Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Abandonado: Shopping da Baixa dos Sapateiros já perdeu mais de 70% das lojas

Apenas 25 dos 91 estabelecimentos seguem funcionando no local

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 28 de março de 2025 às 05:00

Shopping Baixa dos Sapateiros vazio durante horário de funcionamento Crédito: Marina Silva/CORREIO

Por muitos anos, o Shopping Baixa dos Sapateiros foi uma das principais referências comerciais de Salvador. Hoje, mais de quatro décadas após a inauguração em 1982, o centro de compras perdeu mais de 70% das lojas – do total de 91 estabelecimentos, apenas 25 estão funcionando – e foi abandonado pela maior parte da clientela. Entre os principais motivos para a decadência do lugar, são apontados problemas por má administração e fim do fôlego comercial na região da Baixa dos Sapateiros.

A descaracterização do espaço enquanto shopping começa desde a fachada que, antes pintada nas cores verde e branco nítidos, agora está desbotada e descascada. No portão de entrada pela Ladeira de Santana, a ferrugem toma conta e resquícios de lixo chegam a se acumular no canto do corredor principal.

Fachada do Shopping Baixa dos Sapateiros Crédito: Marina Silva/CORREIO

Segundo os comerciantes, a situação de precariedade já tomou conta há alguns anos. “A administração daqui é ruim. O banheiro só está utilizável porque nós o trancamos. Imagine, que cliente vai querer entrar em uma loja se nem um banheiro tem para usar? Ninguém quer sair de casa para ver sujeira e ferrugem. Na semana passada, tinha um homem em situação de rua andando nu aqui dentro. É um show de horrores”, afirma Sara Reis, que há nove anos comanda uma gráfica no local.

Não fossem os fatos narrados por Sara indicativos suficientes de abandono, o completo vazio gera dúvida sobre a existência de qualquer comércio no local. Por volta das 14h desta quinta-feira (27), apenas seis lojas estavam funcionando no andar superior do shopping – entre elas a gráfica. “Não tem mais nada atrativo. Eu tenho alguns clientes fixos e vendo pela internet. Se eu dependesse das pessoas que passam por aqui, morreria de fome”, enfatiza a comerciante.

Sara Reis Crédito: Marina Silva/CORREIO

No Universo da Camisa, loja comandada por Flávia Tosta, 50, o movimento fraco é uma constante. Ela conta que, em uma semana, costuma receber apenas 20 clientes. “O movimento está fraquíssimo. Eu só faço vendas porque tenho uma clientela antiga e faço daqui um ponto de entrega. Hoje mesmo passei o dia inteiro sem vender nada. Se não fosse minha loja virtual, não venderia”, diz.

Tanto a degradação do espaço do Shopping Baixa dos Sapateiros quanto a falta de movimento são fatores interligados que se retroalimentam. Há quem defenda que o administrador do centro de compras, por falta de movimento, não consegue dinheiro para implementar melhorias no shopping. A falta de melhorias, por sua vez, contribui para o afastamento dos consumidores.

Escada rolante do Shopping Baixa dos Sapateiros não funciona
Escada rolante do Shopping Baixa dos Sapateiros não funciona Crédito: Marina Silva/CORREIO

Apesar das motivações apontadas pelos comerciantes, o fato é que nem sempre esses problemas existiram. A origem do abandono do shopping, na perspectiva de Sinai Sabigursky, que há 25 anos comanda um salão de beleza no local, ocorre por uma sequência de mudanças que resultaram na perda do fôlego comercial na Baixa dos Sapateiros como um todo.

A primeira grande mudança foi a migração dos principais prédios administrativos para o Centro Administrativo da Bahia (CAB), em 1972. Com o deslocamento da área burocrática para longe do Centro, foi natural a saída de bancos e outros estabelecimentos de grande porte nas décadas seguintes. Esse motivo, por si só, já representou um decréscimo no movimento que só foi intensificado anos depois.

“O shopping deixou de ter novidades. Tudo que tem aqui passou a ter nos bairros, ou seja, houve um fortalecimento dos comércios locais. A acessibilidade pela internet também tirou o fluxo de pessoas das ruas, assim como a violência. Não tem transporte que circule direito. Não tem ônibus que traga o turista do Pelourinho para cá”, critica Sinai.

Outro fator que intensificou a crise do Shopping Baixa dos Sapateiros foi a pandemia de Covid-19. Segundo Sinai, durante o período, ela precisou atender clientes em domicílio e, logo após o fim do confinamento, as contas deixaram de fechar. “Esperávamos que o salão fosse uma fonte de renda, mas estamos apenas sobrevivendo”, pontua.

“Se eu for contribuir, pagar taxas de condomínio e da prefeitura, além de pagar por funcionário CLT, o melhor seria fechar. Por isso, temos parcerias aqui e fazemos acordo com a administração para pagar valores menores. Mesmo assim, as contas não fecham”, conta Sinai.

O enfraquecimento pós-pandemia tem relação inversamente proporcional ao crescimento das vendas online. Para Antonia Santos, 53, que há mais de 30 anos trabalha na Eletrônica Nova Visão, um estabelecimento de eletrônicos no shopping, se vê cada dia mais ameaçada pelo comércio virtual. “Prejudicou muito a gente. Eu acho que daqui a um tempo não vai ter mais loja física, porque quem está no comando dessas lojas não vai mais aguentar”, desabafa.

O golpe mais recente para os comerciantes do Shopping Baixa dos Sapateiros foi o fim das operações da Caixa Econômica Federal que funcionava no local. Antes, o Núcleo de Atendimento Judiciário (NAJ) e o Bradesco também haviam evadido.

A reportagem tentou entrar em contato com o administrador do shopping, mas um funcionário do setor administrativo disse que ele não estava no local. A reportagem tentou obter um número para conversar com o responsável pela manutenção do centro comercial, sem sucesso. Como último recurso, deixou um número para ligação e aguarda contato.

A representante da Associação dos Lojistas da Baixa dos Sapateiros e Barroquinha (Albasa) foi procurada para se posicionar em relação aos problemas enfrentados pela classe. Em resposta, disse que “a associação não concorda com o pensamento de poucos lojistas” e que não tinha interesse em participar da matéria. Ainda, ressaltou que a Albasa está “dialogando com quem de fato pode contribuir com o fortalecimento do comércio”.

O CORREIO procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) para se posicionar em relação à insegurança relatada por comerciantes da Baixa dos Sapateiros, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto.

A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) também foi procurada para se posicionar quanto a reclamação dos comerciantes no que diz respeito à redução de linhas de ônibus, mas não teve a demanda atendida. O espaço segue aberto.