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Gilberto Barbosa
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 03:00
Mesmo 32 anos após a sua morte, o legado de Santa Dulce dos Pobres segue vivo entre os baianos. Um respirador utilizado pelo Anjo Bom da Bahia ajudou Bruno Carmel a ter a maior sobrevida entre os brasileiros portadores da Distrofia Muscular de Duchenne (DMD), doença degenerativa que compromete os músculos. Ele faleceu em julho, aos 44 anos, e teve sua autobiografia póstuma lançada no último dia 27 de novembro. >
Com o título “Ultrapassando Montanhas”, o livro conta a trajetória da sua vida. A mãe de Bruno, Iasnaia Ribeiro, conta que os primeiros sintomas surgiram quando ele tinha 4 anos. Com isso, ela foi para a cidade de São Paulo, onde foi confirmado o diagnóstico. A expectativa era que ele falecesse em pouco tempo, o que não aconteceu. >
A doença seguiu avançando e, aos 7 anos, Bruno parou de andar. Aos 14, sofreu uma parada cardiorespiratória e ficou oito meses internado no Hospital Português. Para sair, precisava de um aparelho respiratório que, devido ao preço, era difícil de encontrar. >
“Só Irmã Dulce tinha esse aparelho no Brasil na época. Os colegas dele foram até Dulcinha [irmã], que atendeu os meninos e disse que sonhou com Dulce pedindo para que o aparelho fosse doado para um rapaz. Com isso, ela ligou para os Estados Unidos, onde a máquina passava por manutenção, e pediu para que fosse entregue a ele”, relata. >
A máquina permitiu que Bruno saísse da internação. Iasnaia conta que o filho era uma pessoa apaixonada pela vida, que gostava de ir a shows, ao cinema, de acompanhar os jogos do Fluminense, seu time de coração e de viajar, chegando a ir duas vezes para a Europa. Essas e outras passagens são relatadas no livro, escrito com o auxílio da jornalista Juliana Carvalho. Devido a progressão da distrofia, ele contou com o auxílio de um sintetizador de voz para relatar a sua história. >
“Apesar de não demonstrar isso fisicamente, ele sempre foi forte e determinado. Mesmo com o avanço da doença, não parava de sair e fazer as coisas que gostava. Nada era obstáculo e esperamos mostrar o seu amor pela vida, além de ajudar outras pessoas a ultrapassar essas montanhas com a mesma tranquilidade que ele superou”, diz. >
Após um ano de parceria, ele faleceu no dia 14 de julho, antes de concluir a sua biografia. Com isso, Juliana ficou com a responsabilidade de fazer o capítulo final, que narra o último dia da vida de Bruno e foi escrito em primeira pessoa. A escritora relata que o ano que passou com o amigo mudou a forma como ela vê a vida. >
“Mesmo com a doença, ele tinha uma vontade de viver que era impressionante e que contagiava quem estava ao lado. Existe uma Juliana antes e outra depois dele. Me sinto realizada com o lançamento do livro, porque além de realizar o sonho dele, de ajudar as pessoas, nós conseguimos dar continuidade no seu legado”, exalta. >
O prefácio foi escrito pelo desembargador Luiz Roberto Mattos, que é amigo da família há mais de 30 anos. “Foi uma honra muito grande ter ajudado a construir o livro, que mostra muita força e que vai incentivar diversas pessoas com deficiência a viverem mais a vida”, fala. >
A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença degenerativa e progressiva caracterizada pela perda das funções musculares do portador. Os primeiros sinais surgem ainda na infância, a partir de sintomas como dificuldades para caminhar, quedas constantes, problemas cardíacos e respiratórios. A doença não tem cura e o tratamento inclui fisioterapia e o uso de medicamentos corticosteroides para retardar a sua progressão. >
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo>