Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 11:02
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu ao café produzido na região da Chapada Diamantina primeiro reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) por Denominação de Origem do estado da Bahia.
As Indicações Geográficas (IG) são ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. Elas possuem duas funções principais: agregar valor ao produto e proteger a região produtora.
O sistema de Indicações Geográficas promove os produtos e sua herança histórico-cultural, que é intransferível. Essa herança abrange vários aspectos relevantes: área de produção definida, tipicidade, autenticidade com que os produtos são desenvolvidos e a disciplina quanto ao método de produção, garantindo um padrão de qualidade. Tudo isso confere uma notoriedade exclusiva aos produtores da área delimitada.
Segundo o INPI, fatores humanos e ambientais do local fazem a bebida ter um sabor e propriedades únicas – encorpada, adocicada, com acidez cítrica, notas de nozes e chocolate, além de final prolongado. A partir de agora, os produtores locais se juntam a outras 15 IGs do produto no país.
Atualmente, a Bahia possui cinco Indicações Geográficas, todas elas de Procedência (IP): Sul da Bahia (Amêndoas de Cacau), Região Oeste da Bahia (café), Microrregião Abaíra (Cachaça), Vale Submédio São Francisco (Uvas e Mangas) e Vale do São Francisco (vinhos e espumantes). Com registro do café da Chapada Diamantina, já são 130 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 91 de Indicação de Procedência e 39 por Denominação de Origem (29 nacionais e 10 estrangeiras).
Mas, afinal, o que o selo de Denominação de Origem representa para os produtores e compradores de café? Nada mais é do que a comprovação que o café é de uma região específica, o que valoriza a produção local. “Então, você tem uma média de atributos sensoriais que foram captados que comprovaram que o café da Chapada Diamantina tem um diferencial. Você só vai achar na Chapada Diamantina”, explicou Rodolfo Moreno, produtor da Rarefeito Café, no município de Piatã.
“Para quem compra, há a segurança de que o café (com selo) está vindo da Chapada Diamantina, com certeza, que esse café vai ter os atributos sensoriais necessários para chegar nesse patamar e que vai ter alta qualidade”, continuou.
A certeza da valorização é destacada pelos produtores da região. No entanto, ainda não há como precisar números em relação à comercialização. “Depende muito do tipo de café. O café especial depende muito do sensorial. Precificar é muito difícil, mas a gente consegue agregar valor em cima a partir do momento que tem o selo”, disse Glayco Barbosa, vice-presidente da Aliança de Produtores da Chapada Diamantina.
Os cafés de alta qualidade produzidos nessa região são chamados de cafés especiais, nome atribuído ao café que atinge, pelo menos, 80 pontos na escala de pontuação da Metodologia de Avaliação Sensorial da SCA (Specialty Coffee Association), que vai até 100. Nessa avaliação contam atributos como a fragrância e aroma, uniformidade, ausência de defeitos, doçura, sabor, acidez, corpo, finalização, harmonia, conceito final – esse último se refere a impressão geral atribuída pelo classificador.
A notoriedade no mercado internacional é outra característica positiva atribuída ao selo de Denominação de Origem. “Isso vai elevar a importância desses cafés que são produzidos aqui. Isso vai se refletir em mais qualidade, com certeza, também no preço mais elevado, uma valorização maior desse grão que é produzido na Bahia”, explicou Sara Carvalho, barista e especialista em cafés especiais.
O estudo “Café da Chapada Diamantina, Bahia: qualidade da bebida e relações com o meio ambiente”, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) foi a base para o reconhecimento da Indicação Geográfica. O texto aponta que o manejo pós-colheita e o saber-fazer local são as variáveis humanas relacionadas com a qualidade do café. Isto porque quase toda a colheita é realizada de forma manual. Além disso, a altitude, a temperatura e a orientação da encosta em que o cafezal se desenvolve são variáveis ambientais que imprimem um sabor diferenciado ao produto.
Por sua vez, em estudo conduzido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a análise química demonstrou maiores teores de ácidos orgânicos e clorogênicos e, principalmente, de lipídeos, nos cafés da Chapada Diamantina, demonstrando um perfil químico característico, que os distingue de amostras provenientes de outras regiões da Bahia e do Brasil.
“Esse selo garante para o nosso café produzido aqui, nesse pedacinho do paraíso que é a Chapada Diamantina, um grande reconhecimento. Além de ser um lugar exuberante de natureza, a Chapada é exuberante também em produção agrícola e nós, pequenos agricultores, podemos dizer que produzimos um dos melhores cafés do mundo”, destaca a agrônoma Tadeane Pires Matos, que trabalha na Fazenda que leva o nome de sua família, em Mucugê (BA).