Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 12 de julho de 2024 às 05:00
Os brasileiros ganharam mais uma maneira de comparar as condições de vida nos municípios. Pela primeira vez, o Índice de Progresso Social (IPS), ferramenta criada em Harvard, nos Estados Unidos, foi aplicada no país. Mais de 50 indicadores sociais e ambientais foram analisados e geraram uma nota média para cada cidade e estado do Brasil. As notícias não são boas para a Bahia, que ficou entre os dez piores estados em progresso social. Na região Nordeste, só está à frente de Alagoas e Maranhão. >
Os aspectos analisados foram divididos em 12 grupos principais. O objetivo da pesquisa é medir os resultados dos investimentos sociais feitos nos municípios. Os piores desempenhos da Bahia foram em acesso à educação superior (33,99), direitos individuais (35,67) e segurança pessoal (42,2). A nota máxima para cada um deles é 100. >
Os três indicadores puxaram a média da Bahia para baixo, que ficou em 57,85 - inferior à nota geral do Brasil (61,83). O estado ocupa a 19º posição no ranking de estados. >
Para estipular a nota para a educação, o Índice de Progresso Social levou em consideração quatro aspectos: empregados com ensino superior, mulheres empregadas com ensino superior e nota média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O desempenho da Bahia surpreendeu negativamente os pesquisadores, como conta Beto Veríssimo, coordenador do IPS Brasil. >
“A Bahia tem muito o que melhorar em educação e, para isso, deve olhar para experiências de estados como Ceará e Pernambuco. Nos surpreendeu que a Bahia estivesse com notas tão críticas nesse tema. Pela sua condição de renda, o estado deveria ter uma posição melhor do que a que teve”, analisa o pesquisador. Os estados vizinhos citados tiveram nota 36,55 e 35,51 neste quesito, respectivamente. >
Questionada sobre o desempenho da Bahia no segmento, a Secretaria de Educação da Bahia (SEC) ressaltou que "o governo do estado tem a educação como principal elemento de formação da sociedade e oferece condições para que os estudantes possam acessar o ensino superior". A pasta citou alguns dos incentivos criados, como o plano de ação "Tô com você no Enem”, que apoia os candidatos com incentivo desde a inscrição até a realização da prova, inclusive com a oferta do transporte nos dias do exame.>
"Os estudantes matriculados em cursos de graduação nas quatro universidades públicas estaduais são beneficiados pelo Mais Futuro, programa do Governo do Estado que visa apoiar a frequência em sala de aula e proporcionar melhores condições de aprendizagem, ajudando os universitários beneficiados a se manterem e concluírem seus estudos", complementa a SEC. >
Em maio deste ano, o Mapa do Ensino Superior do Brasil revelou que a Bahia tem a 2º pior taxa de jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior. Apenas 13,3% das pessoas nessa faixa etária estão nas universidades. Para Eniel do Espírito Santo, professor e pesquisador da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), os dados apontam para as dificuldades de colocar políticas de inclusão em prática. >
“O estado possui muitas desigualdades sociais e mesmo as políticas de inclusão das universidades públicas não são suficientes para atender a demanda. Muitas pessoas dessa faixa etária estão em situações de vulnerabilidade em que precisam trabalhar e, por isso, não conseguem ingressar no ensino superior”, diz. >
A partir das notas de cada uma das 5.568 cidades brasileiras, o IPS elaborou um mapa colorido do país. Quanto mais avermelhada a cor para o município, menor a sua nota. Os tons de azul mais escuros representam as cidades com as maiores médias. De forma geral, estados do Sul e Sudeste têm predominância azul; enquanto no Nordeste o amarelo predomina e, no Norte, o vermelho. Os estados que compõem o Centro-Oeste possuem a maior variedade. >
Saiba a nota da sua cidade aqui. >
Para Beto Veríssimo, a distribuição de cores revela as desigualdades regionais do país. “Estados da região Nordeste, como Bahia e Alagoas, têm notas muito atrás do Ceará, por exemplo. Mesmo dentro das regiões, existem diferenças. É como se houvesse mais de um Brasil”, diz. O município brasileiro com a maior nota foi Gavião Peixoto, em São Paulo, que teve pontuação de 74,49. No extremo oposto, Santa Rosa dos Purus, no Acre, teve 43,78. >
A Bahia não possui municípios nas listas das 20 maiores e piores notas do país, o que indica a predominância do amarelo (notas médias) no mapa. Entre as capitais, Salvador ocupa a 20º posição, atrás de Aracaju (SE) e Teresina (PI). Ainda sim, a capital baiana teve nota de 63,8 - maior do que a média nacional, que é de 61,83. >
Os aspectos de água e saneamento, além de moradia, são os que receberam as maiores notas na capital - 86,16 e 85,35, respectivamente. Salvador ainda esbarra nos problemas de segurança pública, que é de competência estadual. A nota para esse componente ficou em 39,84. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) foi questionada sobre as ações de combate a violência no estado, mas não respondeu às perguntas enviadas através da assessoria de imprensa.>
A Bahia teve a pior nota, entre todos os estados, no segmento segurança pessoal, com média de 42,2. A média brasileira ficou em 58,27. O componente foi avaliado a partir de quatro indicadores pré-estabelecidos: assassinato de jovens, mortes por acidentes de transportes, assassinatos de mulheres e homicídios.>
O professor associado da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Horacio Nelson Hastenreiter, coordenador do mestrado em Gestão da Segurança Pública, ressalta que "não é possível o sentimento de bem estar com a segurança ameaçada". >
"A segurança interfere substancialmente no acesso aos ensinos fundamental e médio. Em determinadas comunidades, controladas por grupos criminosos, a liberdade de ir, vir e estar é fortemente comprometida pelas circunstâncias criadas e por momentos mais agudos de conflito. A saúde é outra dimensão que é abalada pela segurança pública. Pela escala hierárquica de Maslow, segurança é a necessidade mais básica do ser humano", analisa. >
O Atlas da Violência 2024 revelou que as cinco cidades brasileiras com as maiores proporções de homicídios a cada 100 mil habitantes estão na Bahia. São elas: Santo Antônio de Jesus (94,1), Jequié (91,9), Simões Filho (81,2), Camaçari (76,6) e Juazeiro (72,3). Ainda de acordo com a pesquisa, o estado registrou 6.776 homicídios em 2022 - um aumento de 10,2% em relação a 10 anos antes. Entre 2017 e 2022, no entanto, houve redução de 9,5%. >
Mesmo diante dos dados, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) comemorou o momento vivido pelos baianos. “A Bahia está em um momento de celebração. Os dados comparativos entre o que nós vimos no ano passado e no ano retrasado, agora, no primeiro semestre, nos animam”, disse na terça-feira (9), em um evento realizado no SAC do Terminal Pituaçu. >