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Perla Ribeiro
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 13:45
Dono de um brechó que leva o próprio nome, o baiano Lázaro França, conheceu o Desapego Legal, brechó famoso por só vender peças de luxo, em 2020. Na ocasião, ele queria vender uma carteira da Channel e acabou efetuando o negócio. Desde então, as transações foram aumentando. Vez ou outra tinha problema com um cheque, mas logo era resolvido. No entanto, a partir de janeiro de 2024, o negócio começou a degringolar. Os cheques começaram a voltar e a empresa não apresentava nenhuma alternativa para resolver o problema. Assim como Lázaro, pelo menos 200 pessoas no país sofreram calote do Desapego Legal. Somando todas as vítimas, o prejuízo estimado é de R$ 5 milhões. >
Lázaro pegava produtos de luxo de clientes que o procuravam para vender, enviava para o Desapego Legal e ganhava uma comissão em cima das vendas. Ele conta que entre novembro e dezembro de 2023 conseguiu levantar uma boa quantidade de bolsas e joias e enviou para São Paulo."Era sempre assim, mandava um produto, negociava o valor, chegava um cheque pra mim e eu passava para as clientes. Quando a cliente recebia, passava a minha comissão", explica.>
O sinal de alerta veio quando os cheques começaram a voltar e Lázaro se viu num cenário de desespero. "Foi um dos piores momentos da minha vida, me encontrei ali no meio de um tiroteio e eu precisava resolver. Os cheques voltavam e não tinha o dinheiro nem o produto que mandei para São Paulo e foi vendido. Foi onde começou o estresse. Precisava devolver os produtos às clientes porque não era justo estar com aquele monte de cheques das pessoas daqui de Salvador e os cheques voltando e sem uma data", conta.>
Diante das inúmeras reprogramações para o pagamento e nenhuma sendo cumprida, Lázaro se viu na obrigação de se desfazer do próprio patrimônio para pagar às pessoas que confiaram a venda dos produtos de luxo a ele. "Bateu o desespero e comecei a vender tudo o que eu tinha de valor. Tinha comprado um carro, tive que me desfazer da compra e pegar o dinheiro de volta para poder honrar com minhas clientes. Tinha comprado pulseira de esmeralda e tive que vender, vendi relógio. Fiz empréstimo em banco, peguei dinheiro a juros e até hoje eu pago por esse empréstimo", lamenta.>
Na ocasião, Lázaro descobriu que não era o única vítima de calote do Desapego Legal. Detalhe, as mesmas desculpas que a dona do negócio dava para ele, usava para os outros alvos. "A mesma desculpa que era para mim era para as outras pessoas que ela estava devendo. Hoje, de acordo com a matéria do Fantástico, é um prejuízo que passa de R$ 5 milhões, o meu é de R$ 150 mil. Faz muita falta R$ 150 mil. Quem é que não quer R$ 150 mil hoje? Eu quero R$ 150 mil".>
O baiano diz que tentou evitar ao máximo ir a rede nacional de televisão falar sobre o calote, mas que foi necessário porque todas as outras tentativas de negociações foram em vão. "Tentei evitar ao máximo, tentei fazer vários acordos. Me diziam: Lázaro, hoje o financeiro vai te passar uma programação de pagamento, me envia a planilha. Essa planilha eu mandei mais de 30 vezes. Tentei da maneira mais civilizada possível não entrar em atrito, em briga, muito menos ir pra televisão, aparecer chorando. Mas como é que não chora tendo que pagar mais de R$ 100 mil? Não é justo isso. Me encontrei numa situação devastadora, onde não podia nem sequer recorrer à família. Minha mãe ficou sabendo da situação agora, da pior maneira possível".>
Depois do caso ir parar no Fantástico, Lázaro diz que espera que a empresa pague pelo que ela fez. "Espero reaver meu dinheiro, q ela me pague de alguma forma. Me dê um carro, me dê um bem, para que eu não fique no prejuízo. Tenho um monte de cheques na minha casa sem futuro algum, o que me resta mesmo é a justiça do nosso país. Infelizmente também não é algo tão rápido, mas espero reaver o meu dinheiro o mais rápido possível", torce.>
Outras vítimas na Bahia >
A rede social do brechó reúne 221 mil seguidores e teve seus comentários limitados. Nela, diz que a marca recruta e vende acessórios de luxo desde 2012 e que realiza curadoria exclusiva, além de garantir a autenticidade das peças. No site Reclame Aqui a reputação da empresa consta como não recomendada. Só lá, acumulam 190 queixas. Além de Lázaro, o Desapego Legal causou prejuízo a mais pessoas na Bahia. Entre elas, há uma baiana, de Ribeira do Pombal. Ela denuncia, no Reclame Aqui, que em outubro de 2024 o brechó online entrou em contato perguntando se tinha peças para desapegar. "Separei algumas peças, no valor de R$ 6.600 e envie pra eles. Venderam minhas peças e disseram que um mês depois eu ia receber. Chegou a data e nada de receber, a dona deu outro prazo, depois mandou pelo zap que eu iria receber em 15 de janeiro 2025, outra vez não cumpriu o pagamento.>
Ela diz que agora prometem pagar em cinco parcelas, com término em junho. 'Um verdadeiro absurdo, eles vendem nossas peças, ficam com o dinheiro e não repassam ao fornecedor. Vou buscar meios judicias por que vejo que eu não sou a única que está sendo enganada" Outra pessoa da Bahia narrou o prejuízo no Reclame Aqui. Ela conta que enviou quatro bolsas e um chaveiro de luxo. "O acertado foi R$ 6 mil reais. Ela vendeu todos os meus itens e não me pagou. Sempre com alguma desculpa esfarrapada. Por fim, registrei aqui minha reclamação e ela pagou uma parte do que acordamos na condição de eu tirar a reclamação. Restam R$ 4 mil e ela sempre aparece com desculpas estapafúrdias. Não respeita o cliente e não honra o que diz", denuncia.>
Outra vítima de Salvador buscou o Reclame Aqui para denunciar que sua saga com o Desapego Legal começou em fevereiro de 2024, quando mandou duas bolsas para eles. Na ocasião, ela tinha um crédito de compra de uma bolsa que ela devolveu e ficou faltando a restituição do valor. As bolsas enviadas foram vendidas em abril e até outubro, quando foi publicado o relato, o pagamento não havia sido efetuado ainda. "Dia 7 e outubro e nada de pagamento, mandei mensagem, e no dia 9 de outubro, disseram que iriam verificar. Sumiram e, no dia 16 de outubro, disseram que seria creditado no dia 17 de outubro. Hoje, dia 23 de outubro, não me responderam e não realizaram pagamento", lamentou.>