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Calor retado: soteropolitanos cortam um dobrado com o aumento da temperatura na capital

Capital baiana registrou recorde em 2024, com termômetro marcando 36,2°C

  • L
  • Larissa Almeida

Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 05:15

Calor em Salvador impacta trabalhadores Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Na busca constante por uma sombra. É assim que vive o motoboy Evanildo Sales, 40 anos, nos intervalos entre uma corrida e outra, que sempre têm início ou fim na Feira de São Joaquim, seu ponto fixo de trabalho. Ele conta que essa é uma das estratégias que encontra para driblar o calor em função das altas temperaturas registradas em Salvador – o recorde do ano foi no último domingo (14), com 36,2°C; nesta quarta-feira (17), a cidade chegou a 35°C. “Ontem fez um calor com abafamento e sem vento. Está muito difícil. Para conseguir lidar, paro para ir em casa tomar banho, uso camisa com proteção UV, bebo bastante água e um suquinho de leve. Sem banho, principalmente, o ‘negão’ não aguenta”, afirma, aos risos.

Só que nem todo mundo consegue rir com a situação. A temperatura de 35°C, registrada na estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizado na Base Naval de Aratu, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, na quarta-feira, levou a ambulante Daiane Araújo, 38 anos, a passar mal. “O calor aqui estava de rachar o juízo. Eu até me senti mal com o mormaço, tive que fechar a barraca e ir à Feira para poder molhar cabeça e apaziguar um pouco a quentura. Aqui é ainda pior porque o sombreiro esquenta e a sensação de calor bate mais ainda”, conta.

A baiana de acarajé Lorena Silva, 24 anos, chegou a ver pessoas sofrendo queda de pressão em frente ao Farol da Barra. Ela relata que, sempre que pode, oferece um banquinho ou água para quem está há muito tempo exposto ao sol. Enquanto isso, ela e sua mãe, que comandam juntas o negócio da família, lidam como conseguem com o calorão. “Bebemos muita água, nos hidratamos e usamos protetor solar, que é muito importante. O calor está demais, mas precisamos trabalhar”, ressalta.

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Baiana de acarajé Lorena Silva Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Segundo o guardador de veículos Eliézio Lima, 53 anos, mesmo trabalhando em área com grande exposição solar, é possível se refrescar debaixo de uma árvore, bebendo água, usando protetor solar e boné. Em casa, contudo, ele não tem a mesma sorte. “Nem o ventilador está dando conta do recado. Eu durmo no chão, não uso nem lençol para dormir, só travesseiro. O calor é insuportável”, frisa.

Apesar dos incômodos causados, a temperatura está dentro do esperado para este período do verão. De acordo com a meteorologista do Inmet, Andrea Ramos, o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAM) é o responsável pelos altos valores nos termômetros que têm impactado os soteropolitanos. “O VCAM, quando está atuando, promove temperaturas elevadas e baixa umidade”, aponta.

Em entrevista recente ao CORREIO, a especialista havia explicado que quando a atuação do VCAM está mais próxima do território, há inibição dos níveis de chuva. Nessas ocasiões, até existe nebulosidade, com sol e nuvens – caracterizando o conhecido ‘mormaço’ –, mas sem chances de chuvas.

Nos próximos dias, a capital dos baianos, segundo a previsão do Inmet, deve manter o calor que atinge os soteropolitanos, com temperaturas que variam entre mínimas de 24º a 25º e máximas de 33º a 35º. O sol deve prevalecer.

Salvador, contudo, não é a única a ter que lidar com o calorão. Nesta quarta-feira (18), Euclides da Cunha, no interior da Bahia, registrou 37,1º C, a temperatura mais alta observada em todo o estado. Os municípios de Curaçá, no norte da Bahia, e Ribeira do Amparo, no nordeste do estado, marcaram 36,5º C. A previsão para os próximos dias mantém o cenário atual.

“Para os próximos dias são previstos valores maiores, especialmente para o nordeste do estado, onde valores máximos podem chegar aos 39/40 graus. Também dentro da normalidade para o período”, afirma Cláudia Valéria, meteorologista do Inmet.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo