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Larissa Almeida
Publicado em 10 de abril de 2025 às 06:00
Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro internacional da economia baiana. Só no ano passado, o estado e o país norte-americano movimentaram mais de U$ 3,7 bilhões – aproximadamente R$ 22,5 bilhões em negócios bilaterais. Nesse contexto, os EUA foram o terceiro maior destino das exportações baianas. Essa relação, no entanto, está passível de estremecimento depois que Donald Trump, presidente dos EUA, taxou os produtos brasileiros em 10%. Com a medida, a Bahia terá impacto na comercialização de diversos produtos, que vão desde celuloses até pescados. >
Os principais produtos afetados pelas tarifas são o ferro e o aço que, ao todo, serão taxados em 35% – no mês passado, Trump havia anunciado essa tarifa para alumínio e aço importados, inclusive do Brasil. Na Bahia, ambos os produtos representaram 8% das vendas baianas para os EUA em 2024 e 0,54% do total das vendas externas do estado nesse mesmo ano. >
O impacto dessa taxação é a perda da competitividade siderúrgica baiana no comércio externo e a possível diminuição da produção local. “A taxação de 25% já havia reduzido as exportações para os EUA, gerado excedentes de produção pressionando preços e desestimulando investimentos para o setor. Com isso, outros países podem tomar o espaço da Bahia no mercado global”, frisa o economista Uitan Maciel. >
De acordo com Arthur Souza Cruz, coordenador de Acompanhamento Conjuntural da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), as perdas serão maiores para a indústria baiana, que podem deixar de ganhar, ao todo, U$ 65 milhões – cerca de R$ 393,2 milhões – com o comércio exterior. >
A celulose solúvel, que sozinha corresponde por 13,6% dos valores das exportações baianas com destino aos Estados Unidos, pode sofrer com o aumento de competição com países como Canadá e Chile. O mesmo pode ocorrer com a celulosa em pasta, que representa 10,9% desses mesmos valores. >
Há ainda preocupação de especialistas com a borracha e com o benzeno, que têm participação de 11,3% e 4,4%, respectivamente, nos valores ganhos pela Bahia com a exportação para os EUA. “O benzeno é um produto químico sensível a tarifas. Pode ser substituído por fornecedores locais americanos, reduzindo espaço brasileiro. A borracha, por sua vez, já enfrenta concorrência asiática. Qualquer sobretaxa enfraquece ainda mais a competitividade”, analisa Uitan. >
Para Carlos Henrique Passos, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o momento atual exige cautela e atenção para os movimentos que estão acontecendo. “A maior ameaça para a indústria brasileira é o fato de que todos os países que não puderem exportar para os Estados Unidos vão mirar a exportação para outros mercados e o Brasil, por sua dimensão, pode ser um deles”, ressalta. >
“Outro setor que deverá ser afetado é o agro, em especial a exportação de soja e algodão. Ainda não temos como saber qual será a extensão dos impactos dessa guerra de tarifas iniciada pelos Estados Unidos, mas estamos falando de um cenário de tensão instalada que afeta o humor do setor produtivo e da sociedade como um todo”, completa o presidente da Fieb. >
Entre os produtos agrícolas que podem perder força no comércio externo, estão a manga e o cacau, que integram a lista dos dez principais produtos exportados para os Estados Unidos. “São produtos agrícolas com margens apertadas, pequenas tarifas já tornam o produto não competitivo”, analisa Uitan Maciel. >