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Gil Santos
Publicado em 15 de maio de 2024 às 11:35
O sargento Luís Cláudio, 44 anos, tem 19 anos atuando como bombeiro militar na Bahia e já perdeu as contas de quantos salvamentos realizou, mas ainda lembra dos corpos mutilados que resgatou na tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Nesta quarta-feira (15), ele vestiu a farda para mais uma missão desafiadora. Serão 40 horas na estrada até o Rio Grande do Sul para atuar no desastre das chuvas. A Bahia está enviando 25 bombeiros, de carro e de avião, para render os 23 profissionais que retornam essa semana.
O segundo contingente tem 21 homens e quatro mulheres. As tropas vão atuar nos resgates de pessoas vivas, corpos de quem não resistiu, e animais. As equipes também estarão disponíveis para ações humanitárias e para a proteção de patrimônios, principalmente porque muitas cidades atingidas têm prédios históricos. O sargento Luís Cláudio segue em uma picape para Caxias do Sul, onde os colegas do primeiro contingente, enviado há 15 dias, o aguardam.
"O enredo é basicamente o mesmo de Brumadinho, mas em uma proporção maior, além do fato de que, no Rio Grande do Sul, vamos lidar com pessoas vivas, enquanto em Brumadinho os resgates foram basicamente de fragmentos de corpos. Uma condição de bastante atenção é o psicológico, ele abala a gente. Então, por conta da experiência, conseguimos desempenhar um bom serviço", contou o sargento.
São três picapes com tração 4X4 para enfrentar o terreno encharcado. Um desafio a mais é a temperatura. Em muitas regiões os termômetros estão marcando menos de 10ºC. As equipes que saíram nesta quarta-feira de Salvador estão levando luvas, casacos com proteção para a cabeça, blusões com mangas longas e outros utensílios para manter o aquecimento. Bombeiros de diversas cidades da Bahia estão participando da operação. Foram 120 inscritos para 25 vagas.
Preparação
O encontro dos 25 profissionais ocorreu no 3° Batalhão de Bombeiros Militares, na região do Iguatemi, onde eles separaram os equipamentos e receberam as primeiras instruções. A reunião durou cerca de 1h e as viaturas com os 10 bombeiros deixaram o prédio em fila, enquanto a van com os 15 militares seguiu para o Aeroporto Internacional de Salvador.
O comandante da operação, coronel Aloísio Fernandes, explicou que a decisão de mandar parte da tropa por terra foi para evitar depender dos equipamentos do Rio Grande do Sul, já que o estado está sobrecarregado com as demandas da chuva. A primeira tropa, enviada há 15 dias, levou um caminhão com equipamentos de busca, como material de mergulho, drones e flutuadores, e resgataram cerca de 300 pessoas e animais. Ele frisou que os profissionais enviados têm experiência na área.
"A gente se coloca à disposição do estado do Rio Grande do Sul e de qualquer outro estado do Brasil, assim como recebemos apoio de outros estados nas enchentes de 2021 que ocorreram na Bahia. Nós vamos para uma ação de busca, ainda tem muitas pessoas desaparecidas, assim como podemos ser empregados em ações humanitárias. O importante é que a tropa está equipada e preparada", disse.
O primeiro contingente retorna para a Bahia nesta quinta (16) e sexta-feira (17). O comandante explicou que os bombeiros baianos estão atuando nos municípios de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, mas afirmou que a tropa está à disposição do comando da operação dos bombeiros do Rio Grande do Sul e que vão atuar onde for necessário. Onde dormir e onde se alimentar vai depender das condições de cada local. "Estamos preparados para dormir ao relento, se for preciso", afirmou o coronel.
O número de mortos na tragédia está em 149, e há mais de 600 mil pessoas fora de casa. Nesta quarta-feira, o nível do lago Guaíba começou a baixar. Segundo os especialistas, depois de atingir o nível máximo de 5,25 metros na terça-feira (14), a tendência é que, agora, ele baixe de forma lenta e gradual. A situação ainda é crítica e a cidade de Guaíba, que fica às margens do lago, ordenou a evacuação imediata de dois bairros por causa do risco de inundações.