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Vitor Rocha
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 22:43
Os baianos que atingiram os 60 anos têm, em média, mais 22,8 anos de expectativa de vida, podendo alcançar uma idade próxima aos 83. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, o indicador estadual era ligeiramente melhor que o nacional, anotando 0,3 a mais no mesmo quesito e atingindo a 11ª colocação entre todas as unidades federativas. O primeiro lugar da pesquisa ficou com o Distrito Federal (24,3), enquanto o último foi Alagoas (21,3).
Sem o recorte de idade, o levantamento aponta que a esperança de vida dos baianos, registrada em 75,6 anos, aumentou 10 meses e 24 dias frente a 2022, quando foram contabilizados 74,7. Ainda assim, a média do estado é a 10ª mais baixa do país, sendo apenas a 6ª na região Nordeste e menor que a do Brasil, que anotou 76,4.
O contraste entre a expectativa geral e a notada a partir dos 60 anos ocorre devido à quantidade de mortes ocorridas antes da velhice. É o que informa Marcio Santana, médico e fundador do programa Envelhecer Saudável, que destaca a desigualdade social como uma das causas. “Infelizmente, muitos jovens se envolvem na criminalidade em nosso estado. Muitos dos que chegam aos 60 anos e passaram pelas mesmas dificuldades destes jovens conseguiram achar outros meios sociais que os direcionassem para outro caminho”, disse.
De acordo com Bruno Chagas, médico geriatra do Hospital Agenor Paiva, a disparidade econômica entre os estados do Brasil promove a diferença na longevidade das populações. “A Bahia está entre os dez piores índices educacionais, quase metade da população ainda não é atendida por rede de esgoto, segundo o Censo de 2022 do IBGE. O estado mais violento do Brasil é a Bahia, de acordo com o Atlas da Violência de 2024”, ressaltou.
A distância para grandes centros de saúde e a exaustão para fechar as contas no final do mês também dificultam as pessoas a terem uma vida saudável. A aposentada Maria Augusta de Lima, de 61 anos, por exemplo, mora em Mata de Capim, distrito de São Gonçalo dos Campos, município próximo a Feira de Santana, e relata problemas para realizar procedimentos médicos. “Aqui tem um posto, mas para fazer os exames precisa ir até outra cidade. Isso é muito difícil, porque o transporte aqui é muito ruim. Eu sou hipertensa, preciso sair a cada três meses para buscar receitas. Estou em uma idade que doi os pés, as costas, o pescoço”, contou.
Uma outra impressão equivocada, segundo Marcio Santana, é que a saúde se restringe a emagrecer e engordar. Para ele, há quatro pilares para uma vida saudável: espiritual, emocional, psicológica e física. “A espiritual é a fé, independente da religião, de que tudo vai ser melhor. A emocional são as conexões sociais e não nos alimentar só de coisas negativas que estão sendo jogadas a todo o momento. Quando eu falo psicológico é sobre manter sua mente ativa, promovendo neuroplasticidade”, explicou.
Para Bruno, a busca pela saúde passa não só pelos hábitos individuais, como alimentação e idas ao médico, mas também pelos coletivos. “Podemos aumentar a expectativa de vida aumentando as políticas de acesso à saúde em todos os níveis de atenção, saneamento básico, educação e reduzindo índices de violência”, disse.