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Maysa Polcri
Publicado em 16 de outubro de 2024 às 09:12
Maria Carla e Eliana não se conhecem. A primeira tem 53 anos e mora em Armação. A outra, mais velha, completou 68 anos e reside no bairro Caixa D’Água. Apesar de viverem realidades diferentes, as mulheres compartilham muito mais do que a cidade onde nasceram e moram. Ambas foram surpreendidas com o diagnóstico de câncer de mama e enfrentaram o processo complexo de cirurgias e quimioterapia. Um ano após a descoberta da doença, elas fazem o alerta: “A prevenção é essencial”.
Apenas entre janeiro e outubro deste ano, a Bahia registrou 919 mortes por complicações do câncer de mama - uma média de 102 óbitos por dia. Em 2023, foram 1.223. Quando feito de maneira precoce, o diagnóstico salva vidas. “O câncer de mama tem até 95% de chance de cura, se diagnosticado precocemente. É uma doença que quanto mais cedo for descoberta, menor é o impacto do tratamento na vida dos pacientes”, diz a médica Carolina Argolo, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Bahia (SBM-BA).
A descoberta cedo da doença facilitou o tratamento das baianas Maria Carla Barreiros e de Eliana Almeida dos Santos. Isso só foi possível porque elas seguiram uma receita simples, mas que salva vidas: o autoexame para identificar nódulos e a mamografia realizada anualmente.
"Além de manter os exames de rotina em dia, a pessoas devem se atentar a toda e qualquer alteração em mamas e axilas, incluindo alterações de pele ou massas palpáveis, além de secreções papilares. Qualquer das alterações citadas deve ser avaliada com brevidade por um especialista", indica Carolina Valverde, mastologista do Itaigara Memorial.
No caso da nutricionista Maria Clara, o nódulo não foi detectado no autoexame e nem no ultrassom, apenas na mamografia. “Quando contei para minha família, veio o choque. Eu estava tranquila com o diagnóstico até ver o desespero deles e me desesperar. Foi um período horroroso, de muitas dúvidas”, conta. Em 31 de outubro de 2023, Maria Carla passou pela cirurgia de retirada do tumor, do tipo carcinoma luminal B. Após o procedimento, ela foi submetida a seis ciclos de quimioterapia e 15 de radioterapia. Um dos momentos mais marcantes do tratamento foi ter que raspar o cabelo.
“Minha mãe veio passar a máquina no meu cabelo e eu não liguei naquele momento. Mas depois, comecei a olhar no espelho e não me reconhecer”, relembra. A queda de cabelo é um dos efeitos colaterais das sessões de quimioterapia. “O que mais me incomodava era ver como as pessoas me olhavam. Até dentro da minha própria família, que viveu uma tensão”, conta Maria Carla. Hoje, ela toma remédios e faz revisão a cada três meses.
“A mamografia é o exame que rastreia a população que está assintomática. É uma fotografia da mama da mulher, que deve ser realizada anualmente, a partir dos 40 anos de idade”, indica a médica Carolina Argolo. A faixa etária entre 50 e 64 anos corresponde a 35% dos óbitos registrados na Bahia. Apesar disso, a especialista alerta que o câncer de mama tem sido diagnosticado cada vez mais cedo.
Carolina Argolo
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional BahiaEliana Almeida dos Santos recebeu o primeiro diagnóstico de câncer de mama em 2001, aos 45 anos. Quando lembra daquela época, não esconde o que sentiu: “Achei que fosse morrer”. O tratamento mostrou, no entanto, que o diagnóstico não é uma sentença de morte. Depois de uma cirurgia, oito ciclos de quimioterapia e 18 ciclos de radioterapia, ela ficou curada por mais de 20 anos.
No ano passado, ela foi surpreendida com mais um diagnóstico da doença. Dessa vez, o câncer, mais agressivo, foi detectado nas duas mamas. “Sabe quando você vai fazer um exame com tranquilidade? Então, eu achei que fosse uma fibrose. Quando veio o resultado, aí foi o choque de estar com câncer mais uma vez”, relembra. Eliana passou por mais um ciclo de tratamento, com quimioterapia e cirurgia.
"O câncer de mama nem sempre apresenta sintomas perceptíveis em estágios iniciais, mas pode ser amplamente prevenido desfechos desfavoráveis com exames regulares de rastreio e diagnóstico precoce. A conscientização, a detecção precoce e os avanços nos tratamentos médicos têm melhorado as taxas de sobrevivência e o prognóstico de muitas pacientes”, avalia o radiologista João Rafael Carneiro, diretor médico da Clínica de Saúde e Imagem (CSI).
Além dela, suas outras três irmãs tiveram a doença, sendo que uma delas faleceu por complicações do câncer. Apesar da gravidade do retorno da doença, Eliana enfrentou o tratamento de forma diferente dessa vez. “Descobri que ter câncer não significa morrer e fiz o que pude para esse período ser mais leve. Precisei tirar as mamas, mas, é como sempre digo, eu não sou reduzida a dois peitos”, diz. Durante as sessões de quimioterapia, Eliana até gravou vídeos dançando para as redes sociais. “Existe vida depois do câncer e eu sou a prova disso”, celebra.