Baianos percorrem, em média, 213 quilômetros para atendimentos de saúde no estado

Salvador é a cidade mais procurada para procedimentos de alta complexidade

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  • Maysa Polcri

Publicado em 12 de setembro de 2024 às 05:00

Sete pacientes morreram na BR-324 em menos de 10 dias
Sete pacientes morreram na BR-324 em menos de 10 dias Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Em menos de duas semanas, sete pessoas que viajavam para fazer tratamento de saúde em Salvador morreram em acidentes na BR-324. O último deles aconteceu na manhã dessa quarta-feira (11), quando uma van que transportava 16 passageiros colidiu com um caminhão. Três mulheres, sendo duas irmãs, não resistiram. Pacientes do interior do estado, que não conseguem atendimento nos municípios em que moram, recorrem ao Transporte Fora do Domicílio (TFD) para se deslocar até a capital. Para atendimentos de alta complexidade, a distância média a ser percorrida é de 213 quilômetros.

Nesses casos, os pacientes são submetidos a procedimentos que envolvem internação, cirurgias, tratamentos de câncer, além de exames como ressonância magnética e tomografia. Já para atendimentos de baixa ou média complexidade, como consultas e exames, o trajeto médio percorrido é de 84 quilômetros. Os dados fazem parte do estudo Região de Influência das Cidades (Regic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As informações, referentes ao ano de 2020, são as mais recentes sobre o assunto. Mariana Viveiros, supervisora do IBGE, analisa, no entanto, que, em quatro anos, os dados não devem ter sofrido alterações significativas. “Para que as distâncias percorridas e a centralidade de Salvador para tratamentos complexos mudassem, seria preciso que novos hospitais, no plural, tivessem sido construídos e que estivessem atendendo”, afirma.

Os pacientes que saíram de Mutuípe em direção a capital iriam percorrer 246 quilômetros. O trajeto foi interrompido na altura da cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), quando a van que transportava os passageiros colidiu com um caminhão. Um motorista de TFD da cidade de Ribeira do Amparo desabafa sobre os problemas enfrentados durante o percurso até a capital transportando pacientes.

“Nós damos início às viagens a partir de meia-noite, e tem vezes que fazemos entregas em até 15 unidades de saúde. Não temos suporte suficiente porque a demanda é muito grande e fazemos trajetos muito longos”, lamenta o motorista. O Manual de Normatização do Tratamento Fora do Domicílio prevê que o deslocamento de pacientes para tratamentos médicos na Bahia é “de responsabilidade dos gestores municipais de saúde”. Os atendimentos devem ser agendados com antecedência mínima de 15 dias.

Na semana passada, outro veículo que transportava pacientes do interior se envolveu em um acidente na BR-324, dessa vez em São Sebastião do Passé. O ônibus transportava pacientes da cidade de Canarana, no norte do estado. Quatro pessoas morreram.

A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) foi questionada sobre o número de pacientes que chegam à capital para atendimentos diariamente, mas a pasta disse que não faz esse controle. “Existe uma pactuação entre as localidades, inclusive com transferências de recursos entre os municípios. Isso ocorre em diversas áreas, em especial, com oncologia, transplantes e cirurgias especializadas”, diz a secretaria.

“Salvador é referência para muitos tratamentos de alta complexidade, contudo Vitória da Conquista, Feira de Santana, Juazeiro, Barreiras, Porto Seguro, Teixeira de Freitas, dentre outras localidades com maior infraestrutura, também recebem pacientes oriundos de municípios menores”, completa a Sesab. Apesar disso, a centralização dos serviços na capital ainda é uma realidade.

Prova disso é que seis em cada 10 cidades baianas citam Salvador como destino para tratamentos médicos de alta complexidade, segundo o estudo sobre Região de Influência das Cidades. Em 2020, a cidade foi a terceira mais citada como destino para esse tipo de atendimento, atrás apenas de Teresina (Piauí) e Belo Horizonte (MG).