Bahia tem mais de 300 mil empresas inadimplentes

Empresas devem, em média, R$ 2.569,80

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  • Larissa Almeida

Publicado em 26 de junho de 2024 às 05:00

Endividamento aumentou
Endividamento aumentou Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

Quem sofre um revés nas finanças sabe que a falta de planejamento e a instabilidade econômica são fatores que contribuem para o acúmulo fácil de dívidas. No caso das pessoas jurídicas, o cenário não é diferente. A prova disso é que, na Bahia, 318.969 empresas estão inadimplentes e devendo, em média, R$ 2.569,80. Ao total, o débito em aberto soma R$ 4,9 bilhões, de acordo com os dados mais recentes do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, divulgados em março deste ano.

O número de empresas inadimplentes registrou queda de 5,5% em relação ao ano passado, quando existiam 337.722 negócios formais endividados no estado. Para Adriana Pereira, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a redução é modesta e se deve ao aumento de poder aquisitivo da população e à ampliação do acesso ao crédito, que ajudou a movimentar de forma mais intensa a economia.

Ainda de acordo com a analista, os negócios mais suscetíveis ao endividamento são as micro e pequenas empresas, que via de regra não têm um grande capital de giro. “Quem mais se endivida é quem não tem um patrimônio grande. As pequenas empresas acabam tendo que, inevitavelmente, recorrer a um terceiro quando têm um problema ou uma dificuldade maior, muitas vezes até se endividando com o fornecedor. Elas também são as que mais têm dificuldade de sair do vermelho, seja por falta de planejamento que ofereça saídas alternativas ou pelo cenário econômico”, aponta.

No caso a Ike Social, uma pequena empresa digital que oferece capacitação para assistentes sociais atuarem como autônomas, o fim esteve próximo por endividamento e inexperiência profissional em 2022. “[Houve] falta de gestão e quase quebrou. A dívida era por volta de R$ 60 mil. Para sair dessa situação, coloquei mais tração no negócio, trabalhei o braço da minha marca pessoal e aumentei o meu ticket médio. Consegue sair do vermelho e hoje sigo construindo uma empresa que dá lucro”, conta a proprietária Abidjan Rosa, de 36 anos.

Abidjan Rosa, proprietária da Ike Social Crédito: Acervo pessoal

De acordo com o economista Edisio Freire, são justamente as empresas do setor de serviços aquelas que mais sofrem com endividamentos, seguida pelas empresas do setor industrial. “Mas isso não se dá porque o segmento de serviço em si é um segmento que gera endividamento”, ressalta. “O primeiro fator que esclarece esse quadro é que, do total de empresas existentes no país, abertas e funcionando, um percentual acima de 55% a 59% é de serviços”, pontua.

“Então, se eu tenho mais empresas do segmento, é natural que ele apresente percentuais maiores de endividamento. O segundo fator é que temos algumas empresas de serviço no campo da informalidade e isso acaba fazendo com que essas empresas se endividem, fiquem sem operar e entrem para a estatística”, completa.

Guilherme Dietze, consultor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), enfatiza que o cenário de inadimplência das empresas baianas gera um risco maior para o aquecimento da economia e indica caminhos possíveis para a reversão dessa situação. “É importante que haja uma retomada mais forte da economia, que o Governo sinalize com o equilíbrio das suas contas públicas. Isso ajuda o câmbio a reduzir, ajuda a manter a inflação mais controlada, o que implica em redução da taxa de juros, que é o que o empresário precisa. Ele precisa de redução de juros, consumidor mais ativo, com o poder de trabalho muito mais aquecido, e assim por diante, para a gente ter um ciclo mais favorável”, reitera.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro