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Casarão que desabou em Ilhéus está no centro de disputa judicial há 25 anos; entenda

Parte da fachada desabou na tarde de terça-feira (30)

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 1 de maio de 2024 às 16:49

Casarão foi tombado pela prefeitura em 1993
Casarão foi tombado pela prefeitura em 1993 Crédito: Reprodução

Os registros do desabamento parcial da fachada de um casarão tombado, em Ilhéus, na terça-feira (30), repercutiram nas redes sociais. O imóvel foi construído no início da década de 1920 e está no centro de uma disputa judicial que se arrasta há 25 anos. A proprietária do casarão e a prefeitura de Ilhéus estavam cientes da ameaça de desabamento, mas não tomaram medidas efetivas.

Um ano antes do episódio, em abril de 2023, a Supervisão Municipal de Defesa Civil de Ilhéus realizou uma vistoria técnica e orientou a interdição do local. O imovél pertence à Sociedade Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus, fundada em 1922, e fica localizano no Centro Histórico da cidade. 

No parecer técnico da Defesa Civil, o qual a reportagem teve acesso, os funcionários da prefeitura observaram rachaduras, fissuras, oxidação e desgastes nos pilares do casarão. “Percebe-se que o imóvel está pouco frequentado e que não ocorreram restaurações em períodos anteriores, o que está intensificando os problemas relacionados à estrutura”, pontua o laudo feito no ano passado. O imóvel foi tombado em 1993.

De acordo com a prefeitura de Ilhéus, o imóvel foi interditado após a vistoria, mas foi invadido e ocupado desde então. Pessoas em situação de rua costumam se abrigar no casarão. No momento do desabamento da fachada, não havia pessoas dentro ou nas proximidades do edifício, segundo a gestão municipal. Relatos de moradores, no entanto, dizem que uma pessoa estava no local, mas não se feriu. 

Laudo da Defesa Civil já alertava para os problemas estruturais do casarão
Laudo da Defesa Civil já alertava para os problemas estruturais do casarão Crédito: Reprodução

O casarão vermelho, de dois pavimentos e 295 m², é alvo de uma disputa judicial entre a Sociedade Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus e a prefeitura que se arrasta há mais de 20 anos. A gestão do município tentou desapropriar o imóvel pela primeira vez em 1999, quando a Justiça estipulou o valor indenizatório de R$28.407. A quantia nunca foi paga.

Em nota, a prefeitura afirma que “está empenhada em adotar medidas rápidas e eficazes para evitar futuros incidentes e preservar o patrimônio histórico da cidade”. Após o desabamento de terça-feira (30), as tratativas para a desapropriação serão retomadas.

A informação foi confirmada por Geraldo Magela, secretário de Cultura de Ilhéus. “Já sugeri à Procuradoria que se faça uma notificação formal para que ela [a presidente da associação] entregue a documentação e o prédio de forma imediata. A expectativa é que isso seja feito amanhã [quinta-feira]”, disse. Até a publicação desta reportagem, a documentação não tinha sido entregue.

“O antigo prefeito entrou com a ação de desapropriação e não depositou [o valor]. A gestão atual tentou tomar o imóvel amigavelmente e vem exigindo que a presidente da associação faça as manutenções devidas, mas sem sucesso”, contextualizou Geraldo Magela. A reportagem não conseguiu localizar os responsáveis pela Sociedade Protetora dos Artistas e Operários de Ilhéus.

Na época em que foi fundada, em 1922, a associação tinha como objetivo a proteção social, auxílio jurídico e lazer aos seus sócios e familiares. A Sociedade Protetora também saía em defesa dos direitos dos trabalhadores, ao organizar campanhas e greves.

A fundação da sociedade foi contada na tese de doutorado Trabalhadores, Associativismo e Política no Sul da Bahia (Ilhéus e Itabuna, 1918-1934), do historiador Philipe Murillo Santana de Carvalho.

Em 1920, Ilhéus já contava com cerca de 64 mil habitantes e vivia o auge da sua prosperidade econômica com a exportação de cacau. O casarão, que teve parte da fachada destruída, recebia associados em eventos que movimentavam o centro da cidade. Na década de 80, o imóvel abrigou uma rádio e uma escola de arte.