Após tragédia, alunos de Heliópolis voltam às escolas nesta quarta-feira

Atividades retornam após 11 dias de interrupção causada por ataque que vitimou quatro alunos; a Dom Pedro voltará no dia 4

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  • Gilberto Barbosa

Publicado em 30 de outubro de 2024 às 05:15

Escola Municipal Dom Pedro I, em Heliópolis
Escola Municipal Dom Pedro I, em Heliópolis Crédito: Joá Souza/GOVBA

Nesta quarta-feira (30), as escolas do município de Heliópolis, no nordeste baiano, reabrem as portas para o retorno dos alunos. As atividades ficaram interrompidas por 11 dias, após um ataque que vitimou três alunos da Escola Municipal Dom Pedro I, no povoado de Serra dos Correias. O autor do crime foi um outro adolescente que estudava na unidade e tirou a própria vida na sequência.

De acordo com a secretária municipal de Educação, Eluiza Mendes, Heliópolis conta com 12 escolas que atendem cerca de 2.700 alunos. As unidades abriram nesta terça-feira para o acolhimento aos pais e professores junto às equipes de psicólogos ligadas ao Ministério da Educação (MEC) e à Secretaria de Educação (SEC). Todas as escolas receberam as dinâmicas, que incluíram uma apresentação de policiais militares acerca de um projeto voltado para rondas escolares.

Ainda segundo Eluiza, a recomendação do MEC é que o retorno seja feito de maneira gradativa, com atividades lúdicas e focadas na acolhida dos estudantes. A previsão é que a dinâmica de escuta realizada com os pais seja repetida com os jovens na quarta-feira (30).

Uma das unidades a reabrir é a Escola de Ensino Fundamental e Médio Governador Waldir Pires. O professor de matemática Gilberto Barbosa dá aulas para as turmas do 5º ao 9º ano e fala que preparou uma sessão do filme ‘Divertidamente 2’ com o objetivo de trabalhar as emoções dos discentes.

“Estamos ansiosos para receber os alunos e realizar o nosso trabalho, tentando não abordar o assunto de forma direta. Vamos trazer reflexões sobre empatia e como se colocar no lugar do outro. Me sinto pronto para ajudar nossas crianças a superar esse trauma da melhor forma possível”, diz.

O docente também conta que o caso deixou a comunidade heliopolense em choque, uma vez que ocorrências do tipo eram distantes da realidade local. “Buscamos entender o que poderia ter motivado um jovem provocar uma situação de terror dentro de uma escola. Não imaginávamos que algo tão terrível pudesse acontecer em nossa comunidade, mas estamos voltando à normalidade”, completou.

Maria Sirlane é professora do 5º ano da Escola Municipal Marcelino Borges dos Santos. Ela conta que alguns pais ainda estão receosos com o retorno, chegando a perguntar sobre a possibilidade de policiamento nas unidades. Ainda assim, há uma compreensão coletiva sobre a importância do retorno às aulas.

“Eu também estou apreensiva, mas sei que é necessário voltar à sala. Foram dias doloridos e cansativos, mas com o passar do tempo, o choque vai sendo amenizado. Fomos orientados a trabalhar com atividades que os envolvessem de forma prazerosa, então eu decidi exibir um filme que trabalhe as emoções deles. É pedir forças e sabedoria para lidar com a nova rotina, mas é o processo natural a seguir”, falou.

Já a Escola Municipal Dom Pedro I tem previsão de retorno para a próxima segunda-feira (4). Cerca de 230 alunos estudam na instituição, que atende o Ensino Infantil, Fundamental I e II e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Nós estamos na fase de escuta com os pais e alunos, que estão sendo acompanhados por psicólogos especialistas em desastres escolares. A comunidade ainda vive o luto, já que muitos se conheciam, mas estão retornando aos poucos”, afirma a gestora.

Segundo a diretora da escola, Jinelma Santos, as famílias das vítimas e os alunos sobreviventes receberam atendimentos psicológicos individualizados durante a semana após a tragédia. As consultas foram estendidas aos profissionais de apoio, professores e toda equipe diretiva da unidade. Equipes do estado, da federação e de cidades vizinhas foram mobilizadas para o acompanhamento da comunidade.

“Neste primeiro momento, realizamos uma pintura na unidade escolar, visando mudar o aspecto físico. Essa foi uma recomendação de especialistas em situações de desastre do MEC. Também iniciamos reuniões de pais e responsáveis para ouvir como eles estão e falar sobre o retorno às aulas”, explica.

Quanto às atividades, Jinelma relata que a proposta inicial é realizar tarefas lúdicas e voltada para o acolhimento dos jovens com o objetivo de deixar o ambiente mais leve. “A comunidade está em um clima mais leve, com as pessoas voltando à rotina diária. Estamos nos comunicando com as famílias e a maioria está tranquila,  falando em voltar às aulas. Alguns alunos ainda estão assustados, o que é normal nessas situações, mas a maioria consegue dormir e se alimentar direito”, fala.

Na última segunda (28), os porteiros das unidades receberam uma palestra realizada por equipes do Batalhão de Policiamento Escolar (BPEsc), ligado à Polícia Militar. A gestora conta que a ação teve o objetivo de reforçar medidas de prevenção a violência escolar e detalha como será a retomada das atividades a partir do dia 04/11.

“Primeiro vamos acolher os funcionários. Na terça (5), voltam os alunos da Educação Infantil e Fundamental I, seguidos pelos alunos do fundamental II no dia seguinte. O retorno será feito de maneira gradativa para que possamos avaliar e planejar de acordo com o tempo”, conclui.

Relembre o caso

Um adolescente de 14 anos estava na sala, acompanhando uma aula de Artes na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental D Pedro I, quando tirou um revólver da mochila e começou a atirar. Testemunhas relataram à direção da escola que ele, inicialmente, não parecia ter um alvo específico, disparando na direção de todos.

Além da professora, nove alunos estavam na sala - uma estudante está em licença-maternidade. "Estavam fazendo atividade e, de repente, ele sacou a arma da bolsa e começou a atirar para cima, aí começou todo o terror", contou a diretora Jinelma Maria dos Santos.

Parte dos estudantes conseguiu escapar. Três foram baleados e morreram ainda no local. O atirador atirou contra si mesmo ainda na sala de aula e também morreu. As vítimas foram identificadas como Adriele Vitoria Silva Ferreira, Fernanda Sousa Gama e Jonathan Gama dos Santos, todos de 15 anos.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro