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Maysa Polcri
Publicado em 26 de novembro de 2024 às 13:48
O boicote de frigoríficos brasileiros ao grupo Carrefour já impacta o fornecimento de carnes aos supermercados de Salvador. A empresa de origem francesa é dona das marcas Atacadão, Sam’s Club e Bompreço. A reportagem esteve em quatro mercados da capital, na manhã desta terça-feira (26), e encontrou estoques de carne vermelha e frangos prejudicados. Em alguns casos, há espaço vazio nos freezers, o que chama atenção de clientes.
A informação de que a diminuição do estoque de proteínas animais é reflexo do boicote foi confirmada por funcionários de supermercados e frigoríficos da capital. Segundo eles, a chegada de novos produtos foi impactada desde a semana passada. A reportagem flagrou remessas de carne chegando nos mercados, mas apurou que tratavam-se de pedidos anteriores à crise entre o Carrefour e os produtores brasileiros.
“As entregas de hoje são relativas a pedidos passados que não foram entregues por problemas de logística. A partir de agora, não temos previsão de quando haverá novas remessas”, explicou o funcionário de um frigorífico, durante a manhã.
Nesta terça-feira (26), o grupo Carrefour publicou uma nota informando que o cronograma de entregas de produtos de carnes bovinas foi retomado. “A Companhia espera a normalização do reabastecimento de tais produtos no decorrer dos próximos dias”, diz a empresa.
Os estoques mais críticos foram observados nos supermercados do Atacadão nas avenidas Mário Leal Ferreira (Bonocô) e Barros Reis, além da Estrada do Coqueiro Grande, em Cajazeiras. Segundo funcionários, as unidades que recebem mais clientes são as mais impactadas com a diminuição da oferta. As empresas JBS (dona da Friboi), Marfrig e Masterboi são algumas das que aderiram ao boicote.
Fábio Andrade fazia compras em um supermercado da capital quando notou a diminuição dos itens à disposição dos clientes. “Geralmente, as embalagens ficam até o topo do freezer. Mas, agora, estão na metade e, em alguns casos, nem isso”, comentou. Os cortes costela bovina, picanha suína temperada, fígado bovino, filé mignon e frango são alguns dos produtos que começam a faltar nos freezers.
A redução dos produtos também é percebida nos estoques no depósito dos mercados. Funcionários disseram, sob condição de anonimato, que a situação é crítica. A reportagem apurou que em um Atacadão visitado nesta manhã só existiam quatro caixas de carne, o equivalente a 80 quilos de proteína animal. “Os supervisores estão preocupados, pedindo para tirarmos fotos e mandar nos grupos de mensagem”, contou um colaborador.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia (Abrasel) disse, em nota, que "não há motivos para preocupação com possibilidade de desabastecimento de carnes para bares e restaurantes". Segundo a associação, as proteínas são ofertadas por outras redes.
"A Abrasel lamenta a decisão do Carrefour, que certamente desgastou a relação da empresa francesa com diversos segmentos, inclusive de Bares e Restaurantes", diz.
Nesta terça-feira (26), o grupo Carrefour publicou uma carta de retratação dirigida ao mercado brasileiro. Alvo de boicote de frigoríficos nacionais, a rede de supermercados disse que a carne brasileira tem "alta qualidade e sabor". O comunicado foi feito após a repercussão do caso entre produtores, empresários e políticos.
"Nossa declaração de apoio à comunidade agrícola francesa na última quarta-feira sobre o tema do acordo de livre comércio com o Mercosul deu origem a discordâncias no Brasil que é nossa responsabilidade resolver. Jamais colocaríamos a agricultura francesa contra a agricultura brasileira, pois nossos dois países compartilham o amor pela terra, sua cultura e a boa comida", diz a carta.
A ação de frigoríficos brasileiros foi uma resposta ao boicote anunciado pelo CEO da rede às carnes dos países que compõem o Mercosul. A Masterboi realizou a suspensão de 250 toneladas de carne aos supermercados da marca.
Na última quarta-feira (20), Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour, anunciou o boicote como forma de solidariedade ao agronegócio da França, que tem se posicionado contra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Para os franceses, os produtores da América do Sul teriam vantagens competitivas por não seguirem as legislações rígidas da Europa.
Para o economista Acilio Marinello, o efeito na vida dos brasileiros deve ser a diminuição da oferta de carne nas lojas do grupo Carrefour, que nega o desabastecimento. “A carne é um produto altamente perecível. Os estoques que os supermercados têm hoje devem durar, no máximo, quatro a sete dias”, avalia.
Divulgado nesta terça-feira (26), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) aponta que as carnes tiveram, pelo segundo mês consecutivo, o maior aumento de preço entre os alimentos pesquisados. A alta foi de 8,46% em novembro. O IPCA-15 funciona como uma prévia da inflação oficial do mês, refletindo os preços coletados entre 12 de outubro e 12 de novembro.