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Bairro classificado como favela tem o 5º metro quadrado mais caro de Salvador

Localidade integra TOP 5 com Barra e Rio Vermelho

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 7 de março de 2025 às 06:20

Apesar de ser considerada favela, Pernambués tem m² mais caro que bairros nobres
Apesar de ser considerada favela, Pernambués tem m² mais caro que bairros nobres Crédito: Paula Fróes/Arquivo CORREIO

No último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o nome de Pernambués, bairro de Salvador, apareceu entre as dez maiores favelas do Brasil. O uso do termo ‘favela’ foi encarado de modo divergente entre os moradores da localidade. Enquanto alguns desaprovavam a classificação por temor a uma associação negativa, outros alegavam que o bairro era desenvolvido, logo, não cumpria os requisitos para ser considerado favela. Um dos pontos desse argumento foi o preço dos imóveis, que é caro. Segundo o Índice FipeZap, Pernambués tem o quinto metro quadrado mais valorizado da cidade, estimado em R$ 7.252.

O valor do metro quadrado de Pernambués só fica atrás da Barra (R$ 10.674), Caminho das Árvores (R$ 10 mil), Ondina (R$ 9.318) e Rio Vermelho (R$ 8.807). Todos esses bairros são considerados nobres em Salvador, ou seja, dispõem de todos os serviços básicos e boa infraestrutura. Esse fator instigou ainda mais a curiosidade dos soteropolitanos quanto ao motivo de Pernambués figurar na lista, mas, segundo especialistas e moradores ouvidos pela reportagem, não há mistério.

O corretor de imóveis e morador Vitor Barros destaca que o que faz os imóveis no bairro serem tão caros é a localização privilegiada, próxima do metrô, rodoviária e shopping. No entanto, a procura é limitada por causa da insegurança e pouca infraestrutura.

“O perfil do cliente do bairro é orgânico. É cliente que vai porque já conhece o bairro. É difícil trazer um cliente de fora, [...] porque o bairro transmite uma sensação de insegurança. Então, os imóveis ficam com uma liquidez baixa por conta disso. Tem imóveis que levam dois anos para conseguir vender e só atrai quando é baixo preço”, pontua.

Já o corretor de imóveis Gustavo Reikdel atribui a valorização de imóveis de Pernambués a novos lançamentos imobiliários, mas em áreas específicas do bairro. Isso porque, a grande parte da localidade corresponde aos espaços com conglomerados, ou seja, favelas.

André Urpia, superintendente do IBGE na Bahia, esclarece que o termo ‘favela’, que voltou a ser utilizado após 50 anos pela entidade, corresponde a apenas uma área dentro de Pernambués – e não ao bairro como um todo. No total, a localidade tem 52,5 mil habitantes, sendo que só 35,1 mil vivem na área considerada periférica.

“Pernambués tem uma área onde as pessoas não têm posse do território ou terreno em que estão construindo suas habitações, tem arruamento diferenciado, e coleta de lixo e uma série de outros serviços não conseguem chegar. No lado direito da praça, na área central do bairro, já é possível encontrar casas muito boas e residências valorizadas, além de vários conjuntos habitacionais que não são classificados como favela”, detalha André.

A análise do bairro feita pelo superintendente corresponde à visão de moradores. Uma comunicadora, que vive na região e preferiu não se identificar, conta que desde sempre Pernambués convive com a contradição do subdesenvolvimento em algumas áreas em detrimento do desenvolvimento de outras. Uma vez que maior parte da população vive em conglomerados, ela acredita ser justa a aplicação do termo favela.

“Eu fico feliz que o bairro tenha recebido essa classificação, porque não vejo favela como algo ruim. Acho, inclusive, que os imóveis são tão caros porque cada vez mais o bairro cresce. A população de outras regiões fica procurando, no bairro, locais mais próximos dos serviços. Eu moro, por exemplo, em um condomínio perto de onde tem muito comércio, vários serviços e boa estrutura”, afirma.

Por sua vez, o fotógrafo Lucas França, 22, acredita que o bairro tem imóveis valorizados pela localização estratégica, já que sofre com relevo de morro em alguns pontos e falta de serviços, como saneamento básico. “É um bairro perto de uma estação de metrô, de um shopping e da rodoviária, além do BRT. Fora isso, não tem muitos motivos para pagar R$ 1 mil em uma casa que fica dentro de uma favela. As residências que colocam para alugar ou vender nem são muito boas”, opina o morador.

Márcio Lima, vice-presidente da Central Única das Favelas (Cufa) e presidente da Cufa Bahia, ressalta que o fato de ser classificado como favela não apaga as potencialidades do bairro, inclusive no que diz respeito à economia e ao setor imobiliário. “Pernambués, hoje, tem um grande exemplo de moradores que têm custo de vida elevado comparado a algumas regiões no entorno do Shopping da Bahia”, aponta.

“Pernambués não só é populoso enquanto favela, mas movimenta uma economia muito grande dentro do território. Tem muitos hotéis dentro do bairro e muito comércio. Quando ouvi alguns moradores, eles disseram que é muito mais caro comprar no mercadinho de Pernambués do que no centro da cidade, porque o poder aquisitivo e de consumo aumentou no bairro. Então, isso desmitifica a crença de que favela é um lugar feio e sujo, apenas”, enfatiza.

Márcio Lima ainda acrescenta que o bairro como um todo precisa de maiores investimentos e desenvolvimento em serviços básicos, como creches, escolas e maior atuação da segurança pública, mas há pontos positivos em outros aspectos, sobretudo na economia local.