Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 06:00
Na sombra de um guarda-sol, a playlist que domina inclui o pagodão de Léo Santana e Tony Salles. A poucos metros, é impossível não escutar o hit Resenha do Arrocha embalando o dia na praia. Ainda há espaço para sertanejo, funk e o que mais for emitido das caixinhas de som dos banhistas. Juntas, as liberdades individuais confundem os ouvidos e desagradam muita gente. Em pleno verão, um abaixo-assinado quer proibir os aparelhos das areias de Salvador. >
Os equipamentos têm níveis de potências e tamanhos variáveis. Enquanto alguns, mais discretos, ficam em cima das mesas, outros precisam ser puxados por rodinhas. Quando criou o abaixo-assinado, o baiano Lucas Albuquerque, 30, sonhava com a proibição de todos eles na praia. >
Entre os dias 15 de janeiro e 5 de fevereiro, o documento intitulado 'Pela proibição de aparelhos de som nas praias de Salvador' recebeu 8.475 assinaturas na plataforma Change.org. A meta é que 10 mil pessoas colaborem. >
"É um desejo coletivo das pessoas terem o espaço da praia como um lugar de contemplação. São inúmeros grupos, cada um com seu estilo musical, o que causa uma poluição auditiva", diz o médico. Outra petição na mesma plataforma também manifesta o desejo contra as caixas de som. Dessa vez, em Morro de São Paulo. >
Lucas conta que se surpreendeu com a repercussão. "Esperava que tivessem assinaturas porque esse é um assunto que está atual em todo o Brasil, mas o impulso foi em um espaço de tempo muito curto", avalia. Cidades como Vitória (ES), Guarujá (SP) e Itapema (SC) são algumas onde a prática de escutar som alto na praia é proibida por lei. >
No sul da Bahia, a prefeitura de Itacaré proibiu a utilização de caixas de som nas praias. A medida passou a valer em dezembro do ano passado. A multa pode chegar a R$ 20 mil. Também estão proibidos churrascos, acampamentos e trânsito de animais. >
Nos comentários do abaixo-assinado online, quem assinou a petição explica seus motivos. "Democracia sonora. Quem quiser ouvir suas músicas que ouça até o ouvido do outro não alcance", afirma um incentivador. "Acho muito desagradável o som na praia. Um desrespeito para aqueles que querem curtir a natureza", emenda outro. >
Para o autor do documento, as praias onde os equipamentos de som mais incomodam são Porto da Barra e Boa Viagem. Há quem defenda a liberdade de levar sua caixa de som para onde bem entender. Uma vendedora que tem o costume, justifica: "Acho que a proibição não é o melhor caminho. Precisamos de educação. É só não colocar em um volume que incomode as outras pessoas". >
Foram registradas 23.187 denúncias de poluição sonora em 2024 em Salvador. A média é de 63 reclamações por dia. Nenhuma delas foi motivada por emissão de sons em praias, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur). >
Na terça-feira (4), foi protocolado um projeto de lei que prevê a proibição dos aparelhos eletrônicos, além de apreensão e multa, nas praias de Salvador. >
A autoria é do vereador Alexandre Aleluia (PL). O político também é responsável pelo projeto nº 21/2025, que propõe a proibição da colocação antecipada de kits de praia no Porto da Barra sem a solicitação prévia do usuário. >
O vereador explicou o novo projeto de lei em uma publicação no Instagram. "Protocolei hoje um projeto de lei que proíbe caixas de som nas praias de Salvador, com multa e apreensão do equipamento pela Prefeitura", disse. >
No mês passado, um turista argentino viralizou depois de compartilhar um vídeo no qual mostra o uso de um dispositivo capaz de silenciar uma caixa de som em uma praia no Brasil.>
No vídeo, é possível ouvir uma música da cantora Ana Castela tocando em alto volume em uma caixa de som. Após o turista apertar um botão de um aparelho, o som para.>
A publicação foi feita por Roni Baldini, o criador do dispositivo, na plataforma X, antigo Twitter. Ele mencionou ter passado por Salvador e Fortaleza durante sua viagem, mas não disse onde gravou as imagens. >
O equipamento, no entanto, pode oferecer risco à saúde. Segundo especialistas, o aparelho pode causar interferências graves no funcionamento de marca-passos, podendo levar à morte do portador de problemas cardíacos.>