Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Bahia tem localização estratégica para tráfico de armas

Especialista aponta fragilidades logísticas e demanda de facções criminosas como um dos principais fatores para o uso extensivo de armas ilegais no estado

  • L
  • Larissa Almeida

Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 10:00

Apreensão de armas em Vitória da Conquista Crédito: Divulgação/PRF

Uma ofensiva deflagrada a mando da 2ª Vara Federal de Salvador expediu 54 ordens de busca e apreensão nesta terça-feira (5) em meio a uma investigação sobre tráfico internacional de armas, que teve início após uma apreensão em Vitória da Conquista, em novembro de 2020. Segundo a Polícia Federal (PF), durante os três anos em que uma quadrilha sob suspeita operou, foram apreendidas 659 armas em território brasileiro, durante 67 operações realizadas em 10 estados. Dentre eles, estava a Bahia, que se consolida como um território com localização estratégica para o tráfico de armas.

Segundo Horácio Hastenreiter, professor e coordenador de uma das turmas de Mestrado em Segurança Pública, Justiça e Cidadania da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), esse posto ocupado pelo estado baiano em virtude da sua localização se dá pela existência de vulnerabilidade e facilidade logísticas. “Nós temos mais de mil quilômetros de litoral, isso certamente facilita bastante. Temos uma malha aérea relativamente robusta e outros aspectos de vulnerabilidade que dizem respeito a todo o processo, como transporte e o trabalho para esconder essas armas”, aponta.

Na rota do tráfico internacional, as armas encontradas no estado teriam como destino o uso local por facções criminosas. “A informação que nós temos é que a Bahia também é destino. Sabemos que boa parte das armas do tráfico internacional são encomendadas pelas grandes organizações criminosas do país, basicamente o PCC e o Comando Vermelho. E, dada a presença do Comando Vermelho no nosso estado, acreditamos que boa parte das armas são encomendadas para uso local mesmo”, frisa o especialista.

Ainda segundo o professor Horárcio Hastenreiter, a vinda do Comando Vermelho para a Bahia ocorreu pela falta de espaço no Sudeste do país. Dessa forma, para conseguir espaço no estado, se tratava de lógica a intensificação da demanda por armamento com intuito de guerrear com outras facções. Só neste ano, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 116 armas em território baiano. Mas, conforme afirma Horácio, os números não são tão alarmantes quanto os valores desses armamentos.

“Quando se fala em tráfico internacional, a ordem a ordem de grandeza é de centenas de milhões de dólares. O tráfico internacional de armas é algo muito poderoso, principalmente o que vem da Europa para a América do Sul. Inclusive, é muito significativo para esse momento que vive a segurança pública da Bahia e do Brasil”, diz.

Segundo a Polícia Federal, foi desvendado um esquema bilionário de tráfico ilícito de armas de fogo da Europa para a América do Sul a partir de uma empresa localização em Assunção, no Paraguai, que, segundo estimativas, movimentou mais de R$ 1,2 bilhão nos últimos três anos, na importação de 43 mil armas.

A investigação deu origem à Operação Dakovo, que cumpre mandados nesta terça-feira (5). A 2ª Vara Federal de Salvador expediu 25 mandados de prisões preventivas, seis ordens de prisão temporária e 54 mandados de busca e apreensão em três países: Brasil, Paraguai e Estados Unidos.

No Brasil, os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Praia Grande (SP), São Bernardo do Campo (SP), Ponta Grossa (PR), Foz do Iguaçu (PR), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). 19 pessoas foram presas até o fim da manhã: 5 no Brasil e 14 no Paraguai, conforme informou o ministro da Justiça, Flávio Dino. O principal alvo da operação é o argentino Diego Hernán Dirisio, apontado pela PF como um dos maiores contrabandistas da América do Sul.

Com grande parte das armas importadas da Europa para o Paraguai e, posteriormente, sendo distribuída para o Brasil, o professor Horácio Hastenreiter ainda indica outro fator essencial para o funcionamento do esquema ilegal: a corrupção.

“Boa parte dessas armas chegam através dessas fronteiras internacionais. Quando falamos do tráfico de armas, temos uma situação logística bastante complexa envolvida. Se você deixa de ter um dos elementos da cadeia, não tem uma capacidade de armazenamento no sentido de fazer com que essas armas fiquem escondidas, não tem uma capacidade de transporte e não tem uma uma capacidade de corromper de alguma forma agentes do sistema público, você não consegue fazer com que essas armas cheguem ao destino final”, conclui.

A 2º Vara Federal de Salvador foi procurada pela reportagem para informar mais detalhes da Operação, inclusive informar quantas das armas apreendidas pela Operação Dakovo tinham a Bahia como destino final. A entidade não respondeu até o fechamento da reportagem.

A Polícia Federal foi procurada para falar sobre a Operação Dakovo e disse que não daria entrevista sobre o assunto nesta terça-feira (5).

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) foi procurada pela reportagem para informar o número de armas apreendidas na Bahia em 2023, seus locais de origem e destino, além de comentar a posição da Bahia na rota do tráfico internacional. A pasta não respondeu.

A Polícia Rodoviária Federal foi procurada para comentar sobre a posição da Bahia na rota do tráfico internacional e comentar os dados relativos ao número de apreensão de armas no estado em 2023, mas disse que não poderia fornecer informações para não atrapalhar a operação em curso da Polícia Federal.

A Polícia Civil foi procurada para fornecer dados sobre o número de armas apreendidas no estado em 2022 e 2023, seus locais de origem e destino, e para comentar a posição da Bahia na rota do tráfico internacional de drogas. Em resposta ao CORREIO, informou que dados devem ser solicitados com prazo mínimo de 72 horas e indicou a Polícia Federal como fonte.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo