'A principal marca da nossa gestão é a confiabilidade', diz vice-prefeita Ana Paula Matos

Terceira mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita de Salvador, pedetista será candidata à reeleição no pleito deste ano

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  • Millena Marques

Publicado em 24 de junho de 2024 às 05:30

Vice-prefeita de Salvador, Ana Albuquerque
Vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos Crédito: Ana Albuquerque/Correio

Terceira mulher a ocupar o cargo de vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos (PDT) será candidata à reeleição no pleito deste ano. Se for reconduzida, se tornará a mulher com mais tempo no Executivo soteropolitano, mas ela ressalta que não quer ser lembrada apenas por ser mulher.

“Eu quero ser conhecida não só como a mulher que eventualmente ficou mais tempo nesse papel, mas como mulher (conhecida), pelo trabalho, pela escuta, pela humildade, pelo comprometimento, pela competência e que seja sempre lembrada pelo legado, por tudo que construiu de política pública”, afirma.

Ainda na entrevista, Ana Paula faz um balanço do primeiro mandato do prefeito Bruno Reis (União Brasil). Para ela, a principal marca da gestão é a “ confiabilidade” que passa para o eleitor.

A vice-prefeita defende também que, em um eventual segundo mandato, a saúde seja uma prioridade. Ela não descarta um dia ser prefeita da capital baiana. “Obviamente que farei com muito amor, mas não é um sonho da minha vida”, salienta.

A senhora e o prefeito Bruno Reis completam agora três anos e meio de gestão. Como avalia esse primeiro mandato? Qual é a marca desta primeira gestão?

Acho que a gente se caracteriza por estar na comunidade, ouvindo as pessoas, fazendo entregas, projetos e estando na comunidade com o povo mesmo. Foi um início de mandato muito difícil, porque a gente pegou a segunda onda e, talvez, a pior fase da pandemia (da covid-19). Então, nos dois primeiros anos de mandato, nossos recursos, energia e estrutura estavam muito focados de fato na pandemia, desde entender como os pais, as escolas, o setor empresarial, iriam conviver nessa realidade que se prolongava até não poder começar alguns projetos de médio a longo prazo sem saber se todo o dinheiro tinha que estar nesse custeio da pandemia. Graças a Deus, a gente conseguiu passar por essa fase.

Conseguimos de fato investir naquilo que a gente precisava, (com Bruno Reis) sendo o prefeito da Educação, que foi esse o mote. Vamos entregar 54 escolas ao final deste ano em 48 meses de governo. Vamos tirar do papel também o sonho de muitos anos de ter nossa maternidade, que vai ser a primeira maternidade e hospital da criança, porque vai ter esse perfil materno-infantil. Então, vai ter a maternidade com parto natural, unidade de cuidados convencionais e canguru, com UTI neonatal, UTI da mãe, mas também um hospital com uma ala para cirurgia de mulheres e crianças, e UPA pediátrica.

Houve uma certa especulação sobre a vaga de vice de Bruno Reis. O cargo foi cobiçado por vários partidos aliados. Já esperava continuar com a vaga e ser candidata à reeleição?

Eu sou uma pessoa que entrega a minha vida a Deus. Nunca fiz planejamento de carreira política. Comecei num cargo muito técnico, como diretora da educação, e fui tendo outras oportunidades, como secretária e chefe de gabinete do vice-prefeito. Foi estando mais próxima da cidade, principalmente, liderando a área social da cidade na pandemia, que eu comecei a perceber que essa voz, essa mulher, essa representatividade, que é importante. Não foi inicialmente uma percepção própria. Eu comecei a ouvir nas comunidades. As meninas diziam ‘você me representa’. Nunca na minha vida, eu imaginei que seria possível ocupar um cargo de secretária ou vice-prefeita de uma cidade e olha que eu fui candidata a vice-presidente (na chapa de Ciro Gomes em 2022) depois.

Então, eu não tinha esse planejamento, mas, na medida em que eu virei vice-prefeita, representando tantas mulheres, eu entendia que, se houvesse uma mudança (na chapa), tinha que ser discutida e negociada. Não poderia ser nada forçada. Entendia, respeitava meu grupo e sabia que isso seria construído, que a política se vive a cada momento e foquei no trabalho. Entendia que era justo (eu permanecer na chapa) pela história construída, mas entendia também e já tinha dito isso publicamente, que estaria ao lado de Bruno em qualquer condição. Um prefeito que é aprovado por 74%. Essa escolha não é de uma pessoa, é de um grupo político. Então, eu precisei ter humildade, ter resiliência, e confiar muito em Deus e nesse grupo que, no momento certo, haveria essa escolha e que seria de modo justo e respeitoso.

"Entendia que era justo (eu permanecer na chapa) pela história construída"

Ana Paula Matos
Vice-prefeita de Salvador 

Caso sejam reeleitos, qual será a prioridade de um segundo mandato?

Eu brinco com o prefeito que, se esse mandato foi da educação, que a gente possa também fazer o mandato da saúde. Eu até acho que já foi, com dois hospitais, com tantos equipamentos, mas acho que a nossa principal marca é a confiabilidade. É o respeito pelas políticas públicas estruturantes e, sobretudo, nesse olhar social muito profundo de novas matrizes econômicas, de compreender que só existe desenvolvimento econômico com social. Que a sustentabilidade é ambiental, mas também é social. É entender uma cidade que tem a perspectiva de médio e longo prazo, que exista mais equidade ainda.

Há críticas de adversários sobre a prefeitura não ter uma maternidade municipal. Com o projeto do novo hospital da criança de Salvador, as críticas serão diluídas?

As críticas dos adversários são naturais até porque é a perspectiva das narrativas, é natural. A gente só precisa, de modo justo, entender o que se tinha e o que você tem. Esse grupo político do qual eu faço parte está na gestão desde 2013, a gente está falando um pouquinho mais de uma década. A gente sai de 18 em cada 100 pessoas apenas com acesso à saúde básica para uma cidade com quase 70% que vai ter essa perspectiva. Então, quem estiver criticando avalie a seu próprio grupo, que, no passado, gerenciou essas pastas e que não fez essas entregas.

A situação hoje do sistema de saúde da Bahia ajuda ou atrapalha os atendimentos em Salvador?

O governo do estado tem um sistema específico de regulação, eu acho que não cabe a mim dizer se ajuda ou atrapalha, até porque eu busquei essa parceria o tempo inteiro com o governo do estado. Uma parceria técnica para que as pessoas fossem beneficiadas. Mas entendo que o estado tem um desafio que é aumentar a capilaridade de hospitais de médio e de alta complexidade e acesso a serviços em todo o estado, porque Salvador acaba sendo o coração e onde as pessoas procuram por questões de saúde.

"O estado tem um desafio que é aumentar a capilaridade de hospitais de médio e de alta complexidade e o acesso a serviços em todo o estado"

Ana Paula Matos
Vice-prefeita de Salvador 

A gente acaba tendo a nossa UPA como porta de entrada para esse serviço. Então, eu respeito aos técnicos do estado. Espero que se tenha melhorias no sistema. Entendo que pode ser melhorado assim como a gente melhorou os nossos processos, mas não cabe a mim dizer se ajuda ou atrapalha. Eu entendo que as pessoas precisam de uma regulação melhor, que passa não só pelo sistema, mas passa também por mais acesso, e a gente está dando a nossa contribuição. Quando o nosso grupo político chegou, só tinha uma UPA (em Salvador), hoje nós temos 18, entre UPAs e PAs.

Para continuar na disputa pela recondução nas eleições municipais, a senhora se afastou do cargo de secretária de Saúde. Como avalia a sua passagem pela pasta?

Foi uma gestão muito desafiadora porque foi logo depois da pandemia. Parabenizo a liderança do ex-secretário e meu amigo pessoal, Léo Prates. Fomos juntos com todo o governo da Bahia. Somos uma das capitais mais preservadas nessa pandemia, porque nunca colocamos política à frente das pessoas. É sempre cuidar do ser humano, mas foi uma visão e foi uma necessidade de se trabalhar a urgência e emergência, abrindo hospitais de campanha, garantindo a possibilidade da vida das pessoas e ao mesmo tempo a imunização. Então, a demanda era muito grande, de emergência, de colocar profissionais, de reorganizar as equipes, de fazer a estrutura física, mas sobretudo de reorganizar a logística a média a longo prazo. A gente avançou. Hoje temos uma parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde e com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). A gente tirou do papel a Escola de Saúde Pública, que era um sonho do nosso grupo. Nós reorganizamos o PA (Pronto Atendimento) Psiquiátrico, ampliamos as unidades de saúde da atenção primária, criamos a diretoria de atenção primária, de atenção especializada, lançamos o concurso público, colocamos também mais uma Upa na Ilha de Maré. Reorganizamos todas as áreas, e só foi possível por causa da equipe, coesa, dedicada, integrada.

Caso seja reeleita, a senhora será a mulher com mais tempo no Executivo de Salvador, como vice-prefeita. Qual a representação disto?

Não enxergo uma gestão pública ou um cargo público como um mérito pessoal. Entendo que é uma oportunidade que a gente recebe da vida, de Deus, e que pelo nosso trabalho a gente tem que fazer valer. Então, eu quero ser conhecida não só como a mulher que eventualmente ficou mais tempo nesse papel, mas como mulher (conhecida), pelo trabalho, pela escuta, pela humildade, pelo comprometimento, pela competência e que seja sempre lembrada pelo legado, por tudo que construiu de política pública, de integração, de entregas de equipamentos, mas, sobretudo, da confiabilidade que as pessoas precisam continuar a ter cada vez mais com os seus gestores.

Acredita em vitória no primeiro turno?

Acredito em trabalho, acredito em Deus. O prefeito tem uma visão da qual eu compartilho. Com a visão matemática e muito técnica, a gente avalia o cenário e percebe que tem um número menor de candidatos. Havendo o número menor de candidatos, acaba tendo uma tendência maior a uma decisão no primeiro turno. Óbvio que a gente vai buscar sempre focar na vitória pelo trabalho que a gente tem, pelo respeito às pessoas, porque a gente confia na cidade de Salvador. A gente imagina que esse povo que os deu a confiança continue dando, mas, para isso cabe, a gente continuar sereno, humilde, tranquilo, trabalhando para que no momento oportuno haja julgamento que não é do prefeito, não é da vice-prefeita, é de toda uma gestão, é de todo um governo, que tem feito as entregas.

O principal adversário será o vice-governador Geraldo Júnior, do MDB. Como vê o movimento que ele fez de trocar de grupo político?

Eu foco muito na minha trajetória, na trajetória do meu grupo. Eu foco muito no melhor que cada pessoa tem a dar. Então, que cada um avalie se concorda ou não com essa trajetória, com esse posicionamento dele. Quando ele foi o nosso colega, ele sempre teve elogio, sempre foi um bom colega. Então, eu deixo a decisão dele para ele, a consciência dele para o grupo político dele. O meu foco é no meu grupo, no meu trabalho, na lealdade ao prefeito e a cidade de Salvador.

"Se Deus me der oportunidade de um dia, no dia que a cidade escolher de ter uma prefeita, obviamente que farei com muito amor, mas não é um sonho da minha vida"

Ana Paula Matos
Vice-prefeita de Salvador

⁠A senhora sonha um dia ser prefeita de Salvador?

Nunca fiz planejamento de carreira política partidária. Não tinha nem filiação. Eu sonho em servir a minha cidade, servir o meu povo, em dar o meu melhor naquilo que eu puder. É da minha história de vida, desde sete anos de idade, com meu pai médico e minha mãe pedagoga, eu já servia. Eu tenho uma família que é muito unida. Então, tive a oportunidade de estudar em bons colégios onde minha mãe era professora. Tive oportunidade de passar em concurso público, em servir. Então, eu vou servir em qualquer hipótese. Se Deus me der oportunidade de um dia, no dia que a cidade escolher de ter uma prefeita, obviamente que farei com muito amor, mas não é um sonho da minha vida. O sonho da minha vida é servir.

Ana Paula Matos é a atual vice-prefeita de Salvador. Já foi secretária de Saúde da capital baiana e também comandou a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza

*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva