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Gilberto Barbosa
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 06:00
No Carnaval de 1975, o bloco liderado por Antônio e Apolônio subiu o Curuzu em direção à Avenida Carlos Gomes para se apresentar no Carnaval de Salvador. Sob a benção de Mãe Hilda Jitolu, ialorixá do terreiro Ilê Axé Jitolu e mãe de Antônio, o Ilê Aiyê dava o pontapé inicial na história dos blocos afro de Salvador. Cinquenta anos depois, o ‘Mais Belo dos Belos’ é o tema do documentário "Ilê Aiyê: Casa do Mundo", que será exibido na próxima sexta-feira (01) pela TV Bahia.
Com duração de 1h30, o documentário é dividido em cinco capítulos e resgata momentos históricos do Ilê Aiyê, como o primeiro desfile, as influências dos fundadores nos anos 1970 e o contexto local no bairro do Curuzu. Também são exibidas imagens do Festival de Música do Ilê Aiyê e da Noite da Beleza Negra, onde são escolhidos a música-tema do Carnaval e a Deusa do Ébano.
O projeto foi coordenado pelos jornalistas Alexandre Lyrio e Ricardo Ishmael e começou no final de 2023, quando a equipe estava decidindo o que seria feito para a folia de 2024. As entrevistas começaram logo após a festa e ouviu 60 pessoas para a construção do filme. Entre eles, estavam os integrantes do bloco afro e cantores como Carlinhos Brown, Margareth Menezes e Lazzo Matumbi. Ricardo também acompanhou o bloco por 12 dias, durante uma turnê no Marrocos.
“Estamos entregando um documento histórico que será uma fonte de consulta para que as próximas gerações saibam a história do Ilê, que é um patrimônio não só do Brasil, mas de todo o mundo. O bloco é um espelho que inspirou as pessoas a se entenderem enquanto pessoas pretas e devolveu o orgulho e autoestima que foram roubadas do povo negro”, afirmou.
O jornalista diz que sua relação com a instituição começou quando veio para a capital baiana, há 20 anos. “Foi difícil separar o lado admirador do jornalista porque eu conheci Mãe Hilda em vida e fui ao seu sepultamento. Nesse processo do documentário, eu vivi muita coisa que me tocou profundamente. Uma delas foi a percepção da conexão ancestral entre os músicos do Ilê e os músicos marroquinos, já que eles não falavam a mesma língua, mas se reconheciam no toque do tambor”, completou.
“Encontramos fotos e vídeos que nunca foram apresentados e provocamos as fontes a contarem a história do Ilê, a partir das memórias delas e mostrarem como os tambores e o ritmo do bloco se espalharam pelo planeta. O Ilê é a referência desse novo mundo que surgiu dele e que bebe de sua fonte há 50 anos. É importante contar e resgatar essa história para mostrar a nossa ancestralidade e a cultura afro-brasileira, que sempre foram apagadas nesse país”, exaltou Alexandre.
Uma sessão destinada aos convidados foi realizada na noite desta quarta (30), no Salvador Shopping. Entre eles, a velha guarda do Ilê Aiyê, com Antônio Carlos Vovô, o ‘Vovô do Ilê’; Dete Lima, filha de Mãe Hilda e responsável pelos figurinos e Arany Santana, ex-diretora do bloco. Durante a exibição, as risadas dos antigos integrantes acompanhavam as histórias antigas do ‘Mais Belo dos Belos’.
“Inicialmente, nosso objetivo era combater o racismo no Carnaval e o movimento foi se fortalecendo. O surgimento de novos blocos afro mostraram que estávamos no caminho certo. Esse é um momento que vai ficar na memória e que celebra as pessoas que estão na retaguarda porque são eles que sustentam o bloco”, disse Vovô.
“Esse é o momento em que todos os jovens que não conhecem a história do Ilê podem saber mais sobre a vida desses jovens da periferia, que revolucionaram a estética e o orgulho de ser negro. Eu espero que as pessoas se vejam no documentário e tenham consciência de que podem entrar e sair em qualquer lugar de cabeça erguida, por isso é que o Ilê luta há 50 anos”, disse Dete.
A exibição na TV ocorre na próxima sexta (01), após a edição especial da novela Cabocla, no horário da Sessão da Tarde. A data marca o aniversário de 50 anos do bloco, fundado em novembro de 1974. “Esse é um mergulho na história da revolução criada pelo Ilê Aiyê.Estamos muito contentes em entregar esse material e trazê-lo para o cinema, porque isso dá a dimensão que o Ilê merece. Esperamos que as pessoas se vejam naqueles relatos e que esse documentário seja um material vivo que alimente os diálogos sobre o tema”, falou a diretora de jornalismo da Rede Bahia Ana Raquel Copetti.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela