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Casos graves de dengue podem levar a quadros de hepatite e insuficiência renal

Vírus transmitido pelo Aedes aegypti se multiplica em órgãos como fígado e baço

  • M
  • Millena Marques

Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 07:00

Cidade do Rio entra em situação de emergência devido a casos de dengue
Bahia tem mais de 4 mil casos prováveis Crédito: Pixabay

Embora seja raro, casos graves de dengue podem levar a quadros de hepatite e insuficiência renal. Isso porque o vírus transmitido pelo mosquito da dengue ataca o fígado, para casos de hepatite. O quadro de insuficiência renal, por sua vez, é provocado pela perda de líquido no sangue, levando a uma redução do fluxo sanguíneo para o rim, como explica a infectologista e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) Clarissa Cerqueira.

Após a picada do mosquito Aedes aegypti, o vírus se multiplica em alguns órgãos, como baço e fígado, por um período de quatro a sete dias. “Esse período é chamado de incubação. O vírus se replica, sem o aparecimento de sintomas”, afirma Clarissa Cerqueira. A segunda fase é marcada por febre e dura aproximadamente seis dias. É nesse período que aparecem os sintomas mais comuns - dores no corpo, atrás dos olhos, nas juntas e na cabeça.

Até o momento, não há estudos que comprovem a suscetibilidade individual de cada paciente, segundo o gastro-hepatologista Raymundo Paraná, diretor do Hospital Aliança, da Rede D'Or. No entanto, “há uma sugestão de que pacientes que fazem consumo frequente de álcool ou que já tenham uma doença hepática prévia sejam mais suscetíveis à hepatite, mas não há identificado uma suscetibilidade genética individual”, explica o especialista.

É importante estar atento aos sintomas da doença infecciosa. Os casos mais graves, por exemplo, podem ser identificados com os seguintes sinais de alarme: febre muito alta, muitas dores (especialmente dores abdominais fortes, que podem ser um sinal de acometimento hepático), vômito prolongado, olhos amarelos, urina escura, manchas vermelhas (sobretudo em áreas que são pressionadas) e confusão mental. Os pacientes com esses sintomas devem procurar a assistência médica.

Os portadores de doenças crônicas não podem esperar um sinal de alarme para procurar o sistema de saúde. “São pacientes com quadro clínico mais delicado. Eles devem ser avaliados pelo o próprio médico ou por algum profissional de uma unidade de emergência”, afirma Raymundo Paraná.

Neste ano, uma paciente baiana com agressão hepática por dengue procurou um hepatologista no Hospital Aliança, já em fase de melhora progressiva. Uma mulher de 62 anos, que não mora em Salvador, foi diagnosticada com enzimas do fígado elevadas. “Ela apresentou uma forma leve de hepatite e esse quadro melhorou progressivamente”, afirma o médico Raymundo Paraná.

A reportagem solicitou os dados de pessoas com dengue que desenvolveram quadros de hepatite e insuficiência renal à Secretária de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), via email, no entanto, a pasta informou que não possui dados a respeito desses casos.

Questionado sobre a taxa de mortalidade de pacientes com hepatite por dengue, o médico Raymundo Paraná afirmou que se recorda apenas de três casos - todos nos anos 90.

Tratamento

O indivíduo com agressão ao fígado tem que esperar o órgão regenerar e deve ter acesso a uma alimentação mais variada possível, balanceada, sem restrição, conforme a tolerância de cada paciente. “Nem um alimento piora a agressão ao fígado, nem um alimento melhora o fígado. Não existe alimento detox, isso é coisa de rede social, não de ciência”, diz Raymundo Paraná.

O repouso, por sua vez, é relativo, respeitando o organismo. “Não é pelo fato do paciente ser paciente, que ele deve ficar em casa. Há um mito de que o fígado vira gelatina, isso não existe”.

O médico especialista também alerta sobre a automedicação e o consumo de ervas naturais. Os anti-inflamatórios e o ácido-acetilsalicílico não podem ser utilizados por pacientes com dengue. “Anti-inflamatórios são drogas perigosas, podem causar ou agravar uma dano renal pela dengue e podem causar danos hepáticos e cardiovasculares”, pontua Paraná, ressaltando que ivermectina e aspirinas também não podem ser consumidas.

Além disso, a orientação é que os pacientes com dengue não consumam álcool. “É possível que o álcool seja um dos fatores que predispõem um maior risco de agressividade ao fígado.”

Mortes por dengue na Bahia

Três pessoas morreram por dengue na Bahia em 2024, de acordo com a Sesab. Os óbitos foram registrados nas cidades de Piripá e Jacaraci, no sudoeste do estado. Até o momento, a pasta não tem informações sobre as datas exatas dos óbitos, nem sobre o perfil das vítimas

No período de 1º de janeiro até domingo (25), foram notificados 12.117 casos prováveis de dengue na Bahia. Até o dia 3 de fevereiro, 215 municípios realizaram notificação para esse agravo, com 13 municípios em situação epidêmica para dengue: Bonito, Novo Horizonte, Piatã, Morro do Chapéu, Lajedão, Rodelas, Macaúbas, Jacaraci, Piripá, Encruzilhada, Cordeiros, Vitória da Conquista e Ipiaú.

No estado, 56,9% dos casos foram registrados em mulheres, contra 43,1% em homens. A maioria dos casos, mais de 2 mil, foram registrados em pessoas com idades entre 30 e 39 anos.

No Brasil, até domingo, foram notificados 762.542 prováveis casos de dengue. Foram registradas 150 mortes por dengue e 523 estão em sendo investigadas. Os dados são do Painel de Monitoramento de Arboviroses, do Ministério da Saúde.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro