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Larissa Almeida
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 05:39
Em Rio Real, cidade que lidera a produção de laranja na Bahia, o produtor Reginaldo Corsino do Nascimento se enveredou no ramo da citricultura há 12 anos, na Fazenda Santa Cruz. Sem planejamento financeiro e com pouco conhecimento do manejo, a produtividade era tão baixa que, vez ou outra, a família precisava recorrer a empréstimos bancários para compensar a produção. Contudo, há cerca de três anos, tudo mudou. A produção de laranja, que antes rendia 12 a 15 toneladas por hectare, passou a produzir 30 toneladas por hectare, anualmente.
“Nós evoluímos muito através do conhecimento que obtivemos com um curso do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Eu tinha um pomar em 2012, mas destruí e fiquei praticamente sem recurso. Depois, voltei a fazer o pomar em 2016, só com a fé e com a coragem. Meu filho, que estava fazendo Engenharia Civil, resolveu fazer um curso de Agronomia para me ajudar e foi então que começamos a trabalhar adequadamente”, conta Reginaldo.
Com a ajuda do filho Gabriel do Nascimento, Reginaldo fez a correção do solo, o que possibilitou que a planta evoluísse. Para esse processo inicial, houve mais pedidos de empréstimos no banco por parte de toda a família. O diferencial é que, nesta ocasião, todo o dinheiro investido retornou, pagou o empréstimo e ainda rendeu lucro para a Fazenda Santa Cruz.
“Do ano passado para cá, eu vendi umas 40 toneladas de laranja a R$ 2.250,00. Esse salto já fez a gente sair do vermelho e fazer mais investimentos para a laranja prosperar mais. Também passamos a trabalhar na margem de lucro. Hoje, nós temos estimativa de produtividade de 40 toneladas por hectare para o ano que vem”, diz.
Com cinco hectares de área plantada, a laranja colhida na Fazenda Santa Cruz é vendida para a região de Rio Real, para a esmagadora da empresa Maratá e para São Paulo, onde grande parte dos produtores da commodity estão passando por uma crise desencadeada pela praga greening – também conhecida como Amarelão dos Citros.
Também em Rio Real, o processo de produção do pequeno agricultor Luan Roger, 29 anos, começou em 2019. Sem saber adequadamente o manejo para produzir a laranja, ele chegou a perder toda uma plantação e quase desistiu por completo da citricultura até ser convidado para fazer parte de um programa de capacitação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade vinculada à Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb).
“O primeiro curso que eu fiz relacionado ao acompanhamento técnico foi o de Gestão Rural. Quando eu comecei a aprender a colocar tudo na ponta do lápis, falei: ‘fiquei rico’. Só que foi apenas o tempo de destrinchar as contas que vi que estava ficando pobre de novo. Isso tudo porque eu não costumava anotar os custos. Então, decidi fazer tudo diferente em 2022. Peguei o valor que eu tinha, fiz um orçamento de adubo, pulverização, muda e preparação da terra para ver se dava. Só quando consegui o dinheiro, que eu investi”, conta.
Com a orientação técnica, Luan aprendeu a cortar gastos e a fazer a poda da planta. Ele também investiu em diversos cultivares de laranja, como a laranja-pera, laranja-poncã e laranja-lima. Desde que plantou, já colheu 5.840 kg, sendo que a última retirada lhe rendeu 3.200 kg. “Somando tudo, eu consegui lucrar R$ 7 mil só nesse ano”, comemora.
A laranja produzida nas terras de Luan vai diretamente para Estância, em Sergipe, ou para os estabelecimentos da região. Quem testemunha todo o processo com alegria é Marielza Santana, 58 anos, mãe do citricultor. “Hoje, eu me sinto feliz e realizada, porque não me falta nada. Antes, faltava porque eu recebia um salário só para cuidar da minha família. Eu sempre batalhei para nunca deixar o pão faltar na minha mesa e, hoje, tenho fartura”, celebra.
Na Fazenda Agrocitrus, a produção de laranja ocorre em escala maior. Com mais de 791 hectares plantado, as terras renderam 30.813 toneladas da fruta somente em 2023. O segredo para a produtividade é contado por Marciel Germano, agrônomo e gerente da fazenda. “Deixamos a planta crescer entre 30 e 50 centímetros para manter o manejo que fazemos. Nos últimos três anos, também tivemos chuva fora de época, o que nos proporcionou algumas floradas”, relata.
“Quando não chove, nós molhamos os pomares novos com caminhão-pipa. Na realidade, só conseguimos essa produção que temos na Agrocitrus hoje graças à tecnologia. Hoje, dispomos de máquinas, pulverizadores de última geração, fazemos uso de drones para fazer mapeamento das áreas e contagem de plantas para tomar a decisão de compra de insumos”, acrescenta Marciel Germano.
A produção cítrica da fazenda, por sua vez, é destinada a compradores de diversos estados. Entre eles, estão Alagoas, Pernambuco, Fortaleza, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Os dois últimos são os maiores compradores, de acordo com a gestão financeira da Agrocitrus.