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Raquel Brito
Yasmin Oliveira
Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 08:00
Vanguarda do movimento negro contemporâneo na Bahia e no Brasil e uma voz ativa pela igualdade racial no Brasil, Luiz Alberto Silva dos Santos, que morreu nesta quarta-feira (13) vítima de um infarto, lutou até o fim da vida pelos direitos da população negra. Ainda na década de 70, foi um dos co-fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU) na Bahia, e coordenou o movimento entre 1995 e 1998. >
Entre as suas principais lutas, estavam a defesa dos direitos da população negra e das demarcações e titulações dos quilombos. Nos anos de atuação em sindicatos e movimentos sociais, um dos maiores objetivos de Luiz foi democratizar as manifestações, levando-as para quem realmente interessa: a população negra e trabalhadora.>
Pelos depoimentos de quem o rodeava, o esforço teve sucesso. Para Suely Santos, membro do Movimento Negro Unificado e das Mulheres Negras da Bahia, a luta negra foi reconfigurada com a entrada de Luiz Alberto no Parlamento, em 1997.>
“O movimento negro e não é uma coisa só, é um universo que tem diversas pautas. Luiz interagia com o movimento de mulheres negras, com o movimento quilombola e com os movimentos da juventude. O que a gente vê agora nessa despedida é como ele foi importante para todas essas representações. A gente vê no diálogo, no depoimento das pessoas o significado que ele teve”, diz.>
A deputada estadual Olívia Santana, do PCdoB, afirma que todas as conquistas do movimento negro na Bahia tiveram a participação direta de Luiz Alberto. “Ele tinha uma grande sensibilidade, um compromisso com a luta das comunidades quilombolas, a luta em defesa das cotas, tudo isso contou com a participação dele”, diz. >
Creuza Oliveira, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado da Bahia (Sindoméstico), que conhece Luiz há 40 anos, defende que o legado deixado por ele é fundamental para a continuação da luta por direitos. >
“Luiz Alberto, para mim, foi e é uma grande referência. Quando eu comecei minha militância, na década de 80, eu era totalmente desinformada da questão política, racial, de gênero e de classe. E ele foi um grande formador do nosso sindicato. Nos ajudou na criação e na formação de lideranças, com cursos de formação. Ele tem um legado muito importante na luta das mulheres negras e das trabalhadoras domésticas e da militância de um modo geral”, diz.>
O ativismo racial é parte integral de quem Luiz Alberto foi: desde o primeiro mandato como deputado, em 1997, todos os assessores parlamentares da sua equipe eram negros, numa atuação que Ademario Costa, que foi assessor parlamentar no mandato de Luiz Alberto e atualmente coordena as Relações Institucionais do Movimento Negro Unificado (MNU), descreve como ‘afrocentrada’, focada na valorização da raiz africana na Câmara.>
Luiz foi autor do PL 1442/2003, que visava transformar o Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, em feriado nacional. O projeto foi arquivado em 2009. >
Foi Luiz Alberto, também, um dos líderes da greve mais longa da história do movimento sindical petroleiro: a Greve de 1995, que durou 32 dias. O movimento, que teve como objetivo pressionar a Petrobrás a repor as perdas salariais da categoria e protestar contra a redução de direitos, teve a adesão de mais de 90% da categoria, de acordo com o Sindipetro.>
Para Costa, era a atuação no MNU que inspirava as outras atividades da vida do ex-deputado. “Não tem nenhuma instituição negra na Bahia que não tenha a marca da atuação parlamentar política e ativista de Luiz Alberto. Desde a culinária de Alaíde do Feijão até a batida do Olodum à ancestralidade do Ilê Ayê. E tudo isso tendo o MNU como sua organização principal”, defende. >
No início dos anos 2000, Luiz Alberto sempre se fazia presente nos encontros de estudantes em defesa da implantação de cotas nas universidades públicas. A vitória veio em 2002 na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e dois anos depois na Universidade Federal da Bahia (UFBA). >
Apesar de ter pautado sua vida nas lutas por justiça, Luiz Alberto não conseguiu, porém, ver consolidados muitos dos objetivos que defendeu, como a regularização das terras quilombolas. Para a deputada Olívia, falta muito para que essas causas sejam esgotadas, mas o ex-deputado deixou suas digitais na caminhada.>
“Ele morreu sabendo que foi um dos responsáveis pela conquista das cotas nas universidades públicas da Bahia, que é uma conquista coletiva. Mas, ele não viu plenamente as conquistas dos povos quilombolas, por exemplo. Então a gente continua aqui, com o legado de Luiz, levando à frente essa luta e essa perspectiva da igualdade”, diz.>
*Com orientação de Monique Lôbo.>