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Maysa Polcri
Publicado em 5 de junho de 2024 às 05:45
Neste dia 5 de junho, quando é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, a Bahia tem pouco a comemorar. O desmatamento desenfreado coloca o estado na segunda posição entre os que desmataram com maior velocidade no Brasil em 2023. Só no ano passado, 796,2 hectares de vegetação foram suprimidos diariamente na Bahia - área equivalente a 737 campos de futebol.
O avanço de atividades extrativistas sobre a área conhecida como MATOPIBA, que engloba os estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, está por trás do aumento do desmatamento. A Bahia, que teve 290.606 hectares desmatados no ano passado, só fica atrás do Maranhão, com 331.225 hectares. Os dados fazem parte do Relatório Anual do Desmatamento, divulgado pelo MapBiomas no último dia 28.
Em relação a 2022, a área desmatada na Bahia cresceu 27%. O estado subiu duas posições no ranking nacional, chegando ao segundo lugar no ano passado. O estado tem a quinta maior dimensão territorial do país. O bioma Cerrado foi o mais afetado, representando 67% de toda a área desmatada na Bahia. Em seguida, aparece a Caatinga (32,2%) e a Mata Atlântica (1%).
“O MATOPIBA concentrou 47% de toda perda de vegetação nativa do país, com mais de 858 mil hectares desmatados. A área é maior do que a desmatada em toda a Amazônia no ano passado, que foi de 454 mil hectares. O MATOPIBA é a principal fronteira agrícola do país, mas é preciso conciliar a produção com a conservação do Cerrado”, analisa a gestora ambiental do MapBiomas Roberta Rocha. O bioma é formado por árvores de tronco grosso e tortuoso, gramíneas e arbustos.
A supressão da vegetação para dar lugar a pastos e monoculturas no interior do estado faz com que os municípios baianos liderem o ranking do desmatamento. Das dez cidades com as maiores áreas desmatadas entre 2019 e 2023, quatro são da Bahia: São Desidério, Jaborandi, Cocos e Barreiras. A primeira é, inclusive, a cidade que mais registrou desmatamentos no Brasil no ano passado.
Para Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados, o bioma ainda carece de legislações ambientais. “O Cerrado é um bioma extremamente desprotegido. Enquanto na Amazônia a área protegida dentro de uma propriedade rural deve ser de 80%, no Cerrado, apenas 20% não pode ser desmatado”, analisa.
Enquanto a tendência no ano passado foi de redução de 62% no desmatamento na Amazônia, o Cerrado registrou aumento de 67%. “A vegetação nativa do Cerrado presta um serviço ecossistêmico que é do interesse de todo mundo. Ela ajuda a regular o clima, infiltra água no subsolo para que tenha água nos rios durante o período de seca e equilibra a fauna e flora”, explica Yuri Salmona.
A expansão da monocultura, especialmente de soja, no oeste baiano, se intensificou a partir da década de 1980, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As tecnologias de adubação e PH do solo despertaram os olhos de médios e grandes produtores.
Os interesses são acompanhados de incentivos do estado. A Bahia, segundo o MapBiomas, é o estado com a maior proporção de área desmatada com autorizações federais ou estaduais (51,8%). Na esfera estadual, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) é responsável por autorizar a supressão de vegetação.
Em nota, o INEMA e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) informaram que "mantém os esforços no combate ao desmatamento na fiscalização do bioma com o objetivo de dirimir o combate irregular de forma setorizada". Os órgãos ressaltaram que, no ano passado, o governo do estado instaurou o Pacto pelo Cerrado, programa que prevê a criação de condições para um modelo de desenvolvimento sustentável na região.
"Seguindo a metodologia do PPCerrado [Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Bioma Cerrado], constatou-se que a média de desmatamento no Cerrado da Bahia, entre 2001 e 2008, era de 1.488 km². Considerando a meta de redução de 40% do desmatamento até 2020, deveríamos perseguir um valor máximo de desmatamento anual de 893 km². Essa meta foi alcançada a partir de 2016 na Bahia, chegando ao mínimo de 598,17 km² em 2018", pontuou o órgão.