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Millena Marques
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 15:00
No ranking de estados com mais crianças e adolescentes privados de educação, a Bahia ocupa o segundo lugar, atrás apenas do estado de São Paulo. Ao todo, 364 mil pessoas, entre 0 e 17 anos, sofriam restrição na educação. Os dados são do estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil – 2017 a 2023, divulgado pelo Unicef na última quinta-feira (10). >
O relatório foi elaborado com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) e analisa sete dimensões básicas de direitos: renda, educação, informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil. A dimensão de alimentação também foi avaliada a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Esta é a quarta edição desta pesquisa.>
O estudo é dividido em duas categorias. Primeiro, a privação intermediária, que é quando há acesso ao direito, mas de maneira limitada ou com má qualidade. Já privação extrema é quando não há acesso ao direito. A Bahia é o segundo estado com maior índice de privação intermediária. O líder, São Paulo, tem mais de 431 crianças e adolescentes nessa situação. No quesito extremo, o estado baiano ficou com a sétima posição.>
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Umeru Bahia explica que a multidimensionalidade da pobreza, apontada no levantamento do Unicef, é resultado direto das desigualdades sociais que estruturam a sociedade ao longo dos anos. >
"É também efeito das severas divisões sociais que criaram grupos sociais com mais privilégios do que outros, mas, também, que produziram uma distorcida ideia de que a pobreza é resultado das escolhas das próprias pessoas e não de processos complexos de dominação e concentração de riquezas. A pobreza existe porque é um dos fenômenos sociais que estrutura a sociedade de classes", diz. >
No Brasil, houve uma variação nos índices de privação total, começando em 7,1%, em 2019, e atingindo um pico de 8,8%, em 2021, antes de se estabilizar em 7,7%, em 2023. Com exceção de 2021, a taxa de 2023 é superior à de todos os outros anos, o que indica desafios persistentes no sistema educacional após a pandemia.>
O estudo também mostra que, em 2023, as taxas de crianças de oito a dez anos de idade não alfabetizadas foram consideravelmente mais altas em comparação com crianças da mesma faixa etária em 2019. O ano de 2023 inicia em aproximadamente 30% para crianças de oito anos, e diminui gradativamente até quase 10% aos dez anos. Já 2019 começa em torno de 14% aos oito anos e desce para abaixo de 3% aos dez anos. >
O estudo revelou que mesmo entre alunos de 11 anos, a taxa de analfabetismo em áreas rurais permanece em torno de 10% – comparativamente menor nas áreas urbanas, onde o percentual se aproxima de 0%. "Com crianças e adolescentes vivendo em situações socialmente vulneráveis, a sociedade não terá cidadãos participativos nas questões coletivas, profissionais qualificados para o trabalho e pessoas saudáveis em todos os sentidos. A situação da Bahia ao ter tantas pessoas vivendo em pobreza multidimensional significa uma condição social e econômica ruim para o presente e, também, para o futuro", continua Umeru. >
Ao todo, o Brasil tem 3,39 milhões de crianças e adolescentes que sofrem restrição intermediária na educação e 619 mil em situação extrema (criança que não frequenta unidade de ensino, criança maior de 7 anos que não é alfabetizada e criança entre 9 e 17 anos que não teve acesso à internet nem à TV).>