Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2024 às 18:00
O Brasil continuou sendo em 2023 o campeão mundial de mortes violentas de LGBT+, com 257 mortes documentadas, um caso a mais do registrado em 2022. A Bahia ficou com a quarta posição entre os estados brasileiros e o primeiro lugar no Nordeste, com 22 mortes violentas. Os dados são divulgados há 44 anos pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga ONG LGBT da América Latina.
Segundo o grupo, as conclusões são baseadas em informações coletadas na mídia, em sites de pesquisa da Internet e correspondência enviada ao GGB, já que não existem estatísticas governamentais sobre esses crimes contra a população LGBT.
Em 2023, o Grupo Gay da Bahia (GGB) documentou a morte violenta de 127 travestis e transgêneros, 118 gays, 9 lésbicas e três bissexuais, totalizando 257 vítimas de crimes de ódio no Brasil. Entre as 22 mortes registradas na Bahia, oito delas ocorreram em Salvador, o que representa, aproximadamente, 37% das mortes.
Em relação à distribuição das mortes violentas de pessoas da comunidade LGBT+ por região, o Sudeste assumiu a posição de região mais impactada pela primeira vez em 44 anos, registrando 100 casos, seguido pelo Nordeste, com 94, totalizando aproximadamente quatro vezes mais o número das demais áreas do país - Sul, com 24 óbitos, Centro-Oeste, com 22 e Norte, com 17.
De forma proporcional, observa-se que 38,91% dessas ocorrências se concentram no Sudeste, seguido pelo Nordeste, com 36,57%. As regiões Sul, Centro-Oeste e Norte representam, respectivamente, com 9,34%, 8,56% e 6,61% do total de casos.
A Bahia assume a primeira posição no ranking dos estados nordestinos, aparecendo como o estado nordestino mais mortífero, com 8,56% dos óbitos, em um cenário populacional três vezes inferior ao de São Paulo.
Já Salvador aparece como a quarta capital mais violenta para LGBT+, com 8 mortes. Ao todo foram documentadas mortes violentas de LGBT+ em 60 municípios, não só em centros urbanos populosos, mas também em pequenas cidades interioranas, como Adustina, no nordeste da Bahia, com 14 mil habitantes.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública ressaltou que implantou em março de 2022 a Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid), reforçando o combate e as investigações de crimes contra a população LGBTQIAPN+. O comunicado ainda destaca as capacitações da Superintendência de Prevenção à Violência (Sprev), aperfeiçoando o atendimento às vítimas.
No ano passado, 85,9% das mortes violentas foram registradas como homicídios, o que representa 221 pessoas mortas. Nesse número, latrocínios e feminicídios foram incluídos.
Em relação ao modus operandi das mortes de LGBT+ no Brasil, há um predomínio de armas de fogo (31,52%), seguidas das armas brancas (24,51%), incluindo também asfixia, espancamento, apedrejamento, esquartejamento, atropelamento proposital. Segundo a TGEU (Transgender Europe), das 321 mortes de transgêneros documentadas no ano passado em todo o mundo, 46% foram vítimas de arma de fogo.
Em diversos casos estão presentes mais de um tipo de objeto letal e modus operandi no assassinato, a mesma vítima tendo sido espancada, esfaqueada, esquartejada, carbonizada.
Segundo o Dr. Toni Reis, coordenador da Aliança Nacional LGBT, “o uso de múltiplos instrumentos, o alto número de golpes ou tiros e de diversas formas de tortura refletem a crueldade e virulência da homotransfobia”, disse.
De acordo com a pesquisa, 67% das vítimas tinham entre 19-45 anos ao serem assassinadas. O mais jovem tinha apenas 13 anos e o mais idoso tinha 78 anos. Em 2023 foram registrados 17 latrocínios (morte seguida de roubo), totalizando 6,61% dos registros. A média de idade das travestis e transexuais assassinadas em 2023 é de 31 anos.
Já a cor\etnia dos LGBT+ representam a variável menos citada dentre todos os dados demográficos. Apenas para 34% das vítimas há indicação de sua cor, citada para 76% das travestis e transexuais e apenas para 17% dos gays. Não se indica a cor de nenhuma das lésbicas e bissexuais assassinados. Seguindo a classificação do IBGE, os LGBT+ brancos como categoria isolada é majoritária, 14,39%, seguida dos pardos 10,50% e pretos 10,89%.
A pesquisa também leva em consideração a profissão das vítimas, o local onde ocorreu a morte e o quantitativo de mortes violentas de LGBT+ no Brasil, entre 1963-2023. O grupo também informa considerar ainda mais 20 mortes que se encontram aguardando eventual confirmação, o que elevaria o número para um total de 277 mortes violentas em 2023.