Bahia tem primeira morte confirmada por febre oropouche; outro caso está em investigação

Estado acumula 691 pacientes infectados em 48 municípios

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  • Gil Santos

Publicado em 17 de junho de 2024 às 14:04

Mosquito é o principal transmissor Crédito: Shutterstock

Uma pessoa morreu vítima de febre oropouche na Bahia. A informação foi divulgada pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), nesta segunda-feira (17). Uma outra pessoa também morreu e a suspeita é que a causa também seja a doença, mas o Ministério da Saúde aguarda exames para confirmar oficialmente o caso.

A Bahia ainda não tinha tido nenhum registro de morte pela doença. Além disso, o estado não tinha registros de casos de febre oropouche desde março deste ano. Agora, os baianos lidaram a lista de infectados no Brasil, com 691 pacientes em 48 municípios.

A morte confirmada pela doença é de uma mulher de 24 anos, que morava em Valença. O caso dela, que não teve o nome divulgado, foi avaliado pela Câmara Técnica da Bahia como positivo para febre oropouche. Em nota, a Sesab informou que a amostra passou por avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial rigorosa. 

"O diagnóstico foi obtido através de RT-PCR para Oropouche, que se mostrou positivo após a exclusão de outras doenças como Zika, Dengue, Chikungunya e Leptospirose, além de infecções por meningococo, Hemophilus e pneumococo, todas apresentando resultados negativos", diz a nota.

A pasta frisou que apesar de ter sido avaliado como positivo pela Câmara Técnica da Bahia, o Ministério da Saúde ainda não confirmou o caso. A outra vítima tinha 22 anos e morava em Camamu. Esse óbito foi registrado como febre oropouche, mas está em investigação e passará pelos mesmos exames submetidos no primeiro caso, adicionando a análise genômica.

A febre oropouche tem sintomas parecidos com os da dengue e da chikungunya, como dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia. Ela é provocada por um arbovírus que é transmitido através da picada de mosquitos. A única forma de identificar a doença é através de exame clínico, epidemiológico e laboratorial. Não existe tratamento específico, a recomendação é fazer repouso e cuidar dos sintomas.

Pesquisa

Nesta segunda-feira (17), foi realizado o 1º Simpósio sobre a febre do oropouche na Bahia, no Gran Hotel Stella Maris, em Salvador. O evento foi uma iniciativa da Sesab para discutir estratégias de enfrentamento da doença, comum na região Norte do país. A principal forma de prevenção é evitar áreas onde há muitos mosquitos e acabar com os criadouros, uma tática parecida com a usada contra o mosquito da dengue.

A titular da Sesab, Roberta Santana, participou da mesa de abertura e explicou que apesar do crescimento de casos, a maioria dos pacientes faz os cuidados em casa, sem registros graves, e a rede de assistência básica ainda não sentiu os efeitos. Os municípios mais afetados são os de Gandu (81 casos) e Amargosa (66), e as regiões de Valença e Ilhéus.

"Estamos fazendo ações na identificação, porque tudo começa na atenção primária, quando o paciente chega com os sintomas, e o fortalecimento do Lacen na identificação laboratorial do vírus e dos núcleos regionais nas coletas das amostras. Fizemos um trabalho com os municípios para identificar esses pacientes e também nos hospitais e UPAs para que a tenha o diagnóstico e o manejo adequado", explicou.

O evento teve palestras e representantes do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde, de universidades e outras instituições públicas, empresas privadas e de secretarias de outros estados. A diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Alda Maria da Cruz, contou como tudo começou com uma busca pelos exames sem diagnóstico.

"Nós tínhamos febre oropouche praticamente restrita a região Norte do país, com Pará, Amazonas e Acre registrando a maior parte dos casos. Quando tivemos a epidemia de dengue e um percentual grande de casos sem diagnóstico definido, o grupo da Fiocruz propôs que fizéssemos um teste molecular que eles haviam desenvolvido e que poderiam identificar outros vírus", explicou.

A partir dessa estratégia foi possível confirmar que muitos desses casos que estavam sem identificação eram de febre oropouche, o que levou o Ministério da Saúde a descentralizar a análise para outros laboratórios centrais do país. A decisão foi tomada em março. A diretora contou que existe uma morte em investigação no Maranhão. A vítima tinha também influenza e está sendo apurado qual doença provocou o óbito.

Há dúvidas sobre o grau de letalidade dessa doença, se o vírus pode ser transmitido da gestante para o bebê e sobre as consequências neurológicas da doença. Desde 1960, foram produzidos apenas 215 artigos sobre o assunto em todo o mundo. O simpósio foi visto como uma oportunidade de estimular novas pesquisas sobre o tema e eventos similares estão sendo realizados pelo país. O auditório ficou lotado e em determinados momentos foi necessário trazer novas cadeiras para acomodar o público.

Especialistas afirmam que o vírus é comum em regiões de mata e que as mudanças climáticas e a interferência do homem no meio ambiente tem relação com o aumento de casos, além do descarte irregular de lixo que possibilita os criadouros dos mosquitos. Eles apontam essas questões e as fake news que tentam descredibilizar as pesquisas e a ciência como os maiores desafios nesse quesito.

O primeiro caso na Bahia foi registrado em março de 2024, antes desse período não havia registros de oropouche no estado. Quando o paciente procurou uma unidade de saúde com sintomas de gripe os médicos tentaram identificar a doença, mas os exames deram negativo para dengue, zika e chikungunya. Os especialistas resolveram fazer o teste para febre oropuche e confirmaram o diagnóstico. O homem tinha retornado de uma viagem ao Norte do país dias antes de manifestar os sintomas.