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Carroçada da Saúde celebra recém-casados com desfile no São João

A festa com quase 30 anos de tradição e casamentos entre jegues acontece durante dois dias

  • Foto do(a) author(a) Yasmin Oliveira
  • Yasmin Oliveira

Publicado em 24 de junho de 2024 às 20:11

O casamento ocorre tradicionalmente no dia de São João (24) há 28 anos
O casamento ocorre tradicionalmente no dia de São João (24) há 28 anos Crédito: Marina Silva/CORREIO

Há 28 anos, moradores do bairro Saúde visitam as tradições juninas de um modo irreverente, trazendo para a capital os elementos presentes nas zonas rurais. É nesse clima, trajados com roupas coloridas e acompanhados por um cortejo de moradores e amigos que é realizada e festejada a união de um casal de fantoches de jegues.

Nesta segunda (24), o casal de jegues recém-casados e o filhote desfilaram ao lado dos ‘carroceiros’ pelas ruas do bairro. A Carroçada que é celebrada há quase três décadas foi iniciada por um grupo de vizinhos e está na segunda geração de organizadores.

Os festejos desta edição tiveram início no domingo (23) no Largo da Saúde, onde um coreto foi montado em frente ao Bar do Léo e do MiMi Churrasco, ambos pontos comerciais do bairro. Para comemorar a despedida de solteiro do jegue, os ‘carroceiros’ começaram a concentração às 16h do domingo para ouvir a banda A Patroa, seguida do sanfoneiro Daniel Frota e da banda de fanfarra Mestre Preg, que arrastou os brincantes e esquentou o clima do casamento, realizado no dia de São João.

“Batemos recorde de público aqui, a despedida foi maravilhosa. Tudo com muita tranquilidade, com muita alegria, o pessoal super satisfeito e não é à toa que hoje você vê praticamente o dobro de pessoas que tinha aqui ontem (23). Quem vem, não sai mais e faz o processo da multiplicação, trazendo mais pessoas de fora para vir conhecer”, conta Valdecir Santos, conhecido como o MiMi do Churrasco.

Antes mesmo do casamento, a programação dessa segunda foi para as crianças. Os pequenos puderam brincar de ‘quebra pote’ e ‘corrida de ovo na colher’, além de outras folguedos juninos, num misto de resgate e manutenção das tradições.

O desfile acontece pelas ruas da Saúde
O desfile acontece pelas ruas da Saúde Crédito: Marina Silva/CORREIO

A origem da festa da Carroçada da Saúde começou com uma conversa entre amigos, segundo o funcionário público Eduardo Araujo, que foi um dos idealizadores da festa, junto com José Jorge Luz (Seu Jorginho)e Valdecir Santos. Daquela conversa surgiu a ideia de trazer uma tradição feita em alguns municípios, onde fazendeiros se juntavam em carroças e passeavam pela cidade. “Juntei um grupo de amigos, cunhados e vizinhos para fazer a brincadeira. Alugamos uma carroça, um jegue e juntamos trinta pessoas. Além da turma, contratamos uma banda de arrasta-pé com uma vaquinha e saímos neste mesmo horário de 16h30”, recorda Eduardo.

Após o falecimento de Seu Jorginho, a organização passada para Leandro Alonso, que faz questão de manter a tradição da festa, com a confecção artesanal da figura do animal, sempre um ano de antecedência a data do desfile.

“Essa é uma festa dos próprios moradores e moradoras. Buscamos sempre o melhor para oferecer a essa galera e os visitantes. Depois de hoje, a gente já começa a se organizar para o ano que vem, com mais novidades. Então é um ano inteiro de preparação”, relata o produtor cultural da Carroçada Williamis de Jesus.

O maior patrimônio da festa são os moradores e por isso, MiMi afirma que a figura do jegue representa todo o bairro da Saúde e não apenas uma família. A junção do casal traz a união do bairro, que conseguem organizar essa festa todos os anos. “Somos famílias de todos os tipos, de todas as formas, as melhores possíveis e estamos juntos nessa festa”, complementa.

Para Leandro, a sensação de continuar a tradição é indescritível, pois nunca conheceu outro São João que não fosse no Largo da Saúde, seja fazendo fogueira com o pai ou o ajudando a organizar a festa. Desde 2014, ano da morte de Seu Jorginho, a festa passou como uma herança para Leandro e se tornou uma forma de homenagear o pai.

“Eu não escolhi fazer essa festa, meu pai fazia e aí eu estava do lado dele. Quando cresci, queria ir ao interior, mas terminava desistindo para não deixar ele sozinho. Lembro quando os jegues casaram da primeira vez, o pessoal curtiu a ideia e as vizinhas começaram a se vestir de noivas. A tradição cresceu e até hoje isso aí”, conta Leandro.

Leandro Alonso, conhecido como Léo
Leandro Alonso, conhecido como Léo Crédito: Marina Silva/CORREIO

A festa é repleta de pessoas fantasiadas com vestidos de noiva, como a ambulante Tairine Costa, 33, que até trouxe as suas filhas gêmeas para segurar seu véu. Por morar no bairro, ela acompanha a desde pequena e sempre espera de tudo, todos os anos a organização a surpreende. “Estou amando esse evento perfeito, maravilhoso porque, acima de tudo, é uma festa familiar. Peço para todos virem porque tem a despedida de solteiro do jegue, o casamento do jegue e a lua de mel do jegue”, conta.

As fantasias variam entre padre, noivos, noivas e muitos tomam lados dos noivos com tiaras ou gravatas. A cerimônia é rápida, mas todos podem celebrar os noivos.

Tairine Costa se fantasiou de noiva para a festa
Tairine Costa se fantasiou de noiva para a festa Crédito: Marina Silva/CORREIO

A auxiliar de cozinha Graça Santos, 57, frequenta a festa há três anos e todas as vezes que não viaja para Senhor do Bonfim, se junta ao casal de jegues para dançar pelas ruas da Saúde. “Quando eu não vou para o interior, meu lugar é esse do lado do jegues. Tem que aproveitar a festa, uma pena que hoje é o último dia. Tinha que ter mais oito dias pela frente”, afirma.

Frequentadora da festa há três anos, Graça aproveitou o desfile ao lado do casal de jegues
Frequentadora da festa há três anos, Graça aproveitou o desfile ao lado do casal de jegues Crédito: Marina Silva/CORREIO

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo