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Millena Marques
Publicado em 2 de janeiro de 2025 às 02:00
Dentre todos os produtos e serviços pesquisados para calcular a inflação oficial, o café foi o que mais encareceu em Salvador e Região Metropolitana no último ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação acumulada no ano do produto foi de 37,23%. A diferença para o segundo colocado na lista foi de cerca de 6 pontos percentuais – o alho registrou 29,30% em 2024.
O encarecimento é resultado de um fator específico: a seca que atingiu o Brasil e outros países produtores do café. Quem explica isso é João Lopes Araujo, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé) e diretor da Associação Comercial da Bahia. “Por coincidência dramática, nós tivemos seca drástica no Brasil, maior produtor do mundo, no Vietnã, segundo maior, na Indonésia, Colômbia e Nicarágua”, diz. Segundo ele, essa coincidência foi a primeira em seus 53 anos como produtor do grão.
Segundo o levantamento do IBGE, julho e agosto foram os meses em que o café registrou as maiores altas: 6,36% e 4,76%, respectivamente. “A safra acabou de ser colhida no final de julho, aí foi que o mercado se deu conta que produção foi bem menor. O estrago estava feito. A safra acabou, não apareceu café no mercado, o preço aumentou”, continua Araujo.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicou que o produto teve as maiores altas entre os 12 produtos da cesta básica em junho (9,03%) e setembro (8,54%). No ano, o aumento é de 50,47% e, em 12 meses, o aumento é de 51,91%.
“Com o real desvalorizado, as exportações aumentaram muito. A combinação de redução de oferta e, consequentemente, a alta do preço e o real desvalorizado, que reduz nossos preços. Em termos internacionais, animou as exportações e reduziu a oferta doméstica”, explica Ana Georgina Dias, supervisora técnica do Dieese.
Segundo a Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2023, do IBGE, a Bahia foi a 4ª maior produtora de café no Brasil, com 232.497 toneladas, atrás somente de Minas Gerais (1.735.408 t), Espírito Santo (811.417 t) e São Paulo (307.353 t). Embora seja destaque na produção nacional, a redução no valor final para os baianos é incerta. “A expectativa é que o preço só venha a melhorar em 2026 porque não tem como o país que teve uma lavoura prejudicada pela seca se recuperar a produção para 2025”, revela Araujo.
De acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI-BA), a seca e o excesso de chuvas impulsionaram “uma alta significativa nos preços, com a saca do café despolpado, em Vitória da Conquista, aumentando de R$ 830,00, no terceiro trimestre de 2023, para R$ 1.570,00, no mesmo período de 2024”.