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Tharsila Prates
Publicado em 14 de março de 2025 às 17:33
Um homem vítima de racismo ao tentar entrar em um supermercado na Barra, em Salvador, ganhou direito a uma indenização financeira de R$ 35 mil pelos danos morais sofridos. O caso aconteceu em 2017, quando o trabalhador informal tentava comprar mercadorias para revenda. Na ocasião, ele foi barrado por um segurança que alegou a loja tinha fechado, mas permitiu a entrada de um casal de pessoas brancas. >
Após atuação da Defensoria Pública da Bahia, a rede de supermercados foi condenada a indenizar o trabalhador. A sentença foi proferida em 2023 e, após passar por recurso, foi mantida com a decisão final expedida no final de 2024. “Quando soube do resultado, vi que valeu a pena correr atrás dos meus direitos. A gente tem que denunciar o racismo. Muitas vezes, a gente sofre preconceito e não faz nada. Só por ser preto, as pessoas já acham que a gente é bandido”, diz o ambulante, em material distribuído nesta sexta-feira (14).>
Além de ter sido impedido de entrar na loja, após questionar a conduta do segurança, o ambulante foi chamado de “desocupado, preto e vagabundo”.>
Para a defensora pública Nayana Gonçalves, que atuou no caso, a situação vivida pelo ambulante é um dos resquícios da escravidão que assola a população negra. “A situação de violência se deu pelo simples fato de o homem ser negro, estar vestido com trajes simples e trabalhar como ambulante”, avalia.>
Segundo ela, no momento, o processo está em fase de execução, ou seja, averiguação do montante devido de forma atualizada, e a indenização pode chegar a pouco mais de R$ 70 mil. A Defensoria da Bahia atuou na esfera cível, para garantir indenização pelo dano moral sofrido. Na área criminal, é o Ministério Público quem oferece a denúncia, por se tratar de crime de ação penal incondicionada, ou seja, sem necessidade de representação da vítima.>
Racismo é crime>
A prática de racismo está descrita na Lei de Crimes Raciais nº 7.716/89. Em Salvador, a DPE/BA atende essas demandas na Casa de Direitos Humanos, que fica na Rua Arquimedes Gonçalves, nº 482, Jardim Baiano.>
No caso do ambulante, a presença de testemunhas foi fundamental para garantir a produção de provas e o andamento do processo. Além de orientar o rapaz a registrar Boletim de Ocorrência, buscar a Defensoria Pública e o Ministério Público, duas jovens que presenciaram a situação compareceram às audiências para depor sobre a violência presenciada. “Eu tenho contato com elas até hoje”, conta ao ambulante.>
Na decisão proferida pelo Judiciário, a violência sofrida pelo trabalhador é reconhecida como “um claro exemplo de manifestação de preconceito racial e social”. O texto afirma ainda que “as atitudes hostis praticadas contra o autor foram precedidas pelo pensamento discriminatório e excludente, pelo qual se impôs à negritude de um homem e simplicidade de seus trajes uma condição de subalternidade social e econômica, a tornar inaceitável que pudesse ele ser cliente em compras naquele estabelecimento”.>
De acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Bahia é responsável por cerca de 8 em cada 10 processos de injúria racial no país. Em 2023, foram 4.798 casos, sendo 4.049 apenas no estado.>
O que fazer>
Desde 2023, o crime de injúria racial, que são ofensas direcionadas a uma pessoa, foi equiparado ao crime de racismo. Com isso, a pena ficou mais severa, com reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Agora também não é possível o pagamento de fiança e o crime é imprescritível.>
No momento do crime, é importante tentar manter a calma e buscar o apoio das pessoas presentes para chamar a polícia e ter testemunhas da situação. Vídeos, fotos e áudios também são documentos importantes. Por isso, tente filmar a situação e reunir o máximo de informações possíveis sobre o agressor, como nome, características físicas, placa de carro, etc.>
Mesmo na internet, o racismo continua sendo crime e os agressores podem ser responsabilizados. Tire prints da tela, se puder, leve o aparelho até um cartório de notas para realização de ata notarial ou faça o registro de prova no site Verifact!>
É importante também denunciar o usuário na rede social em que houve racismo. Na política de respeito e convivência da maioria das redes há como punição a pronta exclusão do perfil agressor.>
As denúncias de racismo na internet também podem ser feitas nos sites da Polícia Federal e da SaferNet.>
Independentemente de onde o crime tenha acontecido, é fundamental registrar um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima e procurar as autoridades.>