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Bahia tem mais de 3,5 mil pessoas esperando por doação de órgãos

Autorização eletrônica facilita doações de órgãos em todo o país

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 25 de setembro de 2024 às 05:45

Transplante de órgão
Transplante de órgão Crédito: Shutterstock

Em um ano, o número de pessoas que aguardam transplantes de órgãos na Bahia cresceu 19%. Entre janeiro e agosto deste ano 3.555 pacientes entraram na lista de espera. No ano passado foram 2.979, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). O rim aparece como o órgão mais procurado, sendo necessário para 1.908 baianos. Em seguida aparecem as córneas (1.606) e o fígado (40).

Para Eraldo Moura, coordenador do Sistema Estadual de Transplantes, o aumento tem relação com o maior conhecimento da população sobre a doação de órgãos. Na sexta-feira (27), será celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos. 

“O aumento denota o maior acesso à lista de pacientes que precisam de transplantes. É um número grande em comparação com o número passado, mas também aumentamos o número dos transplantes realizados”, diz Eraldo Moura. Nos primeiros oito meses deste ano, 737 transplantes foram feitos na Bahia. No ano anterior, foram 702. A doação, no entanto, ainda esbarra no preconceito das famílias.

“Nosso maior desafio é fazer com que a sociedade entenda a importância e possa autorizar a doação. Ainda há muito desconhecimento. Qualquer pessoa pode vir a precisar de um transplante e só vai conseguir caso alguém doe. Se a sociedade doa, ela é beneficiada”, completa o coordenador do Sistema de Transplantes. Neste ano, 34 pessoas morreram na fila de espera por um órgão na Bahia.

O engenheiro agrônomo Antônio Muccini, 58, lembra com detalhes do dia em que descobriu que precisaria de um transplante de fígado. A notícia veio no dia 28 de maio de 2021 e, dentro do consultório médico, ele não conseguiu esboçar reação. "Fui com minha esposa ao consultório, levando vários resultados de exames e cheio de perguntas para fazer ao médico. Eu estava de licença, dependia de cuidados e queria minha saúde de volta. Nesse dia, o médico disse que ia me encaminhar para o transplante. Eu e minha mulher não falamos nenhuma palavra”, recorda.

Antônio Muccini - Passou por um transplante de fígado
Antônio Muccini  passou por um transplante de fígado Crédito: Ana Albuquerque

Antônio foi internado diversas vezes, durante a pandemia de Covid-19, até conseguir o transplante, depois de quatro meses de espera. O período foi marcado por medo e dúvidas. “Eu pensava que precisaria que alguém morresse, que o órgão fosse compatível e que a família autorizasse. Além de passar pela cirurgia. Aquilo parecia algo muito distante, mas me cuidei como podia até o transplante”, conta.

Hoje, Antônio Muccini leva uma vida normal, graças à doação de um homem dez anos mais novo que ele, que faleceu em Itabuna. Essas são as únicas informações que o engenheiro possui sobre seu doador. "A cirurgia foi bem sucedida. Trabalho como engenheiro agrônomo, subo ladeira, vou para o meio do mato e levo uma vida absolutamente normal. Os cuidados são os mesmos de qualquer outra pessoa", comemora. 

Desde abril deste ano, doar órgãos está mais fácil em todo o Brasil. Isso acontece devido a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aêdo), parceria entre o Colégio Notarial do Brasil e o Ministério da Saúde.

O documento digital pode ser preenchido de forma gratuita neste site. Nele, a pessoa escolhe qual órgão deseja doar, faz uma videoconferência para que sua vontade seja registrada e assina a autorização digitalmente. Com isso, o desejo de doar passa a ser oficial em caso de morte.

Para Eraldo Moura, coordenador do Sistema de Transplantes, a medida deve aumentar o número de doadores. “Essa é uma ferramenta que permite que as pessoas se declarem doadores de órgãos. Isso não exclui a necessidade de autorização familiar, mas o documento permite que os familiares sejam informados que a doação foi autorizada, em vida, pelo parente”, diz.

Transplante de medula

Um transplante de medula óssea foi realizado, no Hospital Santa Izabel, pela primeira vez, em setembro deste ano. A receptora é paciente em tratamento de câncer no sangue. A médica hematologista e transplantadora, Suellen Riccio, explica que o procedimento é necessário em casos como câncer e doenças reumáticas. 

"Muitas pessoas acreditam que doar medula é um processo doloroso ou muito extenso em relação à sua duração. No entanto, o doador é atendido de forma muito cuidadosa afim de minimizar qualquer risco possível. A doação é indolor e dura cerca de cinco a seis horas. Após a verificação da quantidade de células tronco coletadas, o doador é liberado, cerca de dois dias depois", explica.