Ataques armados e busca por ‘informantes’ causam tensão e execuções em Fazenda Grande do Retiro

Operação da Polícia Civil prendeu cinco investigados no bairro por morte de adolescente

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  • Wendel de Novais

Publicado em 5 de setembro de 2024 às 05:00

Marcas da violência em Fazenda Grande do Retiro foram registradas pela reportagem Crédito: Arisson Marinho/ ARQUIVO CORREIO

Antes mesmo da morte de Maria Eloisa Santana de Jesus, 13 anos, executada em um crime que desencadeou uma operação que prendeu seis investigados na manhã dessa quarta-feira (4), a tensão já era alta em Fazenda Grande do Retiro. No fim de julho, o CORREIO mostrou em reportagem que um trecho de 230 metros da principal via do bairro se converteu em uma linha de guerra. De um lado da disputa, estava o Bonde do Maluco (BDM). Do outro, o Comando Vermelho (CV). No meio dos confrontos, moradores aterrorizados por ataques armados e buscas por ‘informantes’.

Fazenda Grande do Retiro lidera o ranking de bairros com o maior número de tiroteios em Salvador nos meses de julho e agosto deste ano, apontam dados do Instituto Fogo Cruzado. Foram 13 tiroteios, que deixaram cinco mortos e um ferido. De 1º janeiro até 3 de setembro, o bairro registrou 32 tiroteios, 25 mortos e seis feridos.

Em estado de alerta e guerra, traficantes caçam inimigos nas ruas do bairro e punem qualquer manifestação de apoio aos rivais, como conta uma moradora, que prefere não se identificar. “As duas facções estão, há meses, fazendo tiroteios aqui na porta da gente. Dizem até que a Vila Natal, que era BDM, já virou CV. Nesse tempo, os traficantes estavam na postura de vigiar 24 horas a região e punir quem tivesse alguma posição que indicasse apoio ao lado dos rivais”, conta ela, que acredita que a morte de Maria Eloísa nas ruas do bairro tenha acontecido por esse motivo.

A declaração da moradora reafirma o que também diz uma fonte policial, que indicou um vídeo como motivação para os executores do crime. Segundo o agente, Maria Eloisa, que tinha hábito de frequentar festas estilo 'paredão’, aparece dançando enquanto alguém registra a cena em um evento do tipo. Nas imagens, porém, além da dança da adolescente, aparece outra pessoa que faz um sinal em apoio à facção rival dos executores do crime.

Becos do bairro têm paredes cravejadas de balas Crédito: Arisson Marinho/ ARQUIVO CORREIO

A fonte revelou também os nomes de quatro dos seis presos durante a operação. São eles: Matheus Souza de Oliveira, o "Keno", Gleidson Santos Silva, o "Gueu”, Renildo de Almeida Matos, o "Loli" e Helder Leal Ramos, o "APF". O último, inclusive, não era alvo da operação que investiga a morte de Maria Eloisa, mas foi localizado por policiais, durante o cumprimento dos mandados, em posse drogas não especificadas e com porte ilegal de armas. Além deles, outro investigado teria se entregado à polícia após a ação que prendeu os seis comparsas.

Todos são vinculados ao CV, o que pode indicar a presença da organização criminosa, que até julho estava apenas na Fonte do Capim, também na Vila Natal, onde as prisões ocorreram. Apesar da chegada recente do CV no local, alguns dos presos têm atuação criminosa na área onde foram presos há anos. Caso, por exemplo, de Renildo de Almeida Matos, o Loli.

Segundo informações do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), as quais a reportagem teve acesso, ele já foi preso em flagrante no Novo Marotinho, localidade vizinha da Vila Natal. O caso foi registrado no dia 18 de julho de 2021, por volta das 18h, numa ocorrência em que Loli e um comparsa foram presos com drogas. Os dois foram denunciados pelo crime após inquérito policial. Na ocasião, eles estavam com mais suspeitos que, ao verem policiais militares realizando rondas, correram para as ruas internas do Novo Marotinho.

“Parte do grupo conseguiu fuga subindo uma ladeira e dois deles [Loli e o comparsa] entraram em um estabelecimento comercial, sendo detidos e imobilizados. Após a revista pessoal, os PMs encontraram com Loli um aparelho celular de marca Samsung, 57 pinos de cocaína, acondicionados em microtubos de plástico cinza, totalizando 43,90g da droga”, diz texto dos autos do processo.

Os dois tinham audiência de instrução marcada para o início de agosto, mas não há informações de que indiquem o comparecimento deles no local. Helder Ramos Leal, o APF, por sua vez, já foi denunciado por posse de drogas, mas não chegou a ser julgado.