Bairro da Paz-Itapuã: traficantes do BDM fazem ‘escala’ para atacar o CV

Guerra entre facções aterroriza moradores e interrompe serviços básicos

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  • Wendel de Novais

Publicado em 25 de setembro de 2024 às 16:00

KM-17 tem sofrido com ataques armados Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Seja pela Avenida Paralela, em um trajeto de 3,5 quilômetros, ou pelas ruas internas que ligam os bairros, os traficantes com atuação no Bairro da Paz têm feito do KM-17, em Itapuã, uma escala para ataques armados. Os criminosos, que são da facção Bonde do Maluco (BDM), querem acabar com a presença do Comando Vermelho (CV) no KM-17. Uma guerra que causa mortes, aumenta a presença de traficantes armados na rua e prejudica serviços básicos do bairro.

Os moradores da região temem conversar sobre o assunto, mas, sem se identificar, revelam os detalhes das ocorrências. “Eles vêm por cima [pela Paralela] e pela região aqui dessas ruas que dão lá no Bairro da Paz. Chegam aqui no fim de linha ou mais para frente e metem bala”, conta uma moradora do local. Quando vão pela Paralela, os traficantes passam pela Rua Luís Eduardo Magalhães, uma via onde estão condomínios residenciais e que tem ligação direta com a avenida.

Unidade de Saúde ficou sem funcionar por dois dias seguidos Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A rota das ruas internas começa ainda no Bairro da Paz, através da Rua da Resistência, e chega até as vias na região do KM-17. O modus operandi é sempre parecido. “Eles chegam de carro ou de moto, mas nunca a pé. Dão o ataque, ficam trocando tiros por um tempo e acabam saindo. Às vezes, é rápido, mas tem hora que ficam como foi na terça-feira que foram 30 minutos de um barulho absurdo”, relata outro morador, afirmando que os tiros começam com pistola e terminam com rajadas de fuzil.

A situação se acirrou há cerca de dois meses. De acordo com uma comerciante, anteriormente, os ataques eram mútuos. Agora, no entanto, se concentram no KM-17. “Hora os traficantes daqui iam lá e em outra hora os do Bairro da Paz vinham para cá. Porém, faz um mês que mataram alguém lá e, desde então, não temos sossego. Faz três semanas que teve muito tiro aqui e na terça foi a pior. Até o povo dos condomínios lá de cima escutam, acordam e ficam assustados”, fala a comerciante.

Ao se referir aos condomínios, a fonte cita uma área que fica a cerca de 500 metros do local onde os tiroteios acontecem. Por lá ou nas ruas do KM-17, placas de vende-se ou aluga-se estão presentes em muitos dos imóveis. A violência, de acordo com quem reside lá, tem feito com que pessoas tentem se mudar de endereço.

No último domingo (21), um suspeito identificado como Caique dos Santos Alves, de 19 anos, morreu em confronto com a Polícia Militar da Bahia (PM-BA), que deu detalhes do caso. "Agentes receberam a denúncia de que homens armados estariam traficando drogas na Rua Santana, KM-17. No local, após visualizarem a presença da polícia, o grupo armado iniciou os disparos com arma de fogo. Após o confronto, o corpo foi localizado", diz em nota.

Com Caíque, segundo a PM, foram apreendidos uma pistola calibre 380 com carregador, sete munições do mesmo calibre, 41 eppendorf (cápsula) de cocaína, 19 frascos da mesma substância, 21 trouxas de maconha, 70 pedras de crack e uma bala clava. De acordo com moradores, que têm medo de se identificar, a presença de homens armados nas ruas do KM-17 é cada vez mais comum e recorrente por conta de uma disputa armada no bairro.