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Millena Marques
Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 15:19
Uma nova medida de limitação de kits (sombreiros e cadeiras) tem gerado preocupação para os barraqueiros que trabalham no Porto da Barra. A partir desta sexta-feira (24), cada permissionário deverá fornecer, no máximo, 30 cadeiras e dez sombreiros. Com a reformulação, a categoria estima um prejuízo de 90% nas vendas. >
Quem indica a estimativa é Afonso Alban, 61 anos, presidente da Associação dos Barreiros do Porto da Barra e barraqueiro do local há 33 anos. "Não há dúvidas de que vai diminuir em 90%. A população vai fazer queixa porque vai chegar aqui pedindo cadeira e sombreiro e nós nãos vamos ter para oferecer. A areia está quente demais, ninguém pode sentar nessa areia. Por mais que coloque a canga, não vai aguentar, a quentura é muito grande", diz. >
Segundo Afonso, o impacto acontece justamente por causa da redução dos kits. Antes da medida, os barraqueiros trabalhavam com o número de cadeiras e sombreiros exigidos pela demanda. Em um dia cheio de verão, por exemplo, a barraca de Afonso disponibilizava entre 100 e 120 cadeiras. "Nós estamos cumprindo a ordem para tentar sobreviver", afirma.>
Na última quinta-feira (23), a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) se reuniu com 30 permissionários que trabalham no Porto da Barra para discutir a situação. Foram implantadas, então, novas regras. Entre elas estão: delimitação de espaço, equipamentos e produtos padronizados, e regularização fiscal.>
A decisão de limitar a quantidade de kits distribuídos na faixa de areia aconteceu após um banhista viralizar nas redes sociais com um vídeo no qual faz críticas à utilização do espaço. Segundo ele, a praia estaria sendo privatizada por causa do excesso de cadeiras, que são alugadas pelos barraqueiros.>
De acordo com Ilma Bonfim, 60 anos, que trabalha com Afonso na barraca de praia do Porto há sete anos, nenhum banhista foi impedido de colocar a canga na praia. "Eu tenho consciência que a areia é pública. Jamais disse para um banhista não colocar a canga dele na areia", conta Ilma. >
A medida de limitação tem gerado controvérsias entre barraqueiros e banhistas. A paulista Victoria Marques, 23, defende a reformulação, alegando a facilidade de circulação em uma praia com menos kits. "Eu acho melhor porque acaba tendo mais espaço para circular. Senão, fica uma praia superlotada e as pessoas acabam não aproveitando tanto", afirma.>
Ana Alícia da Conceição, 22 anos, que trabalha em barraca de praia desde a infância, questiona o número de cadeiras permitidas. "A gente já alugou 30 agora, às 11h. Mas, quando chegar gente às 13h? Não acho justo. Acaba prejudicando a gente e os banhistas porque ninguém vai querer sentar no chão quente. Tem criança, idoso, que vai vir e não vai ter uma cadeira", aponta. >
Ana Alícia ainda sugere a possibilidade de um espaço para os banhistas. "Claro que tem que pensar em espaço para banhistas. Poderia limitar um espaço para o banhista, mas preferiram reduzir o material", conclui. >
Natural de Salvador, a estudante Fernanda Melo, 22, critica o excesso de cadeiras na praia quando os banhistas não estão usando, mas não vê benefícios com a limitação. "Os barraqueiros, provavelmente, vão ter que aumentar o valor e pode ter gente que vai chegar à praia e não encontrar mais cadeira. Não sei se foi a melhor forma de lidar com a situação", avalia. Nesta sexta (24), aliás, ela e as amigas pagaram R$ 15 mais caro do que costumam pagar por um sombreiro. >