para sepultamento sobretudo de escravizados, mas também de pobres, indigentes, suicidas e encarcerados.>
O local foi fechado em 1844 e sumiu na paisagem urbana de Salvador. “Esse achado tem o potencial de abalar as bases coloniais e racistas dessa cidade. Porque a gente sabe que essas práticas coloniais apagam memórias e vestígios de violências e assim se perpetuam. O cemitério trata desse direito à memória, direito à verdade e ao luto. Então eu acho que o impacto vai ser enorme porque se trata de um apagamento proposital”, defendeu a pesquisadora.>
Ela complementou que as escavações podem contribuir na preservação e no resgate do patrimônio histórico ao comprovar a localização desse cemitério. Se comprovado, a descoberta “modifica toda uma estrutura histórica e cultural da região do Campo da Pólvora, identificando o primeiro cemitério público do município de Salvador e provavelmente do estado da Bahia”.>
Em nota, a Santa Casa informou que preza pela preservação da cultura e da história, mas não deu detalhes da proposta.>
O encontro foi presidido pelo promotor de Justiça Alan Cedraz, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do MPBA (Nudephac), e teve participação das promotoras de Justiça Cristina Seixas Graça, Luiza Amoedo e Lívia Sant’Anna Vaz e integrantes da Santa Casa de Misericórdia, do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e da pesquisadora Silvana Olivieri. >