Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Elaine Sanoli
Publicado em 7 de novembro de 2024 às 17:08
Após denunciar o desaparecimento dos jovens Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, de 24 anos, e Matuzalém Silva Muniz, de 25, as famílias suspeitam que o dono do ferro-velho onde eles trabalham tenha envolvimento no sumiço. Os trabalhadores foram vistos pela última vez na segunda-feira (4). Nesta quinta-feira (7), o Corpo de Bombeiros foi até o local para realizar buscas, mas só deve retornar ao local após ter a entrada autorizada nas dependências da propriedade. >
Familiares dos dois jovens contam, em entrevista ao CORREIO, que ambos começaram a trabalhar no local há cerca de três semanas, sem vínculo empregatício formal, e nunca haviam comentado situações de violência envolvendo o dono da empresa. A única reclamação era sobre as condições de trabalho. >
De acordo com uma tia de Paulo Daniel, morador do bairro de Saramandaia, os trabalhadores eram submetidos a uma carga horária extensa, das 7h às 19h, com poucos ou nenhum direito. “Ele só tinha mesmo o horário do almoço, que era de 20 a 30 minutos, comia e tinha que voltar logo, tinha que ser bem rápido. Era trabalho escravo. Eles nem podiam beber água”, relata. >
“Ele nunca tinha mencionado nada para ninguém da família, nenhuma situação diferente, apenas que era um lugar escravo e que se eles conversassem, ele [o chefe] descontava do valor, que eles não podiam usar celular no local e se parassem para ir ao banheiro também era descontado do salário", complementa a irmã de Matuzalém, morador de Periperi e pai de um menino de 4 anos. >
Além das condições que eram oferecidas aos trabalhadores, as famílias começaram a desconfiar de um possível envolvimento do dono pelo histórico de tratamento a outros trabalhadores. “Tem a suspeita porque vários funcionários que trabalharam com ele vieram relatando a respeito das agressões que ele tinha, tinha gente que conseguia sair, tinha gente que não. Ele ameaçava o pessoal também”, conta a irmã. De acordo com o relato dela, o homem tinha o costume de pagar apenas parte dos valores combinados e prometia pagar o restante em outro dia, como forma de manter os trabalhadores no serviço. >
O homem apontado como suspeito pelas famílias chegou a entrar em contato com a esposa e mãe do filho de 2 anos de Paulo Daniel. “[Ligou] ontem até, dizendo que não tinha nada a ver com isso”, diz a tia. A família de Matuzalém, por outro lado, não teve contato algum com o empresário. >
As famílias se dirigiram à delegacia na terça-feira (5), após os dois jovens não retornarem às suas casas na noite anterior. O último contato feito com as esposas foi na tarde da segunda. “A esposa pediu para que ele fosse para casa mais cedo e ele disse que não iria porque o cara descontava. Em vez de descontar meia diária, descontava o dia todo e ele não iria perder o dinheiro dele”, contou a tia de Paulo.>
Nesta quinta, o Corpo de Bombeiros realizou buscas externas no ferro-velho utilizando um cão farejador. De acordo com Tenente Coronel dos Bombeiros Militares Guanais, o animal identificou o cheiro de Daniel na região do portão do ferro-velho, o que indica que ele passou pelo local. “A partir de agora, para a gente seguir nas buscas, a gente precisa ou da autorização do proprietário ou através do apoio da Polícia Civil, que tem sido muito diligente, através da Justiça também, do mandado autorizando a nossa entrada”, disse à imprensa. >
Contatada, a Polícia Civil informou que faz buscas para localizar os dois desaparecidos, mas não confirmou o envolvimento do empresário, que não é oficialmente nomeado suspeito. O CORREIO não conseguiu contato do dono do ferro-velho.>
*Com orientação da subeditora Carol Neves.>