Bebês morrem antes do parto, e pais acusam negligência médica

Ambos os casos, de famílias diferentes, aconteceram na Maternidade Albert Sabin, em Cajazeiras, durante a terça-feira (18)

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  • Marcos Felipe

Publicado em 19 de julho de 2023 às 23:00

Gestantes precisaram ir à unidade de saúde mais de uma vez até serem internadas
Gestantes precisaram ir à unidade de saúde mais de uma vez até serem internadas Crédito: Divulgação/GovBA

Dois bebês morreram antes do parto na Maternidade Albert Sabin, no bairro de Cajazeiras, em Salvador, durante o mesmo dia. Os pais acusam a instituição de negligência médica em ambos os casos, ocorridos na terça-feira (18), já que as crianças eram consideradas saudáveis.

A primeira delas se chamaria Laila Maria e seria a primogênita do casal William Samuel dos Santos, de 28 anos, e Ailla Daltro, de 26. Segundo William, Ailla precisou ir até a maternidade três vezes para ser internada. "No sábado [15], minha esposa compareceu à maternidade com fortes dores. Fizeram o exame de toque três vezes e mandaram ela ficar caminhando, para estimular, e, depois de quase 10 horas de espera, liberaram ela", relembrou.

No domingo (16), o procedimento teria se repetido, com a diferença de que foram dados medicamentos à gestante, a fim de amenizar sua dor. Quando retornou na segunda-feira (17), já com fortes contrações, ela finalmente foi internada. "Falaram que a dilatação estava em 5 cm e, ainda assim, se recusaram a fazer a cesárea, mesmo minha esposa implorando para fazer. Quando chegou a noite, uma enfermeira olhou e disse que os batimentos do bebê estavam diminuindo e que achava que ele estava em sofrimento fetal", continuou William.

De acordo com ele, nada foi feito mesmo após isso. "O pior de tudo é que eles ficavam falando para não nos preocuparmos, porque estava tudo bem com nossa bebê", indigna-se o pai ao falar. Na terça pela manhã, outra enfermeira verificou os batimentos e disse que havia algo errado com a criança. Ailla, então, foi encaminhada para a emergência. Lá, segundo William, a gestante aguardou, sentada numa cadeira, o atendimento, que demorou, devido à troca de profissionais durante o plantão. "Ela tem asma e alergia a dipirona, então, se falou que tinha prioridade."

"Quem estava atendendo ela foi enfermeira. Não foi nem médica", reclamou o pai. Depois de ter passado por uma ultrassonografia, a mãe recebeu de uma médica a notícia de que seu bebê tinha morrido. A mulher ainda esperou por nove horas a retirada da criança de sua barriga. "Uma tristeza que ninguém tira mais", resumiu William.

Segundo caso

No segundo caso, a criança que veio a óbito ainda na barriga se chamaria Tainá. Conforme o relato da mãe, Daiane de Jesus, 41, foram necessárias duas idas à Maternidade Albert Sabin antes de ter sido internada. "Eu vim numa consulta no dia 12, e a menina começou a contrair. Aí, quando eu cheguei na emergência, a médica disse pra mim que não poderia me internar, porque só estava com 'um dedo' de dilatação e, como eu já tinha tido outros filhos por parto normal, aquilo, pra ela, não era nada", contou Daiane, que já é mãe de sete filhos, sobre a experiência no dia 12.

A gestante, então, retornou à maternidade na terça-feira. "A barriga tava dura, e eu comecei a sentir dor. [...] Aí, quando eu cheguei aqui e fui escutar o coração da criança, ela já tava sem sinal vital", recordou a mulher, informada de que a causa da morte foi descolamento da placenta. "Fizeram uma cesárea em mim com urgência, porque eu estava com hemorragia. É uma coisa que poderia ter sido feito no dia 12, que eu estava contraindo, porém sem dor", lamentou a mulher.

Tanto Ailla como Daiane ainda estão na maternidade, em recuperação. Em nota, a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) afirmou que vai apurar os casos.

Leia a nota da Sesab na íntegra:

"A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia e a direção da maternidade Albert Sabin estão consternadas com a situação, pois toda maternidade é um local que simboliza vida. O falecimento causa dor e tristeza para os familiares e toda a equipe assistencial.

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia fará a instauração imediata de sindicância para apurar detalhadamente o fato e identificar a eventual omissão e/ou má conduta por parte dos profissionais. A família está sendo assistida pela equipe de psicólogos e assistentes sociais da unidade.

A despeito do óbito ocorrido em circunstâncias que ainda serão detalhadamente apuradas, a unidade realizou mais de 9 mil atendimentos apenas de 1⁰ de janeiro até junho desse ano, demonstrando o compromisso com a assistência e acolhimento de todas as gestantes não apenas da capital e região metropolitana, mas de toda a Bahia".