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Larissa Almeida
Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 06:30
O dono de bar Yuri Oliveira Silva, de 45 anos, se envolveu em uma briga de trânsito no bairro do Cabula, em Salvador, e acabou sendo morto com disparos de arma de fogo, no mês de outubro do ano passado. Tudo começou porque o autor do crime alegou que Yuri havia fechado a via para outros carros ao estacionar em uma vaga. Durante a discussão, o homem o executou. O crime, que chocou a família do comerciante, não foi isolado. Em Salvador e Região Metropolitana, os casos de disparos de arma de fogo em 2024 subiram 31% em relação ao ano anterior. >
Ao total, a capital baiana e a região metropolitana computaram 34 episódios de conflitos armados entre civis que não têm ligação com disputas entre grupos criminosos nem confrontos com a polícia, no ano passado. Em 2023, haviam sido 24 ocorrências do tipo. >
Para Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, esse dado reflete a banalização do uso de armas em ambientes públicos e domésticos. >
“A alta letalidade policial coloca a juventude, sobretudo pessoas negras, na linha de tiro e interfere no ambiente escolar. Por outro lado, o amplo acesso às armas, aumenta exponencialmente as chances de situações de conflito evoluírem para a letalidade. O crescimento dos dados de disparos em briga mostra como uma política de armas com pouco ou nenhum rigor afeta a população”, afirma. >
Dudu Ribeiro, cofundador e diretor-executivo da Iniciativa Negra e integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, analisa que a flexibilização do acesso às armas, graças a política adotada pelo governo Bolsonaro, promoveu a precarização da vida. “Nós estamos em um período de acentuação da desigualdade e de reação violenta dos aparatos de segurança pública, e isso tem movido episódios mais frequentes de violência”, aponta. >
Segundo ele, é necessário analisar se o Brasil não precisa de um movimento nacional de pacificação. Isso porque, apesar de o governo Lula já ter revogado alguns dos decretos de facilitação ao acesso de armas de fogo, os armamentos já obtidos pelos civis não foram recuperados. >
“A chegada dessas armas no mercado legal foi seguida de uma transferência para o mercado ilícito. Então, nós precisamos de uma retomada da ideia de que é necessário desarmar a população e que há necessidade de um controle de armamento para a boa convivência, já que a maior disposição de armas em nenhum momento ou circunstância significou mais segurança para as pessoas”, frisa. >