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Priscila Natividade
Publicado em 19 de agosto de 2023 às 16:00
Era dia, mas tudo parou. Faltou luz elétrica, água, internet, metrô, telefonia, posto de combustível e até pix. Depois do apagão da última terça-feira (15), que afetou o Distrito Federal e 25 estados, exceto Roraima, há quem tenha se perguntado sobre qual o caminho para se tornar autossuficiente. O blecaute interrompeu quase um terço do consumo de energia do Brasil, de acordo com relatório mais recente publicado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) na quinta-feira (17). Pode tudo se apagar e minha casa permanecer com a luz acesa? >
Só para se ter uma ideia, na Solares Automação, empresa especializada na instalação de placas solares em residências e empresas, do dia do blecaute até o final dessa semana, a procura pelo serviço cresceu 15%, como confirma um dos sócios, Alielson Paz: “Por ser uma fonte renovável, a energia solar não polui, além de ter vida útil de, aproximadamente, 25 anos. Em termos de economia, pode reduzir a conta de luz em até 90%”. >
No entanto, para alcançar autossuficiência é necessário a instalação de um sistema off grid, não conectado à rede da concessionária. O recurso é dotado de baterias que irão armazenar toda energia produzida e assim, mesmo na ausência de energia, o usuário vai ter ali disponível o que foi guardado. >
“Após apagão tivemos mais pessoas em busca da energia solar, mas, com essa a ideia equivocada de que o sistema conectado à rede comum manteria a sua residência ou empresa mesmo na ausência do suprimento de energia por parte da concessionária. Mas, a busca continua, muito mais pela necessidade de se reduzir as despesas”. >
Se hoje a instalação das placas solares tem valores a partir de R$ 15 mil - a depender da conta de energia - com a instalação do sistema off grid esse investimento aumenta entre 30% a 40%. “Uma vez instalado, o sistema já estará em funcionamento gerando energia elétrica solar para a sua residência ou para seu negócio. O off grid – que, de fato, vai garantir a autossuficiência – exige um investimento muito mais alto e é mais utilizado em áreas onde não existe a rede elétrica”. >
Alielson Paz
sócio da Solares AutomaçãoFato é que tanto os negócios quanto o consumidor residencial estão cada vez mais buscando alternativas. Antes mesmo do apagão, no Home Center Ferreira Costa, durante o mês de agosto, houve crescimento de 42% nas vendas de geradores à gasolina, comparado ao mesmo período do ano passado. >
O supervisor de vendas de máquinas e motores, Rodrigo Petilo, ressalta que os preços dos produtos, tanto na loja como no site, variam entre R$ 2.009 com 0,95 kva (quilovoltampere/ unidade de medida do gerador) a R$ 13.287, de 10 kva, recomendado para uso doméstico. >
“Os geradores a gasolina são ideais para residências e locais em que a necessidade de energia é baixa. Esse tipo de gerador supre demanda por energia de equipamentos básicos e emergenciais, de baixa amperagem, como lâmpadas, televisão, equipamentos de pequeno porte ou para prestação de serviços esporádicos”, afirma. >
Mas há mesmo motivo para se preocupar? O apagão foi causado por uma sobrecarga no Ceará, conforme apontou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. A Polícia Federal (PF) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigam se a motivação tem relação com alguma ação humana. O último evento dessa proporção aconteceu em 2014, quando afetou a maioria das regiões do Brasil depois de um curto-circuito em uma linha de transmissão. Porém, a maior interrupção de energia do país foi em 2009. O apagão afetou 18 estados e atingiu, inclusive, algumas cidades do Paraguai. >
Para o professor do MBA Fundação Getúlio Vargas (FGV), economista e doutor em Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/ UFRJ), Vanderlei Martins, qualquer possibilidade de crise energética no país está descartada. “O Brasil investiu muito nos últimos anos no seu parque de geração. Graças a isso há uma diversificação das fontes e segurança energética na nossa matriz elétrica. O apagão foi muito pontual. É importante tranquilizar a população que o nosso sistema de transmissão é muito robusto e o próprio apagão é um mecanismo de defesa do sistema”. >
Vanderlei Martins
professor do MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV)Atingir a autossuficiência em geração de energia é viável, mas exige planejamento e investimento, como explica o professor do Uniruy e engenheiro de Inteligência Artificial (IA) em Sistemas Avançados de Produção, Roney Malaguti. Ele atua com desenvolvimento de modelos automáticos de detecção de falha. >
“Os painéis solares representam uma alternativa amplamente adotada, tanto em residências quanto em empresas. Inclusive, nas de médio e grande porte, além da energia solar, a energia eólica se torna mais uma opção. Outra recomendação é a adoção de sistemas de armazenamento de energia que possam garantir suprimento contínuo mesmo durante períodos de baixa produção”, diz Malaguti. >
Negócios que exigem operações contínuas e não podem suportar interrupções significativas devem considerar a autossuficiência energética como parte de sua estratégia. É o que recomenda professor dos cursos de Engenharia no Centro Universitário Ages, Raphael Sapucaia. “Alguns exemplos incluem hospitais, clínicas, tecnologia da informação, indústrias, comunicação, educação, supermercados, segurança pública e agronegócio. Todos esses serviços e segmentos de negócios estão interconectados”. >
Na realidade, hoje em dia, qualquer consumidor pode gerar sua própria energia, como complementa o coordenador do curso de Energia Elétrica da Unijorge, Raul Santos. “As contas estão vindo cada vez mais altas. Existe aí a possibilidade de juntar com um parente ou um vizinho e ratear esse investimento. O impedimento é mais esse custo inicial, ao ter que arcar com esse valor sozinho. Principalmente as soluções de energias renováveis, se tornam cada vez mais acessíveis”, reforça. >