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Emilly Oliveira
Publicado em 25 de julho de 2023 às 06:00
O desejo de entender os aspectos da sociedade, mas não encontrar programas voltados para estudantes do ensino médio pesquisarem sobre o tema na Bahia, inspirou a baiana Júlia Carolina Carvalho, de 18 anos, a trabalhar para reverter esse quadro. No ano passado, ela criou um projeto que garante o acesso de alunos de escolas públicas de todo o país à pesquisa científica, conectando-os com universitários, mestres e doutores.
Batizado de Iniciativa Logos, em menos de um ano, o projeto já conectou 20 mentores com 30 estudantes e chamou a atenção da organização internacional sem fins lucrativos Ashoka, que busca destacar lideranças sociais no mundo inteiro. Por causa desse reconhecimento, Júlia foi selecionada para a turma de Jovens Transformadores da Ashoka 2023, e foi apresentada como uma jovem transformadora no Festival LED – Luz na Educação, realizado no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, em junho deste ano.
O projeto nasceu a partir da experiência de Júlia como estudante no Colégio Militar de Salvador, diante da dificuldade de encontrar grupos de iniciação científica na instituição, na cidade e até mesmo na Bahia, principalmente de Ciências Sociais, Economia e Política. A melhor oportunidade que ela encontrou para se aprofundar nesses temas foi em um programa de iniciação científica internacional, do qual precisou trabalhar um ano para juntar o dinheiro necessário para participar.
Com a ajuda dos colegas Felipe Pimenta e Maria Dulce, se inspirou nas iniciativas de fora e buscou parcerias para que mais estudantes tivessem a mesma oportunidade, de forma gratuita, principalmente no interior do estado. A Fundação Anísio Teixeira abraçou o projeto e, juntos, a instituição e a Logos passaram a oferecer, em agosto do ano passado, um curso de iniciação científica on-line, em que os participantes recebem aulas semanais e mentoria individual para produzirem um artigo acadêmico com temas voltados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Além disso, o projeto da baiana conta com um programa de multiplicadores formado por 10 estudantes de escolas do Norte e interior do Nordeste, escalados para falarem sobre iniciação científica onde o assunto geralmente recebe pouco destaque. Outra ação realizada na Logos é ajudar gestores de escolas públicas a criarem núcleos de iniciação científica. A iniciativa também está com inscrições abertas para a primeira Premiação Logos, que pagará até R$ 1 mil para projetos de pesquisa de estudantes do nono ano do ensino fundamental ao primeiro ano de faculdade, de instituições públicas e privadas.
“Quero que os estudantes encontrem menos barreiras para serem pesquisadores. Também percebi que gosto de uma educação diferente do método tradicional de ensino, que dê ferramentas para pensar o mundo efetivamente. Para mim, a política e a economia são conhecimentos que ensinam sobre o mundo, mas também permitem que você o mude”, declara Júlia.
O curso está no terceiro ciclo e conta com estudantes de diversas partes do país, como Rondônia, Pará, São Paulo e Goiás, além da Bahia. “Participando da Logos, percebi que os atos de questionar e observar são naturais. E poder transformar isso em um artigo de forma produtiva foi uma grande oportunidade para mim. Estou prestes a entrar na faculdade e agora sei como fazer um artigo. É uma experiência que considero importante porque democratiza esse tipo de aprendizado”, avalia a estudante Helena Vahalla, 17, de Cipó, no interior da Bahia, a 257 km de Salvador.
Conhecimento maior
Assim como eles, os mentores também estão espalhados pelos estados brasileiros. Um deles é o carioca Pedro Elgaly, sociólogo e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Centro Lemann.
Segundo ele, apesar da maioria dos mentorados já terem participado de atividades extracurriculares - mesmo não sendo um pré-requisito do curso - eles ainda possuem pouco conhecimento sobre as metodologias de pesquisa.
“A gente chega a ser introduzido ao método científico na escola, mas de forma muito superficial [...] Então eles saem do programa com um conhecimento muito mais aprofundado em metodologia científica do que a maioria dos graduandos de cursos científicos do Brasil. Com certeza eles vão entrar na universidade mais preparados até do que alunos que tiveram todos os privilégios”, aponta Pedro.
Para Midria Pereira, que coordena a comunidade de Jovens Transformadores da Ashoka no Brasil, foi a capacidade de gerar outros jovens transformadores que chamou a atenção para o projeto da baiana. “O encontro com outras mentes criativas e pessoas comprometidas com o social oferece um senso de pertencimento e apoio mútuo aos jovens”, destaca.
O Agenda Bahia 2023 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, apoio institucional do Sebrae, apoio da Wilson Sons, Salvador Bahia Airport e 4events e parceria da Braskem e Rede+.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela