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Baiana é aprovada em seis universidades internacionais e faz campanha para estudar

Ana Carla Carlos conquistou vaga no mestrado e começou a fazer uma 'vaquinha' diferente: todo valor arrecadado será reinvestido após o curso para ajudar outros estudantes

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 6 de junho de 2020 às 21:52

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Divulgação

O sonho de mudar o mundo é desde quando era criança. A baiana Ana Carla Carlos, de 30 anos, sempre se viu movida pelo propósito de ser um agente de transformação, independentemente de onde estivesse. E essa vontade guiou toda a trajetória dela até conquistar a aprovação em um mestrado nas áreas de Estudos do Desenvolvimento e Políticas Públicas em seis universidades estrangeiras que estão entre as melhores do mundo, entre elas a Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. 

Do bairro de Cajazeiras para o mundo, viu a desigualdade de perto, quando todos seus amigos eram estudantes de escola pública, enquanto ela, com muito esforço da mãe, era a única que estudava em grandes escolas particulares de Salvador, como o Colégio Villa Lobos.  Ana Carla cresceu em Cajazeiras e contou com muito esforço da mãe para estudar em escolas particulares (Foto: Acervo pessoal) “Ao perceber esta desigualdade, eu vi que queria entender um pouco mais qual era o papel dos governos e das organizações internacionais em garantir esses direitos. Fiz faculdade de Relações Internacionais e percebi mais ainda que o que eu sempre quis, de fato, era mudar a vida das pessoas. E foi nesse momento que eu enxerguei o que queria para mim”, afirma. 

O sonho, porém, tem um preço. Entre as seis universidades, Ana optou pelo concorrido Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento (IHEID), na Suíça. A instituição é renomada e de excelência na Europa e fica na cidade de Genebra, sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de ter conseguido juntar R$ 74,5 mil em dois anos, ainda faltam R$ 95,5 mil para arcar com todas as despesas exigidas pelo mestrado e para conseguir morar fora do país. 

A viagem está prevista para o mês de setembro. Daqui até lá, Ana Carla está promevendo uma vaquinha solidária para juntar o montante de R$ 170 mil, que vai além da doação na plataforma de croudfouding Catarse ou depósito na conta bancária. Ela conta também com um brechó de roupas e um bazar de livros (ambos online) e mais a oferta de serviços como aulas de inglês e consultoria para quem quer estudar no exterior. A campanha foi lançada há uma semana e conseguiu arrecadar, até agora, 24% do total. “Uma coisa que para mim é muito importante é que todas as pessoas tenham os mesmos direitos e oportunidades. Quando eu voltar, pretendo devolver todo esse conhecimento para a minha comunidade. Todo valor do apoio, eu vou retribuir 100% para outras pessoas que tiveram essa trajetória como a minha e, com isso, garantir que elas possam ser ajudadas em seus estudos”, garante.  A doação a partir de R$ 20 pode ser feita através do site www.catarse.me/ajude_ana_a_estudar_na_suica.  Também é possível contribuir com valores menores, via transferência bancária. Todas as informações estão disponíveis na página. Ana, que já vendeu de pen drive a capa de celular na faculdade para pagar os estudos, destaca que qualquer ajuda é muito bem-vinda. “Tudo que eu consegui foi conquistado sempre com muito esforço. Esse é meu compromisso. É uma corrente do bem. A gente precisa fazer essa roda girar e ser agentes de mudança onde quer que esteja”. 

História

Ana Carla passou por intercâmbios na Argentina e no Canadá. Trabalhou ainda na Prefeitura Municipal de Salvador e, de 2015 até o ano passado, foi consultora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em Salvador. Ela se especializou em Gestão de Projetos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e desenvolveu estratégias para aperfeiçoar políticas públicas para infância e adolescência em nível municipal.“Os desafios que tive com estas experiências, sobretudo na Unicef, me mostraram a necessidade de me aprofundar, criar ferramentas práticas para melhorar as políticas públicas no meu município e para isso, eu precisava beber na água de outros países que conseguiram lidar com a pobreza e a desigualdade”, pontua a graduada em relações internacionais.  Formada em relações internacionais, Ana foi aprovada em todos os seis processos em que se inscreveu (Foto: Acervo pessoal) Ana iniciou a candidatura aos processos de seleção em dezembro de 2019 e recebeu os resultados entre os meses de fevereiro e maio deste ano. A escolha do Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento (IHEID), na Suíça, é uma oportunidade de estar mais próxima dos debates internacionais sobre Direitos Humanos. 

“Comecei a me preparar, estudar muito inglês. Tem gente do muito inteiro que concorre a estas vagas. A escolha foi difícil, porque todas são universidades muito boas e reconhecidas internacionalmente. Porém, a chance de estar mais próxima da sede da Onu na Europa significa uma oportunidade ímpar de estar em um lugar que respira políticas públicas e direitos humanos. A Europa é um celeiro muito importante para pensar estes temas”, completa ela, que segue na torcida para conseguir bater a meta da campanha e partir rumo ao mestrado.