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Maysa Polcri
Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 15:11
Uma adolescente de 17 anos que mora em Cajazeiras começou o ano com motivos para comemorar. Nos primeiros dias de janeiro, foi contratada para uma vaga de estágio na loja Kin Kin Fotografia, localizada no Shopping Paralela, em Salvador. A experiência, no entanto, se tornou um pesadelo e a jovem relata ter sofrido importunação sexual no terceiro dia de trabalho. Abalada psicologicamente, a vítima registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Criança e o Adolescente (Dercca), na terça-feira (9).
Por volta das 18 horas do sábado (6), a jovem questionou um dos sócios do estabelecimento sobre o vale-transporte, segundo conta a advogada da vítima. O homem, então, teria levado a adolescente para um espaço reservado dentro da loja. Quando estavam sozinhos, ele teria mostrado uma foto em que a jovem aparece com uma blusa decotada no celular e proferido palavras com teor sexual.
“Ele disse que se ela quisesse trabalhar na loja não poderia postar fotos com decote como aquele porque isso o deixava excitado. Logo depois, ele apalpou os seios dela”, conta a advogada Clarice Aragão. Depois do ocorrido, que configuraria importunação sexual, a vítima continuou trabalhando. A pena para o crime é de um a cinco anos de reclusão.
“A ficha dela só caiu quando uma cliente chegou na loja. Foi então que ela desabou e começou a chorar”, completa Clarice Aragão. A jovem foi acolhida por colegas de trabalho. “Outras colegas disseram que não era a primeira vez que isso acontecia. Ela falou para o chefe que estava passando mal, foi para a casa e não voltou mais ao local”, afirma.
Em uma conversa através de um aplicativo de mensagens a qual a reportagem teve acesso, a vítima confronta o suspeito do crime sobre a importunação sexual. Às 20 horas do sábado, ele envia uma mensagem perguntando se ela já havia chegado em casa e se estava melhor.
“Como o senhor acha que eu estou depois do que o senhor me fez, passei mal com sua atitude”, diz a jovem. O homem parece não entender a gravidade do fato e cita uma outra situação que ocorreu no ambiente de trabalho. “Não, eu falo de quando o senhor pegou no meu peito e, olhando minha foto, disse que seu peito estava ficando acelerado”, completa a vítima. Ele não responde a mensagem.
A reportagem tentou entrar em contato com o advogado de defesa do homem que teria praticado o ato, por mensagens e ligação, mas não obteve retorno até esta publicação.
A vaga de estágio foi intermediada pela empresa RH Líder, que realiza recrutamento e seleção há dois anos para a Kin Kin Fotografia. Outras duas lojas dos mesmos donos contratam pessoas através da consultoria, mas nunca houve relato de crimes sexuais, segundo Jéssica Brunes, gestora da empresa. O contrato de trabalho ainda não tinha sido assinado.
“Nunca tivemos informações sobre qualquer tipo de abuso cometido pelos donos da empresa e estou surpresa porque não ficamos sabendo dessa denúncia”, afirma Jéssica Brunes. “Vamos contatar a nossa assessoria jurídica e prestar todo o apoio necessário à vítima e, se necessário, desvincular a empresa dos nossos serviços”, pontua.
Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente investiga a importunação sexual. “Conforme informações, a adolescente foi questionar sobre seu vale transporte e teve os seios apalpados pelo seu empregador. O depoimento especial da vítima foi agendado e o autor será intimado na delegacia”, pontua
Segundo a advogada Clarice Aragão, o depoimento da jovem foi marcado para abril. A Polícia Civil foi questionada se existem outros registros de crimes sexuais contra os sócios da loja, mas disse que não divulga informações sobre isso.
O Shopping Paralela, onde a loja fica localizada, foi procurado pela reportagem na manhã desta quarta-feira (10) e disse que enviaria um posicionamento oficial, o que ainda não foi feito.