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Maysa Polcri
Gilberto Barbosa
Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 05:30
As recomendações feitas pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) para o Carnaval no Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, levaram em consideração queixas de moradores do bairro. Entre elas, a poluição sonora e o acúmulo de lixo. Mas não só isso. O risco de pelo menos 13 imóveis tombados desabarem é uma das preocupações do órgão. >
A promotora Cristina Seixas, que assina as recomendações para a festa, cita um levantamento feito pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) em 2024. "A Codesal identificou no bairro do Santo Antônio Além do Carmo e adjacências 13 imóveis tombados com risco de desabamento e/ou deteriorados, os quais, inexoravelmente, podem ter suas estruturas abaladas, caso haja a circulação excessiva de foliões, de trios elétricos ou equipamentos que produzam excesso de emissão de decibéis", pontua no documento o qual a reportagem teve acesso. >
Entre as medidas listadas pelo MP-BA para o Carnaval no bairro estão a proibição de trios elétricos e limite de blocos e público. O documento foi assinado na quinta-feira (6) e encaminhado à prefeitura de Salvador, associação de agremiações e moradores. Mais de 10 blocos estão confirmados para o desfile deste ano. O mais famoso deles, o De Hoje a Oito, espera receber cerca de 25 mil foliões. >
O MP-BA instaurou procedimentos para verificar quem são os proprietários dos imóveis visando solicitar ações de restauro ou demolição, a depender da posição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). >
"Por se tratar de um patrimônio, o processo exige muita cautela e cuidado. Pedimos uma nova vistoria para a Codesal e estamos aguardando o relatório final para tomarmos uma posição. Na última semana, recebemos a informação de que alguns imóveis já estão com o risco reduzido", disse a promotora em entrevista ao CORREIO. Procurada, a Defesa Civil de Salvador, disse que os 13 imóveis passaram por avaliações. >
Cristina Seixas diz que o Ministério Público realiza reuniões periódicas com as associações de moradores, de blocos e de comerciantes, com entidades da Prefeitura de Salvador envolvidos diretamente com o evento, como as polícias Civil e Militar.>
Cristina Seixas
Promotora do MP-BAO MP-BA instaurou um procedimento em 2022 visando reconhecer a área como um local que necessita de atenção especial. O objetivo é garantir a regulação dos eventos na região.>
"O Santo Antônio é um bairro residencial, que vem tomando uma vertente boêmia, que tem gerado prejuízos aos direitos dos moradores do bairros. Não se pode ter festas ou pessoas em excesso por lá porque é um bairro histórico, com ruas pequenas. É importante tomar cuidado ao estabelecer um evento na região", completa Cristina Seixas. >
O diretor-geral da Defesa Civil de Salvador, Sosthenes Macêdo explica que o MP-BA solicitou uma vistoria nas 13 edificações, realizada pelo órgão em conjunto com o Iphan e pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) na última semana.>
A reportagem tentou acesso ao relatório, mas segundo Sosthenes, o objeto não pode ser repassado devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A Sedur foi procurada, mas não se manifestou sobre a situação dos edifícios até esta publicação.>
Diretor da Defesa Civil diz que o reparo dos imóveis é de responsabilidade do proprietário e deverá ser acompanhado pelo Iphan. "Alguns imóveis necessitam de um auxílio com o uso de tapumes ou a retirada da vegetação. Outros receberam solicitação para a remoção de fachada ou reparo no escoramento metálico que já apresenta sinais de desgaste e corrosão", afirma.>
"As solicitações foram encaminhadas para os responsáveis e, em casos de intervenção mínima, como instalação de tapumes ou podas, enviadas para a Secretaria Municipal de Manutenção (Seman)", completa o diretor da Defesa Civil. >
Apesar da recomendação mais recente do MP-BA não citar quais são os imóveis com possibilidade de desabamento, um parecer feito pela Central de Apoio Técnico do órgão, em janeiro do ano passado, identificou estruturas com risco iminente. O laudo, o qual o CORREIO teve acesso, é assinado por um engenheiro e tem 65 páginas. >
Cinco localidades têm as estruturas mais precárias: Rua Direita do Santo Antônio, Ladeira do Carmo, Ladeira do Boqueirão, Rua dos Adobes e Largo do Carmo. O laudo indica necessidade imediata de isolamento das vias e inspeções técnicas. >
As imagens presentes no laudo chamam atenção. Estruturas de suporte instaladas para sustentar fachadas têm corrosão severa, enquanto fachadas de diversos casarões apresentam rachaduras profundas e desprendimento de materiais decorativos. >
"É necessário tomar medidas urgentes para garantir a estabilidade dessas construções históricas e evitar acidentes", pontua o avaliador, após mencionar que as estruturas possuem "risco iminente de desmoronamento".>
Sobre a situação precária dos imóveis, o diretor-geral da Codesal ressalta que o órgão realiza vistorias rotineiras no Centro Histórico com o objetivo de informar os proprietários, o Iphan e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). >
Ao todo, 2.969 casarões já foram visitados pela Codesal. Entre as edificações, 109 encontram-se em risco muito alto de desabamento; 342, alto; 1.656, médio; 677, baixo e 185, sem risco.>
O Santo Antônio integra o conjunto urbano do Centro Histórico de Salvador, tombado pelo Iphan em 1959 e declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1985. O Iphan, autarquia federal, foi procurado, mas não se manifestou sobre o laudo técnico que avaliou as condições dos imóveis tombados. >
Quanto a realização do Carnaval na região, Sosthenes Macêdo relata que a Defesa Civil realiza reuniões com o Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar) e a Empresa Salvador Turismo (Saltur) para dar orientações quanto a melhor forma de garantir a segurança dos foliões.>
Sosthenes Macêdo
Diretor-geral da Defesa Civil de SalvadorNa semana passada, parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, desabou, provocando a morte de Giulia Panchoni Righetto, turista de São Paulo de 26 anos. >