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Elaine Sanoli
Publicado em 19 de março de 2025 às 05:20
O Transtorno do Espectro Autista (Tea) pode assumir diferentes formas, com características distintas em diferentes pessoas. Em casos mais graves, o transtorno leva à introspecção profunda, ausência da comunicação verbal ou não e dependência constante de cuidado. Esses são algumas possíveis características para o 'autismo profundo'. >
De acordo com a psiquiatra e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Autismo (Labirinto), da Faculdade Bahiana de Medicina, Milena Pondé, o transtorno é fortemente marcado pela falta de interação social e dificuldade em executar funções, incluindo fisiológicas, de forma independente. "Muitas vezes as pessoas têm comportamento auto lesivo, podem se morder, bater com a cabeça, se machucar e apresentar muitos comportamentos repetitivos, estereotipias", explica a pesquisadora. "O treinamento para as necessidades fisiológicas é precário, em geral, são pessoas que precisam usar fralda", acrescenta. >
As dificuldades se estedem à alimentação, que, segundo Pondé, quando realizada de modo autônomo, pode se dar de forma rudimentar, sem o uso de talheres, por exemplo. As pessoas portadoras do transtorno normalmente também não passam por marcos do desenvolvimento humano. É comum que algumas delas não desenvolvam atividades motoras como andar. >
"Não tem muitos avanços da infância para a idade adulta. O que muda, por exemplo, é que aumenta os desafios quando existem comportamentos auto e heterolesivos ou agitação psicomotora grande, porque esses comportamentos no adulto, por ser uma pessoa maior, tendem a ser mais graves do que em uma criança", diz.>
Dentro do campo da medicina, o transtorno popularizado como 'autismo profundo' possui diferentes nomeações técnicas: no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5) ele é identificado como Transtorno do Espectro do Autismo nível de suporte 3; já na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 11), da Organização Mundial de Saúde (OMS), fica categorizado como autismo com deficiência intelectual e com comprometimento funcional da linguagem. >
O tratamento, segundo Pondé, pode passar por medicação, nos casos que incluem autolesões, mas é sobretudo feito com cuidado e acolhimento social e emocional das pessoas. "É importante possibilitar ambientes de convivência e lazer adaptado, onde essas pessoas possam ser assistidas por uma equipe técnica com terapia ocupacional, com atividades lúdicas que possam tornar os momentos dessas pessoas mais agradáveis. É muito necessário pensar em ambientes de socialização para essas pessoas", argumenta a especialista. >