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Alexandre Lyrio
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 05:35
- Atualizado há 2 anos
Uma campanha lançada em maio deste ano, ainda nos primeiros meses da pandemia, ganhou nova força neste final de 2020. Prestes a perder a sua sede, a Senzala do Barro Preto, no bairro da Liberdade, o bloco afro Ilê Aiyê divulgou novo comunicado pedindo doações para quitar uma dívida trabalhista que, segundo diretores da entidade, chega a R$ 400 mil. Acontece que, apesar das convocações de diversos artistas durante a campanha, as doações arrecadadas não passaram de R$ 150 mil.
“Estamos em campanha desde o meio do ano, mas tentando uma força agora no final do ano pois algumas pessoas acharam que o problema já havia sido sanado. Continuamos precisando dessa ajuda”, disse Sandro Telles, um dos diretores do bloco.
A sede do grupo pode ser penhorada a qualquer momento pela Justiça do Trabalho para que seja paga uma dívida com o ex-cantor do bloco, Adaelson Evangelista Santos. No mês de julho, quando o Ilê anunciou a realização de sua live, diversos artistas como Daniela Mercury, Margareth Menezes e Regina Casé gravaram vídeos anunciando o evento e convocando o público e parceiros para fazer doações.
O prazo do Ilê para sanar o problema, segundo a direção do afro, é o retorno presencial das atividades da Justiça. Assim que o judiciário voltar, caso a dívida não seja quitada, o bloco pode perder o seu maior palco não só de shows, mas de projetos sociais e culturais. O próprio Vovô do Ilê, presidente e fundador do primeiro bloco afro do Brasil, tem disparado mensagens de WhatsApp pedindo doações.
Nesta terça-feira, 29, a cantora Ivete Sangalo foi contatada para participar da campanha junto com seus fãs. “O pessoal falou com Ivete, não para pedir quantia em dinheiro, mas para que os fãs ajudem a divulgar a campanha”, disse Vovô. O texto divulgado por Vovô traz os números das contas bancárias para depósito (veja no card ao lado).
“Nosso amadoIlê Aiyê está passando por uma situação financeira difícil neste momento e corre o risco de perder a Senzala do Barro Preto no bairro do Curuzu. O Ilê Aiyê é uma organização revolucionária que luta há 45 anos por justiça social e pela conscientização racial, e que tem realizado uma profunda revolução cultural no Brasil desde os anos 70”, inicia a nota. “Para nós, perder nossa sede, onde realizamos tantos programas revolucionários, seria uma tragédia imensa. Se você puder, por favor, contribua com esta campanha. Precisamos que a chama do ‘Mais Belo dos Belos’ continue a queimar vigorosamente, agora mais do que nunca!”.
O objetivo inicial da campanha do Ilê é alcançar aproximadamente seis mil pessoas que possam doar uma média de R$ 50. O diretor Sandro Telles lamenta que a pandemia tenha paralisado quase que completamente a arrecadação do bloco. Uma turnê pelo país, conquistada em edital da Petrobras foi suspensa. “Estamos terminando um ano extremamente difícil, com os nossos projetos sociais paralisados em virtude da pandemia, nossos shows também paralisados (uma das poucas formas de obtenção de recurso). Tivemos um edital da Petrobrás aprovado para fazer uma turnê pelo país, mas a pandemia ‘quebrou nossa perna’”, afirma Sandro.
O diretor diz que o bloco acabou de conseguir um apoio no valor de R$ 250 mil da MAC Cosmetics, mas para uso específico nos projetos sociais. Essa quantia não pode servir para quitar a dívida trabalhista. Esta dívida, aliás, é considerada 'extremamente abusiva' por Vovô do Ilê. Segundo ele, nos últimos dez anos, o bloco foi alvo de imbróglios judiciais maliciosos.
"Fomos surpreendidos com a possibilidade de penhora da nossa sede social. São imbróglios judiciais trabalhistas severos e maliciosos que levam consigo esse legado cultural e social", disse o presidente. Para piorar as coisas, este ano não vai ter Carnaval. “Mas até fevereiro temos que resolver isso. Foi o prazo que colocamos para nós”.
O CORREIO abraça a causa do Ilê; veja como ajudar