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Atuação de policiais da Caatinga pode acirrar clima de guerra em Salvador, diz especialista em segurança

Unidades especializadas da Polícia Militar vão atuar no combate ao crime organizado na capital a partir desta terça-feira (22)

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 22 de outubro de 2024 às 17:00

Reforço de forças foi oficializado nesta terça-feira (22), em Salvador
Reforço de forças foi oficializado nesta terça-feira (22), em Salvador Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Policiais que integram as Companhias Independentes de Policiamento Especializado (Cipes), conhecidas popularmente como Caatinga, vão atuar no combate às facções criminosas em Salvador. O reforço de 120 agentes e 30 viaturas foi oficializado nessa terça-feira (22), em um evento no Centro Administrativo da Bahia (CAB). A Caatinga é reconhecida pelo embate ostensivo ao crime no interior do estado e, para especialistas, deverá acirrar o “clima de guerra” na capital baiana.

A unidade especializada atua no combate ao tráfico de drogas, roubo de cargas e assaltos a instituições financeiras em cidades do sertão baiano. Fazem parte das Cipes policiais especializados em gestão de crise, como negociadores, atiradores de elite e agentes que realizam operações aéreas. O coronel da Polícia Militar Manuel Muniz, comandante de Policiamento em Missões Especiais, explica como se dá o treinamento dos agentes.

“São as tropas que atuam, geralmente, em situações mais críticas. As tropas estão localizadas em todos os quadrantes do estado. Na medida que os sintomas [do crime] se tornam mais graves, a Polícia Militar vai dosando suas forças para fazer frente a eles”, diz. Entre as ações da Caatinga, no interior, estão a descoberta e a desarticulação de laboratórios de drogas e plantações de maconha.

Caatinga atua no interior da Bahia
Caatinga atua no interior da Bahia Crédito: Divulgação/PM-BA

Em abril deste ano, por exemplo, a Caatinga destruiu 70 mil pés de maconha, que renderiam cerca de 21 toneladas de entorpecentes, em Abaré. Sob o lema “Onde for preciso, com a maior força possível e o mais rápido que puder”, a tropa atua no combate ao tráfico no Polígono da Maconha. A área corresponde a um quadrilátero imaginário com mais de 20 municípios do sertão nordestino que produzem cannabis ilegalmente. Juazeiro, Paulo Afonso e Glória estão entre as cidades baianas.

Apesar de Salvador se diferenciar do interior do estado por suas características próprias, como becos e vilas em comunidades periféricas, o titular da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, garantiu que a Caatinga está pronta para atuar na capital. “É um policiamento de referência especializado, que tem, por si só, uma sequência de treinamento e capacitações continuadas que os deixam [policiais] aptos para atuar em áreas rurais e urbanas”, explica.

A eficácia da atuação da Caatinga em Salvador é questionada por especialistas em segurança pública. Luiz Claudio Lourenço, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (Lassos/Ufba), avalia que o empenho da tropa não resolve o problema da insegurança.

“Nos últimos 15 anos, o número de chamadas especializadas com vistas ao enfrentamento do crime organizado aumentou enormemente na Bahia e em Salvador. No entanto, a diminuição da violência não ocorreu na mesma medida. A Caatinga é uma unidade destinada a outros ambientes que não o das comunidade urbanas periféricas de Salvador”, avalia o cientista social.

Para Luiz Cláudio Lourenço, a atuação das tropas pode colaborar para o aumento da insegurança. “A atuação militarizada e ostensiva da polícia muito fortemente armada, se usada de maneira desmedida e a todo momento, pode trazer mais insegurança do que paz. Ao acirrar o clima de guerra, dificilmente haverá a produção de segurança”, completa.

Durante o evento que oficializou a chegada da Caatinga para atuar em Salvador, o secretário Marcelo Werner ressaltou que o combate à violência não deve se dar apenas através do policiamento ostensivo. “Entendemos que segurança não é só polícia. Precisamos do apoio da população às forças de segurança, mas pensamos também na importância da escola, cultura, esporte, religião e família”, disse.